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Carol Neves
Publicado em 12 de novembro de 2025 às 07:02
Quase duas décadas após o crime que paralisou o Brasil, Nayara Rodrigues da Silva, hoje com 32 anos, leva uma vida reservada. A jovem ficou marcada como sobrevivente do sequestro de Eloá Pimentel, ocorrido em outubro de 2008, em Santo André (SP), e que teve ampla cobertura da imprensa na época. Baleada pelo ex-namorado, Lindemberg Alves, Eloá morreu.>
Nayara evita a exposição pública e raramente concede entrevistas. Segundo informações divulgadas pela revista Máxima, ela se formou em engenharia e mantém uma rotina discreta, longe dos holofotes. Uma das poucas vezes em que falou abertamente sobre o que viveu foi logo após o crime, em entrevista ao programa Fantástico, da TV Globo.>
“Eu não tenho raiva. Eu só não perdoo ele pelo que ele fez com a Eloá, não por ele ter atirado em mim, mas por ele ter tirado a vida de uma pessoa maravilhosa. Eu tenho muito medo. Ele pode ficar 30 anos na cadeia; o que eu souber que ele vai sair, pode ter certeza que eu vou estar morrendo de medo”, disse Nayara na ocasião.>
Eloá e Nayara
Em 2018, a Justiça de São Paulo determinou que o governo estadual indenizasse Nayara em R$ 150 mil, reconhecendo falhas na condução da operação policial que terminou com a morte de Eloá. O processo apontou erros estratégicos na negociação e na invasão do apartamento. Na época do crime, Nayara chegou a ser libertada por Lindemberg, mas acabou voltando ao cárcere em uma das tentativas de negociação, o que foi considerado uma falha por analistas.>
Após ser baleada no rosto, Nayara passou por cirurgia no Centro Hospitalar de Santo André para a retirada da bala e reconstrução da região atingida. Segundo reportagens da época, o procedimento incluiu a reimplantação de um dente perdido e a colocação de aparelhos ortodônticos para sustentar a arcada afetada. Anos depois, em 2012, de acordo com o portal g1, Nayara ainda precisaria passar por uma cirurgia corretiva no maxilar, devido a sequelas deixadas pelo tiro, mas o procedimento teve de ser adiado por causa do julgamento de Lindemberg, sendo realizado depois.>
Distância>
Desde o crime, Nayara não manteve contato com a família de Eloá, segundo relatos da mãe da vítima, Ana Cristina Pimentel. Em entrevista há seis anos ao ‘Repórter Record Investigação’, Ana Cristina lamentou a ausência da jovem. “A Nayara nunca veio na minha casa e nunca me ligou. Nunca mais a vi. Só nos encontramos nos dias dos depoimentos e julgamento, mas foi muito rápido”, contou.>
Ela também relembrou a dor que carrega desde a perda da filha. “Todos os dias eu acordo achando que era um pesadelo e que vou encontrar a minha filha no quarto ao lado.”>
Apesar da tragédia, Ana Cristina tomou uma decisão solidária na época: doou os órgãos de Eloá, que beneficiaram ao menos cinco pessoas.>
Cunhada questionou>
Antes da estreia do documentário na Netflix, o episódio voltou a ser comentado nas redes sociais. Uma publicação da cunhada de Eloá, Cíntia Pimentel, reacendeu a discussão ao questionar a amizade entre as duas adolescentes.>
Tudo começou quando uma internauta comentou: “Eu tenho uma dúvida sobre aquela amiga dela, Nayara. Porque eram tão amigas e nunca mais se ouviu falar dela.” Cíntia respondeu: “A questão é: será que eram tão amigas?”.>
Ela explicou em outras mensagens. “Sem dúvidas, não consigo imaginar o que passaram lá dentro e o trauma que isso pode ter causado na vida de alguém. Mas imagina você perder sua filha e a então amiga dela nunca te procurar, nunca te enviar uma mensagem… Claro que cada um tem sua forma de lidar com perdas e traumas, mas do lado de cá também existe uma família que nunca mais estará completa.”>
O crime que parou o Brasil>
O caso aconteceu entre os dias 13 e 17 de outubro de 2008, quando Lindemberg Alves, então com 22 anos, invadiu o apartamento da ex-namorada Eloá Pimentel, de 15 anos, e manteve ela, Nayara e dois colegas de escola como reféns. O grupo estava reunido no local para fazer um trabalho escolar.>
Armado, Lindemberg liberou dois adolescentes, mas continuou mantendo Eloá e Nayara sob ameaça. Após dias de negociação transmitidos ao vivo pelas TVs, a polícia decidiu invadir o apartamento, mas a ação terminou em tragédia. Lindemberg atirou em Eloá e em Nayara.>
As duas foram levadas ao hospital, mas Eloá teve morte cerebral no dia seguinte. Nayara, baleada no rosto, sobreviveu. Em 2012, o agressor foi condenado a 39 anos de prisão e cumpre pena na Penitenciária Dr. José Augusto César Salgado (P2), em Tremembé (SP). Em regime semiaberto, ele tem direito a saidinhas temporárias e conseguiu uma redução de pena de 109 dias em função de trabalho carcerário e estudo realizados entre 2021-2024.>