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Nelson Cadena: a Bahia do coco e da pimenta

  • D
  • Da Redação

Publicado em 11 de abril de 2014 às 03:26

 - Atualizado há 2 anos

 Lá pelos idos de 1940, em plena guerra mundial, os franceses surpreenderam os brasileiros com a revelação de que nossos silvícolas, os Tupinambás que Pedro Alvarez Cabral encontrou nas costas da Bahia, teriam sido os precursores do Iperite; você deve estar curioso para saber o que é esse troço. Pois bem, Iperite era uma arma química fatal usada por vários países durante o conflito, que provocava efeitos devastadores sobre a pele do inimigo e, quando inalado, a morte por asfixia. Melhor conhecido como gás mostarda. E o que têm os nossos antepassados a ver com isso? Digamos que se tratava de um devaneio dos franceses, naquele tempo muito preocupados em encontrar um discurso acadêmico para os efeitos das armas químicas.Pensando bem, não estavam totalmente errados aqueles que seriam os nossos aliados de guerra. É que, com a irritação causada pelo gás, a mídia identificava na ardência da pele e dos olhos um efeito semelhante ao da nossa popular pimenta. Então, digamos que os Tupinambás foram precursores, sim, do gás de pimenta, hoje tão em evidência nas ruas brasileiras desde as manifestações da Copa das Confederações. Para colocar as coisas no seu devido lugar, o Exército distingue um e outro gás na sua longa lista de produtos controlados. Iperite ou Iperita é sulfeto de diclorodietila e gás de pimenta é olioresim capsicum.Ocorre que os nossos indígenas em tempos de guerra, que nas aldeias era todo tempo, inibiam os inimigos com ataques-surpresa de gás do popular tempero. Um processo simples, tão devastador quanto o dos exércitos: preparavam uma grande fogueira, estudavam a direção do vento e, na hora certa, na proximidade dos invasores, jogavam ao fogo abundância de frutos e sementes de diversas variedades de pimenta. A fumaça era o gás que botava para correr qualquer um, não há olhos que resistam.Mas se o gás de pimenta é ancestralidade nossa sem patente, o coco da Bahia também tornou-se instrumento de guerra durante o conflito referido. Foi o que contou o jornal O Estado da Bahia em reportagem de primeira página com o título: “O coco da Bahia no fabrico de máscara contra gases”. A matéria destacava: “Uma surpresa de feitio guerreiro põe em foco o nome do Brasil no estrangeiro. Pois não é que o coco da Bahia está sendo na guerra atual largamente utilizado pelos beligerantes... Não se vai pensar que seja como alimento ou preciosa bebida... O fruto da graciosa palmeira que margeia todo nosso litoral é aproveitado na fabricação de máscaras contra gases”.  Prossegue o noticiário: “Na informação que obtivemos constava somente que a casca do coco da Bahia carbonizada e quimicamente granulada produz um carvão absorvente utilizado nas máscaras contra gases mortíferos”.  O repórter ouviu sobre o assunto um oficial de alta patente que, em parte, confirmou as informações, o capitão Euclides Monteiro da Silva Braga. Nesse caso, se a informação de fato era consistente, a nossa contribuição para a II Guerra Mundial não foi apenas formar nas fileiras dos aliados com pracinhas da terra alistados a partir de 1944, mas também com matéria-prima, ora para a fabricação do gás de pimenta, ora para a da máscara protetora.Naquele tempo, ambos eram instrumentos de guerra de relativa utilidade, depois caíram em desuso, tornaram-se ferramentas de uso exclusivo das Polícias Militares em situações de controle e repressão a manifestações de rua. E enquanto a Bahia contribuía com coco e pimenta e pracinhas do voluntariado, os baianos amargavam os dissabores do racionamento. Faltava gasolina, faltava leite, faltava carne, faltava açúcar e até faltava luz nos tempos do blecaute imposto aos moradores da orla; nem uma fresta de luz poderia vir das casas por ordem do governo federal, na paranoia de um eventual bombardeio noturno dos submarinos alemães. Faltava bom juízo também aos governantes. Sugeriram até cancelar o Carnaval. Pisaram no calo errado. Racionamento e paranoia dava para segurar a barra, mas deixar de  participar do bloco ou cordão, aí não! O governo recuou e o povo foi às ruas e aos clubes, como sempre, para se esbaldar com as marchas e os sambas de época e a cara limpa, sem máscaras, para não contrariar as “recomendações” da polícia.