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Nelson Cadena: xingando com ‘amor’

  • D
  • Da Redação

Publicado em 12 de fevereiro de 2016 às 04:25

 - Atualizado há 2 anos

O baiano é o único ser do planeta que xinga os outros com palavras “doces”, há algo de Gregório de Mattos nessa atitude que não me atrevo a sondar, nem nas incursões sorrateiras da alma, muito menos munido da razão. O fato é que o baiano xinga, ofende, maltrata você com duas ou três palavras “doces”, mas carregadas daquele azedo, veneno que o inconsciente coletivo já se encarregou de enraizar.O baiano quer lhe ofender e lhe chama de “meu amor”, “meu bem”, “meu lindo”. Se não é um adjetivo, é aquela pergunta ferina: “entendeu, querido”? E dêsse por satisfeito que se for “queridinho”, e a depender da entonação, com ênfase no último i, é para lhe esculachar mesmo. Você já deve ter vivido situações do gênero, agravantes, com pessoas desconhecidas, mas também com amigos e até com familiares nos seus momentos de estresse.Aquele dia em que você marca um encontro, avisa que está chegando, se atrasa um pouco por causa do trânsito e é recebido com duas pedras na mão e aquela entonação. “Estava chegando, né meu amor?”. Claro que você entendeu que a pessoa queria dizer mesmo “né seu FDP”, mas releve, poderia ter sido pior.E aquela hora em que você pede um acarajé com camarão, desiste e pede sem, esqueceu-se de pedir com pimenta e muda de ideia e a baiana lhe encara olho no olho e lá vai a bomba: “Decida o que você quer, meu bem”.  Nessa hora, melhor não falar mais nada, o “meu bem” dela, depois de uma pausa, foi curto e longo, mas significava muito mais, traduzindo: “resolva logo seu idiota que não vou ficar aqui a tarde toda esperando”.E no dia em que você decide comprar uma camisa, vai na loja, experimenta uma e outra e pede mais uma para ver se combina melhor com a calça; não deu certo e pede um modelo diferente e a vendedora, já com a paciência no limite de Jó, traz logo meia dúzia, joga em cima da mesa e dispara: “Está bom assim, meu lindo?”. Uma pergunta que, traduzida, significa “Chega! Não vou trazer mais”. E quanto ao “meu lindo”, você já pode imaginar o que ela quis lhe dizer de fato.Pior é o xingamento em nome da fé. Aquele em que o cidadão lhe explica as razões pela qual você deve seguir a sua doutrina e lhe revela nos mínimos detalhes a transformação que terá na sua vida se você aderir, aqui e agora, a Jesus e lhe mostra o verdadeiro caminho da salvação e outras tantas alvíssaras... E quando você diz que “não, muito obrigado, não tenho interesse agora”, o cidadão lhe encara olho no olho e, contrariado pela recusa e espumando de raiva, quase mordendo os lábios, lhe enfia a bíblia na cara com um sonoro “Jesus te ama”.  Não é preciso ser um bom tradutor para entender o que ele quis lhe dizer: “Vá para o inferno seu filho de uma égua”.   E tem aquele xingamento mais formal e educado, o famoso “Oh querida, me faça um favor” que precede uma advertência, e aquele outro “meu amor, olhe bem”. O “meu amor” seguido de uma pausa antes da frase complementar é um aviso para você baixar a guarda porque o sujeito não está nem um pouquinho a fim de aturar sua conversa. Xingamentos com palavras doces são implacáveis, mas muito pior quando tem um diminutivo no meio. Se rolar um sujeitinho ou sujeitinha; queridinho ou queridinha... e se for aquele “Oh florzinha, não entendeu direito? ”, melhor sair de baixo e para se benzer antes que a situação se complique e você receba pela cara um sonoro: “Mulherzinha”. E se você for homem o terrível: “Entendeu, fofinho”?