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Paulo Leandro
Publicado em 20 de maio de 2020 às 05:00
- Atualizado há um ano
Na Copa do Mundo mais importante – a da sobrevivência –, o Brasil imita o fútil-ball, ao registrar desempenho capaz de fazer sombra a adversários ilustres do globo, como países da Europa, além dos gigantes EUA e Rússia. Ao ritmo de escalada, lá vai a seleção canalhinha...
Não adianta encher linhas de algarismos, ou rios de lágrimas, se o ritmo é sufocante, mas a boa campanha já pode-se garantir. (Parênteses para tocar Raul: “Tanto pé na minha frente que não sabem como andar...”, trecho de Como vovó já dizia, censurado em 1973).
Aqui você pode escutar: https://www.youtube.com/watch?v=u2Lwp380QJI
Aqui você pode cantar junto com Ele, Rauzito: https://www.letras.mus.br/raul-seixas/221841/
Podemos situar o Brasil, no momento da redação deste texto, entre os países doentios favoritos ao título pandêmico, projetado provisoriamente a um terceiro lugar, imitando nosso scratch, quando assim merecia ser nomeado, em 1938 e em 1978.
Teria o país um desempenho ainda mais compatível ao antijogo de seus xerifes não fosse a atuação de craques da boa política, como o prefeito de Salvador, ACM Neto, e o governador Rui Costa, em uma trégua de placa: lição possível para evitar a ampliação da catástrofe.
A Bahia, berço do Brasil, recusa-se a ser sua sepultura, embora neste exato momento, a quantidade de leitos versus escalada da pan exija a devida cautela antes de efusivas comemorações. Uma frente ampla para salvar o país nascerá na Terra do Dois de Julho? Vamos a pé ao Bonfim!
Voltando ao leito hospitalar, já fomos tão bons com a bola nos pés quanto agora estamos entre os matadores, com atuação pífia da parte saudável da cidadania e um partidaço dos patridiotas das carreatas, pedindo a morte, todo domingo, saindo da porta do batalhão, na Paralela.
Na terceira colocação de 1938, equivalente à nossa projeção pandêmica atual, medida a partir dos atuais contingentes de infectados, diariamente, tivemos, em vez da tristeza de óbitos, a alegria de uma seleção campeã da técnica e da disciplina, como se dizia do nosso Vitória à época.
Neste scratch, brilharam Domingos da Guia, o Divino Mestre, Elba de Pádua Lima, mais conhecido pelo ‘apelide’ de criança, que a irmã botou – Tim –; Romeu Pelicciari, Perácio e ele, Leônidas da Silva, escravo livre vitorioso, afinal, graças à deusa bola.
Até gol de meia - perdera uma chuteira - teria assinalado o esperto e sorridente Diamante Negro, como ficou conhecido, por ter batizado, em concurso popular, o chocolate, até hoje um sucesso de marca, nas melhores casas do varejo e delicatessens. Leônidas vive no cacau negro!
O Brasil passou por tchecos e poloneses, em renhidas disputas, e só parou na Itália, cuja conquista do bicampeonato fazia parte do plano de propaganda do Eixo do Mal, a hoje ressuscitada escória nazifascista, em parceria com a Alemanha de Heil Mito Hitler.
Na disputa do terceiro, vencemos a Suécia em virada de 4x2. A Itália chegou à final ao eliminar o Brasil, desfalcado com a esquisita ausência do Diamante, alegando contusão: a ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas paquerava o fascismo do Duce Mussolini.
Aqui, você não precisa mais dizer aquela bobagem gigantesca: “Eu não sei nada da Copa de 1938 porque naquele tempo eu não era nascido”. Basta clicar abaixo e banhar-se em 14 minutos de conhecimento confiável sobre nosso desempenho na França:
https://www.youtube.com/watch?v=cIisy2MUw6E
Outro terceiro lugar equivalente a nossa projeção para meados de junho, na doentia Copa, foi 50 anos depois, quando o scratch foi governado por um capitão, Claudio Coutinho, para quem a campanha merecia um título, o de campeão moral hahaha ...
Vamos interpretar como uma indireta à imoralidade da goleada de 6x0 sobre o Peru, aplicada pela Argentina para chegar à final, fato indissociável da Operação Condor, batizada com a ave carniceira dos Andes, em alusão ao terror de estados unidos no cone sul das Américas.
Você pode clicar aqui e preencher esta grande lacuna em seu repertório, ao assistir ao doc Memórias de Chumbo: o futebol nos tempos do condor; isso, se não estiver com a mente infectada pelas mentiras disparadas, via internet, pelo banditismo digital ora hegemônico: https://www.youtube.com/watch?v=VUna1OfeGX0
Uniram-se as ditaduras para suas estratégias de sequestro em cooperação nos países onde havia sido aplicado golpe para apear do poder governos de inspiração socialista ou popular-reformista. Uma vergonha inaceitável teria sido a classificação dos 'gardelitos' na Copa por eles promovida.
Armou o Brasil uma seleção defensiva, podada em suas melhores qualidades, embora tivéssemos Zico, Dirceuzinho, Reinaldo – barrado por fazer o gesto de punhos cerrados dos Panteras Negras americanos –, Nelinho, Rivelino, Zico, Jorge Mendonça, Cerezo...
Você, ajuizado e sem necessidade de sair de casa, se quiser matar o tempo de quarentena, veja neste trabalho de Rodrigo Tavela lances memoráveis do Brasil na Copa do Condor, cujo título teria sido combinado para a Argentina sair campeã, vencendo a Holanda na decisão: https://www.youtube.com/watch?v=q97lW--7ju8.
A crédula torcida brasileira foi tão tirada de otária a ponto de combinarem a tensa última rodada para apontar o finalista em horários diferentes. A seleção jogou mais cedo, e a Argentina ficou para jantar o peru de laele à noite, sabendo o escore necessário.
Bem, vou parando por aqui, registrando apenas aos vizinhos brasileiros, cuja leitura desta coluna torna-se obrigatória para o convívio, o obséquio de não entrarem na cabine do elevador sem máscara pois, se estiverem infectados, deixarão o vírus circulando.
O fim de uma só pessoa boa e pensante, honesta e amável, não vale a vida de enxames canalhinhos de bichos escrotos rumo ao hexa – na Copa da Pandemia. Ah, e por favor, fazer do apartamento academia, com esteira e tudo, treme tudo no apê de baixo e racha o piso, por favor, brasileiros!
Paulo Leandro é jornalista e prof. doutor em Cultura e Sociedade.