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O amplo impacto social e econômico dos avanços científicos relacionados à doença de Alzheimer

Demência não é doença de uma única pessoa, mas de um grupo familiar que se reorganiza em torno do cuidado.

Publicado em 15 de novembro de 2025 às 05:00

Estamos vivenciando uma transformação médico científica e suas consequências transcendem consultórios médicos. A doença de Alzheimer poderá ser diagnosticada muitos anos antes do início dos sintomas por meio de um simples exame de sangue. Em breve, estes exames estarão disponíveis no Brasil. Novos medicamentos demonstram capacidade de desacelerar a progressão da doença em até 36%. Os avanços no diagnóstico e tratamento não representam apenas conquistas médicas, mas terão amplo impacto social e econômico, o que motivou uma série de artigos publicados recentemente pela revista The Lancet.

Os números nos ajudam a compreender o cenário: 55 milhões de pessoas vivem com demência atualmente. Projeções indicam que este número irá triplicar até 2050. Diagnóstico precoce e tratamentos que prolongam a vida significam que milhões de pessoas permanecerão em fases produtivas por períodos substancialmente mais longos. Além das pessoas com diagnóstico, 69 milhões apresentam comprometimento cognitivo leve, estágio pré demência, com indicações para intervenções preventivas, treino cognitivo e uso precoce de medicamentos.

Os sistemas de saúde enfrentarão demandas sem precedentes. Os novos tratamentos exigem infraestrutura complexa: infusões regulares, múltiplas ressonâncias magnéticas, equipes multidisciplinares especializadas.

Países de alta renda já alcançaram redução na incidência de demência devido a melhores condições socioeconômicas e controle de fatores cardiovasculares, comprovando que a prevenção é viável. Porém, será nos países de renda média e baixa, incluindo Brasil, onde se concentrará o maior crescimento de casos.

O real impacto econômico é difícil de mensurar. Demência não é doença de uma única pessoa, mas de um grupo familiar que se reorganiza em torno do cuidado. Cuidadores, majoritariamente mulheres, experimentam estresse emocional e efeitos negativos sobre a saúde, relacionamentos, finanças e carreira profissional.

Essa nova realidade afetará também os ambientes corporativos. Colaboradores terão que equilibrar responsabilidades profissionais com o cuidado de familiares, outros conviverão com diagnósticos próprios durante anos de vida laboral ativa. Afastamentos serão mais frequentes e prolongados, as demandas por flexibilização de jornada e adaptação de funções aumentarão.

Políticas de apoio a cuidadores, programas de promoção de saúde cerebral e educação sobre envelhecimento saudável serão essenciais para a sustentabilidade organizacional.

A questão central não é mais se esse cenário irá se concretizar, mas quão preparados estaremos quando 101 milhões de pessoas vivendo com comprometimento cognitivo devido à doença de Alzheimer demandarem suporte integrado entre sistemas de saúde, neurorreabilitação, previdência e estruturas corporativas.

A doença de Alzheimer não é apenas uma questão médica, mas exige uma discussão sobre viabilidade econômica, gestão de pessoas, coesão social e planejamento estratégico de longo prazo. O desafio já começou. O Brasil está preparado?

Ivar Brandi é neurologista e palestrante e mestre em Medicina e Saúde

Tags:

Alzheimer Doença Demência