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Paulo Leandro
Publicado em 30 de setembro de 2020 às 05:00
- Atualizado há um ano
Quantos e quais os bens seriam necessários ou suficientes para o homem alcançar o bom destino da felicidade? Eis uma perguntinha malagueta, cujas respostas são tantas quantas possam distribuir fragmentos de alegrias – estas, sempre breves como a vida...
Tomemos o contexto do nosso amado e fútil ball. Qual o bem maior para o torcedor? Curtir seu time vencer. Não se afigura ao aficcionado a pandemia como uma medusa. E, se quiserem abrir estádios e arenas, lá estarão eles, como crianças, juntas e animadas.
E o dirigente, mais o apetece, segundo suas declarações, lutar pelo progresso de seu clube na classificação, ampliando as oportunidades de bons negócios para pagar ordenados a jogadores, ao professor, a equipes de apoio e aos servidores da agremiação.
A saúde é um bem? A proteção contra covid-19 e lesões em geral deveria contar muito, não só para quem adentra o campo, entregando-se de corpo, pois a ação multiplicadora do coronavírus tem efeitos infelizes para o indivíduo e aqueles com os quais convive.
Nota-se o esforço de segmentos vários, envolvidos na busca da felicidade: o torcedor, curtindo o time vencer; o dirigente, além de vitórias, os negócios, e com eles, a riqueza; e os jogadores, suando bicas para triunfar, e por tabela, faturar, sobreviver e virar ídolo.
A felicidade, como inclinação natural, acolhe grupos sociais de propostas antagônicas. Qual o bem de quem incentiva a volta dos torcedores? Promover a exclusão ou receitar remédios incertos seria um bem? A quem interessa ser feliz contando os óbitos?
Tornam-se infinitas as particularidades relacionadas aos bens com os quais lidam distintos times do cotidiano, acrescentando-se o dos árbitros, cuidando de apitar certo, além da imprensa especializada, com a venda de espaços publicitários.
As redes de tevê, e seus contratos com patrocinadores, teriam como bem a alegria de arrecadar valores acordados, além de fortalecer seus números de audiência com a oferta de jogos em horários os mais diversos em competições variadas.
Diante de tantos grupos, buscando bens distantes uns dos outros, quanto mais pensarmos, novas idealidades surgirão: impõe-se verificar qual o bem maior, ou mais justificável a figurar no topo, em possível hierarquia, aplicando-se a razoabilidade.
Cada grupo poderia apresentar argumentos em um hipotético campeonato de bens. Neste sentido, o perspectivismo é uma possibilidade de reflexão rápida, em papel jornal, sem arrogância de verdade.
Na nossa interpretação, e cada qual tenha a sua, o bem saúde nos parece capaz de atender às virtudes do conhecimento, da prudência, da justiça e da coragem; mas o ser virtuoso não garante a felicidade geral, ao contrário, pode até trazer mais inquietude.
Grupos de viés autoritário seriam resistentes, como pode-se interpretar da Confederação, pois seu bem seria zelar pelo estado corpóreo dos times e torcedores, tratando-se de desporto, em vez de seguir cegamente leis de mercado e o poder vigente.
Já ao Ministério Público e instâncias judiciais, caberia zelar pela sociedade, tomando por base a defesa da cidadania, em uma escolha difícil, quando não se sabe, de quantos bens particulares em jogo, qual o mais próximo do melhor destino.
Paulo Leandro é jornalista e professor Doutor em Cultura e Sociedade