Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Pombo Correio
Publicado em 15 de agosto de 2025 às 05:00
Cada vez que o governador Jerônimo Rodrigues (PT) coloca um microfone nas mãos é uma aflição. Seus assessores se entreolham apreensivos, pois sabem que vem pedrada. Um cardeal da base do governo ironizou e disse que agora Jerônimo não é mais o Dilmo e, sim, a personagem Odete, da novela O Clone, que ficou famosa pelo bordão: “cada mergulho, um flash”. “No caso de Jero é cada entrevista, um meme”, alfinetou o aliado. Há quem tenha saudade da época da campanha, quando o então candidato a governador se limitava a ler no teleprompter do programa eleitoral o texto cuidadosamente escrito pelos marqueteiros.>
O terror dos assessores>
Para não ir muito longe, uma representação desta situação ocorreu nesta semana em dois episódios. Durante agenda em Guanambi, Jerônimo protagonizou mais um verdadeiro show de horrores em uma entrevista coletiva com a imprensa local. Se embolou todo ao falar dos diversos empréstimos que têm solicitado, se irritou com um profissional de imprensa após ser questionado sobre os problemas na educação e na saúde e disse que “vai ter fila na regulação sempre”, depois de, na campanha, dizer que iria acabar com a espera. Ao ser perguntado sobre a violência, afirmou: “Eu tô sofrendo, tenho noites sem dormir por ver o crime organizado”. Por fim, durante um evento em Salvador, chegou à coletiva visivelmente irritado e de mau humor após a repercussão negativa de um vídeo dele mesmo falando sobre violência.>
Segurança reforçada>
A primeira-dama do Brasil, Janja da Silva, veio a Salvador para participar da celebração dos 20 anos da Associação Fábrica Cultural, que acontece nesta sexta-feira (15), às 15h, no bairro da Ribeira. Fora da agenda oficial, ela foi vista na noite de quarta-feira (13) jantando no restaurante Amado, na Avenida Contorno. O encontro, reservado e cercado por segurança, não foi divulgado nas redes sociais nem constava nos compromissos públicos da visita. O fotógrafo de um site local, que fazia ronda pela região, foi impedido de se aproximar por agentes de segurança.>
Tudo para os amigos>
O ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), decidiu intervir para ajudar um dos seus poucos e mais próximos aliados na Assembleia Legislativa: o deputado estadual Patrick Lopes (Avante). Segundo fontes governistas, Patrick tem a reeleição ameaçada no partido, visto que outros dois nomes são apadrinhados pelo presidente estadual da legenda, Ronaldo Carletto, e estariam com maior musculatura do que o parlamentar. Além da possibilidade de mudança de partido, Rui tem articulado apoios junto a prefeitos da base petista para tentar salvar o aliado. O movimento, entretanto, vem irritando parlamentares governistas, que veem o movimento de Rui como uma intervenção desleal.>
Bateu saudade>
Marido da secretária Jusmari Oliveira (PSD), do primeiro escalão do governador Jerônimo Rodrigues, o ex-deputado federal Oziel Oliveira reagiu efusivamente a uma publicação no Instagram que exaltava o aspecto da segurança pública da Bahia nos tempos do ex-governador Antonio Carlos Magalhães, em comparação à “zona de guerra” que está estabelecida hoje no estado. Apesar de andar colado com Jerônimo nas agendas pela região oeste, Oziel não se acanhou em soltar o emoji de palminhas para o histórico opositor do PT na Bahia. Detalhe: ele foi o primeiro prefeito de Luís Eduardo Magalhães, cidade fundada nos anos 2000. Pelo jeito, bateu saudade.>
Persona non grata>
Um certo deputado estadual do PP muito próximo ao núcleo petista do Estado tem encontrado dificuldade para encontrar um partido para disputar a reeleição no próximo ano. Diante da impossibilidade de ficar no ninho pepista em função da federação com o União Brasil, o que inviabiliza seu apoio a Jerônimo, o parlamentar tem sido considerado persona non grata. Já ouviu não de dirigentes do Avante, que não querem nem papo com ele, e também de caciques do PT. Legendas menores também já negaram a filiação. Segundo fontes da coluna, a opinião entre eles é quase unânime: o parlamentar não passa confiança.>
Cadê as casas?>
