Acesse sua conta
Ainda não é assinante?
Ao continuar, você concorda com a nossa Política de Privacidade
ou
Entre com o Google
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Recuperar senha
Preencha o campo abaixo com seu email.

Já tem uma conta? Entre
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Dados não encontrados!
Você ainda não é nosso assinante!
Mas é facil resolver isso, clique abaixo e veja como fazer parte da comunidade Correio *
ASSINE

Verger no Carnaval da Bahia

Uma das exclusividades de Verger foi o Carnaval baiano, o seu olhar para entidades carnavalesas que não tinham presença midiática

  • Foto do(a) author(a) Nelson Cadena
  • Nelson Cadena

Publicado em 9 de novembro de 2023 às 05:00

Os baianos reconhecem o legado de Pierre Verger nas suas várias manifestações: na pesquisa antropológica, na sua valiosa e indispensável obra bibliográfica, incluindo o clássico “Fluxo e Refluxo”, e através de milhares de imagens, algumas exclusivas, iconografia que nenhum outro fotógrafo de sua geração registrou.

Uma dessas exclusividades de Verger é o Carnaval baiano, o seu olhar para entidades carnavalescas que não tinham a presença midiática, naquele tempo, década de 1950, pautada pelos quatro jornais diários (A Tarde, Diário de Notícias, Diário da Bahia e O Estado da Bahia) e as três emissoras de rádio (Sociedade, Excelsior e Cultura). A prioridade de pauta dos jornais eram os bailes dos clubes sociais, os de elite e com menor destaque os populares, as três clássicas sociedades carnavalescas, então em decadência (Cruz Vermelha, Fantoches e Inocentes no Progresso), as Escolas de Samba. E um e outro registro dos nascentes trios elétricos.

A pauta radiofônica era centrada nos gritos de bairro de Carnaval, os concursos e destaques do samba e das marchas carnavalescas, e mais tarde do frevo pernambucano, aculturado no Rio de Janeiro, antes da metamorfose para o frevo baiano, o que só viria ocorrer na década de 1960. E o desfile do Rei Momo, com as performances agregadas. Ninguém dava bola para os blocos afros e os afoxés, nem mesmo os Filhos de Gandhy. Ganha uma cerveja quem encontrar alguma foto do bloco nos jornais da época.

Verger focou nos entes excluídos pela mídia: batucadas, cordões, travestidos, afros e afoxés. Foi o único a registrar imagens dos Filhos do Congo e Filhos de Obá com seus estandartes, babalotins, o boneco símbolo dos afoxés, roupas de cetim, timbau e atabaques, sandálias de inspiração oriental e os preceitos do ritual de início do desfile, semelhantes aos praticados pelo Ilê Ayê, em tempos posteriores. Verger nos mostrou os saiotes das batucadas e cordões de negros, portando bandeiras, timbaus e pandeiros, com lindíssimos e extravagantes chapéus, quando não caprichados bonés.

Nenhum outro fotógrafo nos legou imagens da colorida Embaixada Mexicana e do animado bloco Vai Levando, que junto com os Filhos de Gandhy introduziram as cordas nos seus desfiles, segundo as fotos do etnólogo. Verger registrou o desfile do bloco A Hora é Essa, formado por negros com seus saiotes exuberantes, destacando o estandarte. Registrou ainda os Mercadores de Bagdá com suas magníficas alegorias (elefante, moringas, camelo, malas), confeccionadas por Nelson Maleiro), brincos na orelha, turbantes e figurino oriental com destaque para as multicoloridas roupas de cetim.

Do Gandhy nos legou alguns dos mais marcantes registros de imagem conhecidos, dois deles com uma forte carga simbólica: o bloco, no espaço da Igreja do Pilar, próximo do território dos estivadores, local de concentração dos primeiros desfiles, e o grupo pegando o bonde da história, imortalizado em capa de disco e como referência visual de milhares de registros das mídias impressa, eletrônica e digital.

Nelson Cadena é publicitário e jornalista, escreve às quintas-feiras