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O sesquicentenário do Elevador Lacerda

‘Foi tal a concorrência de pessoas que desejavam subir e descer, que uma grande parte retirou-se sem ter conseguido’

  • Foto do(a) author(a) Nelson Cadena
  • Nelson Cadena

Publicado em 7 de dezembro de 2023 às 05:00

Com meia hora de atraso o governador Antônio Cândido da Cruz Machado, natural de Minas Gerais, empossado fazia 28 dias apenas, inaugurou em 08 de dezembro de 1873, o hoje sesquicentenário Elevador Lacerda. O Dr. Machado deve ter estranhado, recém-chegado à cidade - antes tinha governado as províncias de Goiás e Maranhão -, a dupla nomenclatura do equipamento, que o governo e a firma Lacerda & Cia, insistiam em chamar de Hidráulico da Conceição e o povo de Parafuso. Baiano que se respeita, antes e hoje, dá seu jeito de rotular com olhar malicioso, as grandes e transformadoras obras da cidade. E imprensa que se respeita, ou não, igualmente, dá um jeito, antes e hoje, de criticar todo empreendimento urbano progressista e renovador.

Às 10h30 da manhã, com a chegada do chefe do executivo, procedeu-se à solenidade de inauguração, e os dois mil convidados, naquela segunda-feira ensolarada, fizeram longas filas para descer até a Praça Cairu. O Parafuso possuía apenas duas cabines, capacidade de 20 passageiros e o tempo de descida era oficialmente de 45”, segundo os jornais. Apertadinho, ambas comportavam 40 passageiros. Se eu aprendi a fazer contas e se os jornais não exageraram, e considerando 90/120 segundos, ida e volta, e mais vinte para a entrada e acomodação nas cabines, os dois mil convidados demorariam em torno de duas horas. O jornal A República, do Rio de Janeiro, destacou, acerca da multidão convidada: “Foi tal a concorrência de pessoas que desejavam subir e descer, que uma grande parte retirou-se sem o ter conseguido”.

No entorno, milhares de populares circulavam na Cidade Baixa e suas ladeiras, após assistir a solene missa da Conceição da Praia, no dia de festa da padroeira e, como de praxe, naqueles idos, as casas no percurso exibiam nas suas sacadas e janelas colchas de seda e outros enfeites. No horário da tarde, e noite adentro, com ingresso pago, desceram e subiram 4.778 pessoas, gerando uma renda de 477.800 Reis, que o Lacerda doou integralmente para o Asilo dos Expostos, obra de caridade da Santa Casa de Misericórdia. O Comendador Lacerda era homem muito rico, chegou a possuir 126 imóveis em Salvador, Cachoeira, Lençóis, Aracaju... e um generoso benfeitor com grande aporte de recursos para a Santa Casa.

O Elevador foi um empreendimento transformador em Salvador. Criou o conceito de mobilidade, brilhante ideia de seu idealizador, fazendo a integração com as linhas de bondes, ambas com ponto de embarque e desembarque, nas praças Municipal e Cairu. E estimulou o poder público a implementar uma grande reforma da então denominada Praça do Palácio, calçada a paralelepípedos e com a construção de gradil de ferro inglês ladeando o acesso ao Elevador, destacando-se o conjunto de 19 estátuas de mármore branco, vindas da Itália, e candelabros de iluminação. Seis delas compõem hoje o acervo do Museu de Arte da Bahia, na Vitória. As outras, dizem as más línguas, ferinas ou não, os “donos” levaram para a casa, ornando palacetes de baianos ilustres e outros nem tanto.

Seis décadas transcorridas (1930) o Elevador ganhava uma segunda torre com duas cabines adicionais, operadas pela Otis Company, espaço para 27 passageiros cada e tempo de descida, ou subida, de apenas 17 segundos. Desta vez, na inauguração, franqueado o acesso, sem ônus para o público, teriam usufruído do serviço 17 mil pessoas, a partir das 20h, até a meia-noite. Ao longo de sua história, o Elevador consolidou-se como um cartão-postal, único no seu gênero, de uma metrópole brasileira. E ainda essencial para o transeunte deslocar-se da Cidade Alta para a Cidade Baixa e vice-versa.

Nelson Cadena é publicitário e jornalista, escreve às quintas-feiras