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Publicado em 13 de novembro de 2025 às 05:00
O ministro da Educação, Camilo Santana, justificou em entrevista concedida à BBC no dia 21 de outubro, a nomeação de sua esposa, Onélia Santana, para o cargo de conselheira do Tribunal de Contas do Ceará (TCE-CE), alegando que ela possui doutorado e vasta experiência técnica. A declaração, porém, soa incoerente diante da recente decisão do Ministério da Educação (MEC) de excluir os técnicos doutores da gratificação por “Reconhecimento de Saberes e Competências” (RSC), proposta pela Comissão Nacional de Supervisão do Plano de Carreira dos Cargos Técnico-Administrativos em Educação (CNS). >
A medida, aprovada neste semestre, prevê que técnicos com mestrado recebam remuneração equivalente à de doutores, sem incentivo adicional à continuidade da formação. Na prática o MEC desestimula a formação acadêmica e compromete a qualidade do serviço público ao penalizar ironicamente os mais titulados (que dispõe do mesmo título da esposa do Ministro). >
Além disso, aos excluir os doutores da gratificação haverá possivelmente evasão para outras áreas. A proposta encerra os trabalhos do Grupo de Trabalho (GT) iniciado pós-greve do ano passado que revisou a Lei nº 11.091/2005, e aguarda decisão final do Ministério da Gestão e Inovação (MGI) e depois do Congresso Nacional que agora discute uma reforma administrativa polêmica. >
Servidores do Coletivo de Técnicos Doutores criticam o “RSC seletivo”, por violar a isonomia ao adotar critérios subjetivos, como participação sindical e em comissões institucionais, bem como exercício de cargos de direção e funções gratificadas, e representar um retrocesso na valorização da educação formal. >
O resultado seria a ascensão de técnicos ao topo da carreira sem exigência de conclusão do doutorado em uma carreira de ciência e tecnologia comprometendo a equidade e a justiça nas relações de trabalho dentro do contexto educacional, excluindo os saberes dos servidores mais titulados.>
Além de enfraquecer o incentivo à formação, a decisão ocorre em um país que ainda apresenta baixos índices de doutores. Enquanto o Brasil possui cerca de 10 doutores por 100 mil habitantes, a média da OCDE é de 30. Para mestres, a diferença é ainda maior: 29 contra 300. Paradoxalmente, o MEC desestimula o avanço acadêmico num momento em que a expansão dos programas de pós-graduação poderia fortalecer o ensino e a gestão pública.>
Renato Luz é jornalista e doutorando em Sociologia>