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A incrível máquina de escrever nas redações

É desconcertante imaginar que a tecnologia da máquina de escrever tenha demorado tanto a ser assimilada pelos jornais

  • Foto do(a) author(a) Nelson Cadena
  • Nelson Cadena

Publicado em 26 de outubro de 2023 às 05:00

Em fevereiro de 1912, o Jornal do Brasil adquiriu três máquinas de escrever, o primeiro passo para substituir as canetas bico de pena, processo esse concluído muitos anos depois, diante das reações de veteranos jornalistas que não renunciavam ao hábito de escrever à mão.

Alguns daqueles senhores conheciam o equipamento, disponível na Casa Pratt e outras lojas especializadas, há mais de uma década, naquele tempo usado apenas nas repartições públicas, escritórios de advocacia e, a julgar pelos apelos de venda dos anúncios publicados em jornais e revistas, também em alguns lares. Os reclames insistiam na praticidade de se escrever cartas numa máquina das marcas Royal ou Remington. Mas, o uso de “incômodos" aparelhos de ferro nas redações não era cogitado.

É desconcertante imaginar que a tecnologia da máquina de escrever tenha demorado tanto a ser assimilada pelas redações, considerando que o seu uso efetivamente foi popularizado no final da década de 1920. Afinal, o invento estava disponível no país desde a última década do século XIX e o teclado “infernal, que assustava os jornalistas com a sua incompreensível combinação de letras, já era realidade nas oficinas desde a introdução da linotipo.

Ou seja, durante muitos anos não houve a correlação de tecnologias que seria recomendável para agilizar os processos de pré-impressão. O jornalista escrevia à mão e o linotipista, que, muitas vezes, era obrigado a interpretar garranchos, fazia a digitação mecânica. Redatores mais experientes sentavam-se ao lado do linotipista e ditavam o seu texto de cabeça; as correções eram feitas, ali mesmo, na hora.

Mas o que apavorava aquela geração era efetivamente o teclado, o tal sistema QWERT (repare a sequência no teclado de seu computador), inventado por um sujeito com esse nome (funcionário da Remington) e a outra série embaixo, ASDFG, supostamente as letras, então, mais usadas no idioma inglês. O fato é que enfiaram o QWERT na gente de tal jeito que o teclado do computador (criado um século após o original) e do smartphone não teve como fugir da regra e ainda hoje utiliza o sistema.

Para os jornalistas, o computador por algum tempo continuou a ser uma máquina de escrever, mais evoluída e com o mágico recurso da correção de texto. As redações tornaram-se mais silenciosas e ficaram mais limpas, sem o característico amontoado de papel amassado no chão e nas lixeiras.

Desta vez a transição que foi tão ruidosa quanto a provocada pelos teclados de ferro, em idos remotos, se deu em tempo recorde. E as máquinas de escrever deixaram as redações para se perpetuarem nas vitrines dos museus, ou nos álbuns de fotografias, lado a lado com outras tecnologias aposentadas: o disquete, por exemplo, que já saiu de cena, dentre outras. Você ainda lembra dele?

Nelson Cadena é publicitário e jornalista, escreve às quintas-feiras