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Oscar Valporto: Manhã de luz tricolor

  • D
  • Da Redação

Publicado em 16 de novembro de 2010 às 09:00

 - Atualizado há 2 anos

Eram quase quatro horas da manhã quando ele chegou no Rio Vermelho. Saíra de Pituaçu em ritmo de folia e acompanhara o trio elétrico tricolor de Patamares à sede de praia. Pegou uma carona até Amaralina e veio andando, sozinho pelas ruas desertas, saboreando o ar fresco da noite e aquela sensação de felicidade de ter visto o Bahia vencer e garantir seu lugar de volta na elite do futebol brasileiro.

Dava tempo de tomar mais uma no Mercado do Peixe, a primeira saideira de uma comemoração que não devia acabar. Ela estava lá, de vestido vermelho, como se viesse para uma festa pós-eleitoral do PT, mas as fitas tricolores amarradas nos pulsos e no cabelo entregavam o motivo daquela alegria, daquelas  piruetas de balé no meio da barulheira boêmia e dos gritos de “Bora Baêa, minha porra”.

Ele esfregou os olhos para ter certeza do que via e parou para admirar. Percebeu quando ela exagerou num passo e correu para ampará-la. “Não sei se balé combina com cerveja”, disse. “Eu não bebo, não, nego. Já nasci assim” - ela sorriu e elogiou a camisa dele, uma camisa azul do Esquadrão, com o número 11 nas costas.

Era um sorriso de abrir corações e ele aproveitou que a moça parecia estar lhe dando olhos, ouvidos e atenção. Contou como tinham sido difíceis aqueles anos após o rebaixamento do Bahia. Que, desde 2003, tinha trocado três vezes de emprego e quatro vezes de namorada, como se estivesse atrás de uma felicidade que o futebol roubara.

Que passara 2004 e 2005 mais longe do Tricolor, indo ao estádio só nos - frustrantes - momentos decisivos. Que voltou a bater ponto nos estádios todos os dias quando o time caiu para a Série C, como se expiasse uma culpa de ter se afastado numa hora difícil. Lembrou, já com lágrimas nos olhos, que estava na Fonte Nova, naquele dia mágico e trágico, quando o Bahia retornou para a B.

E confessou que, depois, bateu uma fraqueza e uma depressão - em 2008, deixou o time de lado, mas parecia tão triste que a namorada da vez, torcedora do Vitória (ele era fanático, mas não doente) tinha até se oferecido para acompanhá-lo a Feira ou Camaçari.Mas, que, em 2009, recuperado, foi a todos os jogos em Pituaçu e fez até promessa a Santo Antônio para o Esquadrão não cair. E contou, finalmente, o reencontro com a paixão e os melhores momentos de 2010, a chegada de Morais, a volta de Jael, a ressurreição de Ávine, a explosão de Adriano e a certeza da volta - um dia de cada vez até chegar aquela noite maravilhosa.

Ele parou, sem fôlego, e ganhou um beijo. O sol nasceu vermelho e iluminava um céu azul com nuvens brancas. “Parece que estou sonhando”, disse, perdido nas cores da manhã e no sorriso da moça. Ela precisava ir, mas escreveu nome e telefone num guardanapo antes da despedida: “Não é um sonho. Vai ser tudo melhor daqui pra frente”. O coração tricolor dele tinha certeza que sim.