"Por que o Manto Tupinambá ficará no Rio de Janeiro?"

O manto deve ser tratado como um ser vivo, não como um simples objeto. Ele representa a história e a luta do povo tupinambá

Publicado em 20 de abril de 2024 às 07:54

A Cacique Valdelice, uma das principais lideranças femininas da Bahia, responsável por mais de 14 aldeias e mais de 900 famílias, questiona o motivo pelo qual o manto sagrado de seu povo, originário de Olivença, em Ilhéus, irá permanecer no Rio de Janeiro. O manto foi reconhecido nos anos 2000 pela mãe da cacique, Amotara, que desde então solicitou sua devolução, considerando-o um ancestral que precisa retornar ao território.

Após a partida de Amotara, Valdelice continuou as solicitações para a Dinamarca, pedindo o retorno do manto. No entanto, mesmo com seu retorno confirmado, foi decidido que ele deve permanecer no Rio de Janeiro. O manto é um símbolo crucial da resistência do povo indígena baiano, conforme afirmado na primeira reunião dos anciãos, realizada na aldeia Itapuã, com a presença de 13 comunidades das 23 comunidades tradicionais. Eles acreditam que sua ausência enfraqueceu a comunidade.

Valdelice destaca que o manto deve ser tratado como um ser vivo, não como um simples objeto. Ele representa a história e a luta do povo tupinambá. Sua permanência no Rio de Janeiro, longe de seu território e de sua comunidade, é vista como uma violação dos direitos indígenas. Valdelice e sua comunidade continuam lutando pelo retorno do manto sagrado ao seu local de origem, onde ele possa ser honrado e respeitado como parte essencial da identidade e da cultura tupinambá.

Para o povo tupinambá, o manto é uma prova viva da resistência e poderá ajudar no processo de demarcação do território. A decisão sobre o destino do manto levanta questões sobre o interesse do governo da Bahia em preservar seu patrimônio cultural e em proteger os direitos dos povos originários da região. A Cacique Valdelice, como Cacique Geral e primeira cacique mulher do povo tupinambá e a segunda do Brasil, está tendo seu apelo ignorado pelas autoridades e pelas universidades. Essa situação ressalta a importância de discutir e debater sobre a preservação da cultura indígena e o respeito aos direitos dos povos originários.

Jade Lobo é pesquisadora, ativista e escritora baiana, pertencente ao Povo Tupinambá de Olivença. Doutoranda em Antropologia Social na Universidade Federal de Santa Catarina, foi schorlaship student no Afro-Latin American Research Institute at Harvard University, adquirindo o Certificado em Estudos Afro-latino-americanos. Autora do livro: "Para Além da Imigração Haitiana: Racismo e Patriarcado como Sistema Internacional". Criadora e Editora da Revista Odù: Contracolonialidade e Oralitura