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Nelson Cadena
Publicado em 2 de novembro de 2023 às 05:00
Nas eleições de 1878, estreava como candidato do partido liberal Ruy Barbosa, um dos quadros em quem apostava a sigla para eleger uma bancada expressiva na casa legislativa. Ruy já era o principal redator do Diário da Bahia, escrevia artigos de opinião, considerado um bom e promissor advogado, porém ignorado pelo eleitorado que era de elite, mas já tinha suas escolhas consolidadas. >
No pleito do ano referido, o partido liberal elegeu 18 deputados, e os conservadores, 24. Se não fosse a impugnação de algumas candidaturas, Ruy nem teria sido eleito. A imprensa conservadora creditou a presença de Ruy na chapa a uma estratégia de Manuel Pinto Dantas, seu padrinho político. Ruy eleito para a Assembleia inviabilizaria a sua intenção de ser nomeado diretor da Instrução Pública, cargo também pleiteado por Rodolfo, filho de Dantas.>
Foi um candidato pouco votado. Os jornais noticiaram 907 sufrágios com o seu nome, quase metade dos votos de Cézar Zama, a grande estrela de seu partido, que contabilizou 1780 votos, ainda faltando apurar zonas rurais pouco expressivas. Na listagem geral, Ruy foi o 47º. Matematicamente estaria fora, eram 42 vagas, mas nas recontagens, eliminação de duplicatas, anulação de colégios eleitorais, novas eleições em separado e impugnações, conseguiu se eleger e tomar posse, mesmo com a ameaça de impugnação de sua cadeira por parte dos conservadores, logo em seguida.>
Eleita a primeira mesa diretora da Assembleia Provincial, ainda em caráter provisório, enquanto uma comissão avaliava a impugnação, ou não, dos eleitos, Cézar Zama na condição de mais votado, conforme o regimento, assumiu a presidência, enquanto ainda na letra regimental, Ruy Barbosa e Monção Filho assumiram as secretarias, na condição de deputados mais moços. O segundo, em nome de Pedro Muniz Barreto de Aragão, protocolou pedido contra a diplomação de seu colega secretário, na mesa diretora, Ruy.>
Submetidas as impugnações à comissão verificadora, processo conturbado por um certo voto de minerva do presidente da Casa, esta concluiu no caso de Alexandre Herculano Ladislau e Ruy Barbosa, que “se referem a fatos dependentes de alta indagação, acham-se de mais a mais desacompanhadas de todo e qualquer documento e não podem assim contrariar a apuração conhecida e feita de acordo com as atas dos colégios eleitorais”.>
Diplomados os deputados, o calouro Ruy Barbosa, de pouca densidade eleitoral dentro de seu partido (César Zama, Jerônimo Sodré Pereira, Manoel Caetano Passos, Francisco de Souza Paraíso eram as lideranças mais expressivas), teve melhor reconhecimento de suas competências, eleito pelos seus pares para a mais importante comissão permanente da Casa, a Comissão de Fazenda. Que ficou constituída por Araújo Pinho, Ruy e Carneiro da Rocha.>
A estreia de Ruy nas urnas lhe rendeu poucos votos fora de Salvador. Valença, Alagoinhas, Inhambupe, São Francisco e Caravelas foram alguns dos municípios que lhe aportaram mais células com o seu nome. Na capital, uma de suas melhores performances foi no colégio eleitoral de Santo Antônio da Barra, onde foram apurados 52 votos a seu favor. O grande vitorioso deste pleito Aristides Cézar Zama, em 1880, assumiria a direção do Diário da Bahia, substituindo Ruy, e, na década seguinte, fundava o Pequeno Jornal, um dos mais importantes títulos da imprensa diária de Salvador, naquele final do século XIX.>
Nelson Cadena é publicitário e jornalista, escreve às quintas-feiras>