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Miro Palma
Publicado em 20 de setembro de 2017 às 13:12
- Atualizado há 2 anos
Existem três pontos que considero importantes serem analisados em meio à polêmica da mão de Deus corintiana que garantiu a vitória por 1x0 sobre o Vasco, pela 24ª rodada do Brasileirão. O primeiro é a atitude de Jô. Ele errou. Fato. Em uma entrevista coletiva concedida ontem, após desembarcar em Buenos Aires, na Argentina, onde o time enfrentará o Racing pela Copa Sul-Americana, o atleta disse que não teve a intenção de colocar a mão na bola e que não tinha convicção de onde ela tinha batido antes de entrar no gol, por isso não avisou ao árbitro.
Acredito que ele não tenha utilizado o braço propositalmente. As imagens demonstram que ele realmente se jogou para fazer o gol. Mas quanto à convicção, eu já discordo. Porque essas mesmas imagens também revelam um diálogo entre Jô e Ramon do Vasco que, com a mão na boca para impedir a leitura labial, fez um comentário e o corintiano respondeu simulando sua jogada e batendo no peito em sinal de que teria sido assim que encostou na bola. Se ele não estivesse convicto, não poderia afirmar que o gol tinha sido dessa forma. Com o questionamento da legalidade do gol feito em seguida pelos repórteres de campo, Jô preferiu não repetir esse argumento.
Então, a impressão que tirei disso tudo é que ele provavelmente não tinha mesmo convicção de como a bola entrou. Isso é normal em jogo onde a adrenalina anestesia partes do corpo. Mas, além de tentar convencer outro jogador de que o gol era legal, não fez nenhum esforço para esclarecer a jogada. Aí você pode me perguntar: que jogador, em meio a um empate, assumiria um erro ao fazer um gol duvidoso? Isso não importa. Não podemos justificar um erro através de uma cultura que incentiva a malícia. É essa cultura ruim, reflexo de uma sociedade falha da qual o futebol brasileiro faz parte, que uma atitude contrária da que Jô teve durante o jogo ajudaria a combater.
E o próprio Jô sabe disso. Em abril deste ano, quando Rodrigo Caio avisou ao árbitro que tinha sido ele quem pisou no goleiro do São Paulo, em vez de Jô, o que revogou um cartão amarelo que o suspenderia da segunda partida da semifinal do Campeonato Paulista, o corintiano elogiou a atitude do rival e disse que “o esporte começa por essas boas ações”. E, um mês antes, depois do colega Gabriel ser expulso erroneamente em uma partida diante do Palmeiras, onde a falta tinha sido cometida por Maycon, ele ainda afirmou durante entrevista ao programa Bem Amigos, do Sportv: “Se o jogador tiver mais sinceridade, diminui o índice de erros dos árbitros”.
Jô sabia o que tinha que fazer. Mas não fez e esse foi o seu erro. Não é correto minimizar esse erro com as falhas da nossa cultura. Se não mudarmos agora em cada instância do nosso cotidiano, nunca evoluiremos enquanto sociedade. Porém, também não é correto crucificá-lo por isso e esse é o segundo ponto que quero analisar aqui. Ele cometeu um erro, mas não merece ser achincalhado como foi nas redes sociais, ter sua índole questionada e sua carreira colocada à prova. Jô, assim como todos nós, está sujeito ao deslize. Mas também ao arrependimento e ao aprendizado.
O último ponto que destaco foi a decisão da CBF após a polêmica de que, a partir da próxima rodada, a Série A terá o árbitro de vídeo. Esse é um recurso que eu venho defendendo há algum tempo, mas será que essa é a melhor hora para ser iniciado? Acho que não. Foram disputadas 24 rodadas e com diversos erros de arbitragem. Isso só vai tornar ainda mais injustas as falhas anteriores. O correto seria esperar 2018.
Miro Palma é subeditor de Esporte e escreve às quartas-feiras.