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Tri-eletrizante Carnaval

Os trios elétricos, na capital e interior, nasceram e evoluíram ao sol e à sombra de patrocinadores, inclusive do poder público

  • Foto do(a) author(a) Nelson Cadena
  • Nelson Cadena

Publicado em 23 de novembro de 2023 às 05:00

Quando Dodô e Osmar inventaram o trio elétrico, não imaginaram que a precária tecnologia por eles desenvolvida, ainda que revolucionária na medida em que amplificava o som, através do microfone adotado na guitarra e cornetas na fobica para expandir, não imaginaram que esse seu invento para sobreviver precisaria de patrocínio. Numa equação em que, à medida em que se aperfeiçoavam os recursos tecnológicos, aumentavam os custos. Os patrocinadores, primeiro de empresas privadas e depois do poder público, asseguraram o sucesso da genial invenção da dupla baiana. Na sua origem, o trio deles foi o único na história não patrocinado.

A Fratelli Vita foi a primeira empresa a enxergar a oportunidade, quando o trio elétrico deixou de ter o formato de Corso e evolui para uma Pick-Up, formato híbrido, e logo para um caminhão, com possibilidade de inserir mais cornetas amplificadoras e mais efeitos de luzes. A transportadora Atlas parece ter sido o segundo patrocinador dos trios elétricos. Tinha seu próprio caminhão, de grande porte para a época, uma foto de 1953 mostra vários músicos e figurantes na carroceria.

Depois vieram o Trio da Rádio América, patrocinado pela loja do pai de Mário Kertész, Jorge Kertész; da Transportadora Ipiranga; da Coca Cola; aguardente Jacaré; Rum Merino; Antarctica e do Trio Pilsen. Todos na primeira metade da década de 1950. Esses caminhões-trios, convencionais da Ford e da General Motors, se multiplicaram na capital e no interior. Caetano Veloso contou ter brincado atrás de um trio em Santo Amaro, por volta de 1954 e, em 1957, Dica e Kinande lançaram em Maragogipe o Trio Maragós que muitos anos depois (1980) puxaria o Camaleão, no seu segundo ano de desfile.

Os trios elétricos, na capital e interior, nasceram e evoluíram ao sol e à sombra de patrocinadores, inclusive do poder público. Prefeituras e governo viabilizavam a saída de alguns trios, que reconheciam como populares, porque atraíam foliões. O poder público, igualmente, discriminava. Em Salvador proibiu os trios de desfilar na Avenida, em 1958, jogando-os para a Carlos Gomes, para não atrapalhar o desfile dos grandes clubes e proibiu de novo em 1966 quando os trios já tinham a simpatia da imprensa, que os ignorou por mais de uma década, e empolgavam até a conservadora família baiana.

Enxergo alguns insights que marcaram a trajetória de sucesso do trio elétrico: a sua invenção numa fobica, em 1951, a data verdadeira, não a ajustada; a sua evolução tecnológica em caminhões com cornetas de igreja que amplificavam o som, ao longo da década de 1950; as experimentações de Orlando Campos na sua fantástica fábrica de trios, a partir de 1958; a transmissão do Carnaval de 1961 pela TV Itapoan e mais tarde a de 1965 que focou quase que exclusivamente nesse segmento; a incorporação do equipamento pelos blocos de Carnaval a partir da segunda metade da década de 1970; a transistorização dos trios a partir de 1981, com a novidade tecnológica incorporada pelo Traz os Montes e o patrocínio de grandes players que possibilitaram a contratação de cantores e bandas, estrelas da festa.

Jairo Simões e Renato Mendonça em 1965 levaram o nome do trio elétrico para os estúdios de gravação. No compacto, de um lado, a música “La Vai o Trio”, em ritmo de marcha, com seus versos “O trio remexe com a gente/E a onda vem afinal/Pois tudo isso é Bahia/Tudo é Carnaval”. Abriram uma janela para outros compositores, em ritmo de frevo baiano e mais tarde na pegada do Axé, exaltaram a excelência do Trio Elétrico e a sua mística sedutora e agregadora no Carnaval da Bahia.

Nelson Cadena é publicitário e jornalista, escreve às quintas-feiras