Lideranças das regiões Sul e Extremo Sul da Bahia andam insatisfeitas com as sucessivas promessas não cumpridas do governo do estado em relação à reconstrução de moradias destruídas pelas fortes enchentes que atingiram as localidades. Em Itabuna, o ex-governador e hoje ministro Rui Costa prometeu 1.100 casas, mas agora só foram entregues 80, segundo lideranças locais. A situação também se repete em outras cidades, como Medeiros Neto, Itanhém e Jucuruçu. Em um dos municípios, o prefeito decidiu tocar as obras por conta própria para evitar desgaste com a população nas eleições do ano passado. Mas, em outros casos, há situações de obras abandonadas, o que tem aumentado a irritação. Segundo apurou a coluna, os órgãos de controle já colocaram a lupa sobre as intervenções paralisadas.>
Lobo solitário>
Na Assembleia Legislativa, apesar de contar com uma base de 44 dos 63 deputados estaduais, Jerônimo não teve defensores durante as discussões sobre segurança pública no plenário esta semana. A exceção foi o deputado Robinson Almeida (PT), que atuou como um verdadeiro lobo solitário na defesa do governo. Mas, ao perceber o isolamento, tomou uma decisão inusitada: pediu uma questão de ordem para forçar o encerramento da sessão - expediente que geralmente é usado justamente pela oposição. A brincadeira nos corredores foi: “procura-se governistas”.>
Lados opostos>
A troca de comando no Detran, anunciada esta semana pelo governador Jerônimo Rodrigues, colocou o deputado federal Mário Negromonte Jr. e o deputado estadual Niltinho em lados opostos. Mário articulava a indicação do primo Gilvan Lima, mas Niltinho, líder da bancada do PP na Assembleia, mobilizou apoios e consolidou o nome de Max Passos. Nos bastidores, muita gente tratou o movimento quase como uma traição, já que Mário foi fiel escudeiro na reeleição de Niltinho em 2022, formando inclusive dobradinha em diversas cidades. Mário mirava a direção do Detran enquanto prometia levar o PP para a base do governo, movimento que perdeu força após o anúncio da federação do partido com o União Brasil, partido de ACM Neto, principal líder da oposição na Bahia.>
Não me vendo>
O prefeito de Conceição do Coité, Marcelo Araújo (União Brasil), fez esta semana um daqueles discursos que circulam rapidamente pelos corredores da política baiana. Na Câmara de Vereadores, rebateu quem o aconselha a “procurar o governador” para garantir obras e recursos. “Eu não me vendo”, cravou, dizendo que Jerônimo Rodrigues sabe das necessidades de Coité, mas prefere negociar apoio político em troca de obras. Marcelo foi além: afirmou que não vai trocar princípios por uma escola ou pavimentação, nem apoiar “o governador que tem a pior educação e a pior segurança pública do Brasil”. Para além do desabafo, a atitude de Araújo cria um rastro a ser seguido por outros gestores também inconformados com a chantagem institucional que se estabeleceu no governo Jerônimo. E, convenhamos, não é todo dia que se vê um prefeito dizer, com todas as letras, que não se humilha.>
Renunciou?>
Após mais uma semana marcada pela onda de tiroteios em Salvador, do Costa Azul à Avenida Garibaldi, passando até pela região turística da Barra, onde facções criminosas picharam as balaustradas da orla, o governador Jerônimo Rodrigues se esquivou novamente ao ser cobrado sobre a segurança pública. Mas dessa vez foi além. Usou um evento institucional para dizer que a culpa é da oposição, que deveria tratar o assunto com “respeito e responsabilidade”. O ineditismo da fala chama atenção: em vez de enfrentar diretamente as facções, o governador preferiu responsabilizar seus críticos, levantando a pergunta incômoda que ecoou nos bastidores: será que ele já renunciou e quer passar a faixa para a oposição? Afinal de contas, é ele o chefe das forças de segurança pública, e mais ninguém.>
Erro de cálculo>
Aliados do próprio governador avaliam que a fala foi um tiro no pé. Isso porque, no mesmo evento em que fazia anúncios voltados para a segurança pública, Jerônimo acabou ofuscando as próprias medidas ao atacar a oposição, inclusive desviando o foco da cobertura jornalística. Em vez de repercutir os investimentos, a imprensa deu destaque à reação de seus adversários, que se manifestaram em notas e no plenário da Assembleia Legislativa. O resultado foi a transformação de um momento planejado para reforçar a imagem de ação do governo em um episódio que ampliou o desgaste político do governador.>