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Muito dinheiro, pouca reputação

Ganhar dinheiro com eventos especiais é legítimo. Mas não pode custar a confiança do visitante

Publicado em 26 de agosto de 2025 às 12:26

A capital paraense, Belém, sediará a COP30 em novembro
A capital paraense, Belém, sediará a COP30 em novembro Crédito: Fabiola Sinimbú/ Agência Brasil

Se um grande encontro mundial fosse acontecer na minha cidade, eu sairia de casa. Literalmente. Alugaria meu imóvel por alguns dias e, de quebra, talvez até oferecesse carona aos turistas até o local. Isso não é exagero — é o retrato realista do que boa parte das pessoas faria diante da perspectiva de uma oportunidade econômica. E convenhamos: você também, muito provavelmente, faria o mesmo. Afinal, os bilhões de reais em circulação durante eventos como a COP30, que acontecerá em Belém do Pará em 2025, são uma tentação legítima.

Mas essa corrida por lucros rápidos traz um efeito colateral perigoso: a destruição silenciosa da reputação de um destino.

Eventos especiais no setor de turismo — como conferências internacionais, festivais ou grandes encontros esportivos — de fato transformam, temporariamente, o mercado local. É quando o setor hoteleiro, o aluguel por temporada, os aplicativos de transporte, os bares, os restaurantes e até quem nunca se viu como prestador de serviço turístico tentam maximizar ganhos. Só que existe uma linha tênue entre aproveitar o momento e ultrapassar o limite da percepção de valor.

Quando o preço salta para além do razoável — inflado por uma lógica oportunista e desconectada da qualidade da entrega — quem paga a conta não é só o turista. Quem perde, no médio e longo prazo, é a imagem do destino. Em outras palavras: o preço você até consegue corrigir no curto prazo; já a reputação leva muito mais tempo para se reconstruir.

É o que já está acontecendo em Belém, mesmo antes de a COP30 começar. Denúncias de superfaturamento em diárias de hotéis, imóveis anunciados por valores irreais e um mercado que parece esquecer que, depois da festa, vem a ressaca. E, no turismo, a ressaca é o rótulo de cidade hostil, cara demais, desorganizada — um rótulo que se espalha mais rápido do que qualquer campanha institucional consegue conter.

Do ponto de vista do gerenciamento de receita — minha área de atuação — isso é um erro clássico. Porque preço não é chute no escuro nem tiro de sorte. É uma construção baseada em dados, contexto, estratégia e, principalmente, sustentabilidade de marca. Não adianta espremer a margem agora se, na próxima temporada, você não tiver hóspedes dispostos a voltar. E eles não voltam. Turismo é memória afetiva, boca a boca, rede social. E má reputação viraliza.

Belém tem uma oportunidade rara de mostrar ao mundo o melhor da Amazônia, de sua cultura, biodiversidade e povo. Mas, para isso, é preciso que o setor se enxergue como parte de uma engrenagem que vai muito além da lógica do lucro imediato. É hora de profissionalizar a gestão de preços, envolver órgãos do setor de turismo e hotelaria, além de técnicos e especialistas que entendam o impacto de cada decisão no mercado. É pensar em legado, criar experiências memoráveis sem se tornar uma caricatura de si mesma. Ganhar dinheiro com eventos especiais é legítimo. Mas não pode custar a confiança do visitante.

Quem trabalha com hospitalidade não vende apenas um quarto ou uma refeição. Vende confiança, acolhimento e valor percebido. E isso não pode ser perdido por causa de um evento que dura só alguns dias.

Chris Penna é fundador e CEO da Bebook, startup de inteligência artificial especializada em gerenciamento de receita para o setor hoteleiro.