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Carol Neves
Publicado em 12 de novembro de 2025 às 19:01
Em outubro de 2008, a vida de Eloá Cristina Pimentel acabou de forma trágica: aos 15 anos, ela foi mantida refém por cerca de cinco dias em um apartamento em Santo André (SP) e, após uma intervenção policial, foi baleada e teve morte cerebral confirmada em 18 de outubro. Em meio à dor da família, um gesto de solidariedade comoveu todo Brasil: logo após a constatação da morte encefálica, os pais decidiram doar os órgãos da adolescente. >
“Não tive dúvida. Quando os médicos vieram falar comigo, eu já estava decidida", disse na ocasião Ana Cristina Pimentel, mãe de Eloá.>
Exames feitos em Eloá confirmaram que múltiplos órgãos poderiam ser aproveitados: fígado, coração, pulmões, córneas, rins, pâncreas e até intestino. No final, foram doados sete órgãos para cinco pacientes que aguardavam nas filas de transplante.>
Lindemberg Alves matou Eloá Pimentel
Uma das beneficiárias foi Maria Augusta da Silva dos Anjos, de 39 anos, que recebeu o coração da jovem no dia 20 de outubro. “Agradeço à mãe de Eloá por ter permitido a doação dos órgãos da garota", disse, emocionada, ao G1. "Após o transplante, às 8h do dia 20 de outubro, data do meu aniversário... amanheci com o presente novo, com o coração novo".>
Para ela, o transplante significou um renascimento. “Eu descobri o que era viver aos 39 anos de idade. O transplante me salvou", refletiu. Com o coração de Eloá, Maria Augusta ainda viveu mais treze anos. Em 2021, durante a pandemia, ela faleceu vítima de complicações da covid‑19. “Para mim foi muito triste. … Augusta era como uma filha para mim também, pois ela carregava o coração de Eloá", lamentou Ana Cristina na época. "Ficamos sabendo e lamentamos o falecimento da Maria Augusta", disse Everaldo Pereira dos Santos, 56, pai de Eloá.>
Impacto>
A repercussão do caso ultrapassou o âmbito individual: no Estado de São Paulo, o número de transplantes mensais no mês que sucedeu a doação aumentou cerca de 30%. “Nunca registramos um impacto como esse”, afirmou o coordenador da Central de Transplantes.>
No Amazonas, o Banco de Olhos atribuiu o aumento nas doações de córneas à repercussão do gesto da família de Eloá.>
Relembre o crime >
O assassinato de Eloá ocorreu em outubro de 2008, em Santo André. Na época, Lindemberg tinha 22 anos e Eloá apenas 15. O criminoso manteve a jovem refém por cinco dias, enquanto realizava negociações com a polícia para sua soltura. A operação policial, considerada posteriormente como “mal-sucedida”, terminou com a morte da adolescente. Lindemberg só foi condenado quatro anos depois.>
Eloá e Lindemberg haviam iniciado o relacionamento quando a jovem tinha 12 anos. Nos dois anos seguintes, mantiveram um namoro instável. Um mês antes do crime, Lindemberg havia terminado o relacionamento, mas buscou reatar, enquanto Eloá decidia manter distância.>
No dia 13 de outubro, a adolescente voltou do colégio acompanhada dos amigos Iago, Nayara e Victor, que ficaram em sua casa para trabalhar em um projeto escolar. Enquanto os meninos mexiam no computador, as meninas preparavam o almoço. Foi nesse momento que Lindemberg invadiu a residência, armado, mantendo os quatro como reféns, mas liberando os garotos no mesmo dia. No dia seguinte, Nayara foi libertada, mas Eloá permaneceu em cárcere.>
Durante as negociações, Nayara chegou a retornar ao apartamento e presenciar a morte da amiga, sobrevivendo ao ataque. A polícia, em meio a cobertura intensa da mídia e presença de uma multidão na rua, apresentou um documento garantindo que o sequestrador não seria ferido se se entregasse, conforme exigência de seu advogado. No entanto, à noite, o Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) invadiu o local e deteve Lindemberg, que, antes, disparou contra Eloá e baleou Nayara.>
Eloá foi levada ao hospital viva, mas inconsciente. Cinco dias depois, em 18 de outubro de 2008, a morte cerebral da adolescente foi confirmada.>