Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Da Redação
Publicado em 1 de março de 2013 às 06:24
- Atualizado há 2 anos
Não é todo mundo que consegue andar de nariz empinado, a arrogância requer técnica e um jeito característico. Deveras não entendo certos pavões exibindo uma plumagem que não condiz com o seu tipo, ou melhor, tipinho, para ficar mais claro. Entendo o nariz empinado como uma arte; requer uma sintonia de todo o corpo, um manhoso equilíbrio. O corpo do metido a besta, da cabeça aos pés, tem que falar a mesma linguagem da petulância, para ser convincente. Senão fica um arremedo de gente “importante” e as suas ações e atitudes parecem muito mais um capricho adolescente do que insegurança mesmo.Nariz empinado nas mulheres, por exemplo, não dialoga bem com uma bunda murcha. Mulher que empina o nariz e faz biquinho de nojo, olha por cima dos óculos e pisa forte marretando o chão com o salto, tem que ter no mínimo uma bunda também empinada que lhe sustente a empáfia se é que estão me entendendo, o tal diálogo de corpo a que fiz referência. Já nos homens, nariz empinado não combina definitivamente com aquelas barrigas de ponta, desafiando as leis da gravidade; a pança puxa para baixo os ombros empostados que o nariz para cima do sujeito, reclama, como seu par harmonioso, para ser efetivamente antipático.Nariz empinado requer uma competente coreografia de corpo e se o corpo carece dos atributos adequados à presunção, há um descompasso nos movimentos e é isso que me incomoda na rua quando me deparo com este pavão, ou aquela perua, e eles insistem em andar assim desajeitados. Tenho vontade de gritar “ande certo” e depois, “por gentileza, faça-me um favor, vai à porra”. É que coreografia de corpo para manter a soberba em alta é como aquela roupa que escolhemos na loja, tem que vestir bem e ser confortável e ainda ter uma aparência que não destoe de nossa personalidade.Todo mundo sabe que minissaia não combina com pernas feias, ou muito grossas; topper com barriga, e roupa de cores claras com muito volume de corpo. Quem levanta o nariz deveria saber que a altivez é também uma roupa que se põe e tira e se precisa exibir arrogância não basta empinar o nariz e falar em três tempos se é refinado, ou curto e grosso com um palavrão, se já perdeu a noção de educação, mas fazer parecer essa sua superioridade também na forma como anda, ou marcha.Arrogância em tudo: no sorriso de canto de lábio, no bico de nojo combinado com aquele olhar desprezível, prendendo a respiração. E na hora de lavar as mãos no banheiro do restaurante, esfregar as palmas num sentido só e pedir o prato ao garçom de pescoço duro e segurando o cardápio com as duas mãos. E nariz empinado que se preze paga a conta jogando o cartão de crédito na mesa como quem joga a carta de pôquer. E na saída tesa a cabeça e economiza palavras, quando o porteiro agradece e fala o “volte logo” de praxe. E entrega o tíquete do guardador de carros segurando-o com a pontinha dos dedos e ar de desprezo e essa é a hora de não se descuidar e deixar cair os ombros, levante firme, assim o nariz tem uma melhor referência de perspectiva.Não é qualquer um que pode ser boçal só porque tem necessidade, ou quer, ou porque não sabe ter um convívio social sem ser melhor que os outros, supostamente superior; não basta empostar a voz e empinar o nariz, isso é óbvio, simples, falta de umas boas palmadas na infância, sé é urbano, ou de uma surra de cansanção, se nasceu no interior. Difícil mesmo é ser o porretão, sem que a ginga do corpo lhe acompanhe a soberba, lhe defina os traços de antipatia característicos, lhe garanta que você não é o merda que os outros pensam que você é e comentam isso pelas suas costas. E que somente você sabe, mas não conta para ninguém, que eles têm toda a razão.>