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Aninha Franco
Publicado em 11 de abril de 2015 às 05:28
- Atualizado há 2 anos
Billie Holiday viveu quarenta e quatro anos entre 7 de abril de 1915 e 17 de junho de 1959, e durante esse tempo tornou-se inesquecível para quem a ouviu. Billie é a Voz de um Povo, os negros estadunidenses, de um Tempo, o mais brilhante momento do Jazz.USA, e dos humanos que sobrevivem a tudo e criam e aos que têm bom gosto. Billie sobreviveu à miséria das ruas pobres estadunidenses, à brutalidade sexual aos 10 anos, às casas de “educação dos jovens”, à prostituição ainda adolescente, à polícia, à prisão, ao álcool, à heroína e ao confronto com a sociedade abertamente racista que impedia artistas de peles negras usar entradas, banheiros e outros espaços destinados aos humanos de peles brancas. Milhares de Artistas suportaram as ofensas da Sociedade que amava lhes ouvir, sem misturas, com resignação. Billie reagiu a todas elas com interpretações no Jazz ou no Blues de arrepiar almas cabeludas. >
Em sua Autobiografia, Lady sings the blues, Brasiliense, 1985, à disposição na Estante Virtual por preços razoáveis, ela conta essas coisas desde o nascimento, filha de dois garotos negros, de 18 e 16 anos, até o capítulo God bless the child, em 1956, três anos antes de sua morte física, com uma linguagem coloquial e viva. Porque as drogas, a prostituição, os embates com a Sociedade na Justiça e fora dela, o racismo, o convívio com os transeuntes do mundo da heroína, e todas essas inspirações, resultaram em discos perfeitos que parecem ainda melhores se ouvidos em vinil. Suas gravações com Lester Young e Count Basie são das mais sólidas e expressivas interpretações musicais. Sua gravação de Strang Fruit, denúncia dos enforcamentos produzidos pela Ku Klux Klan até o século 20, tema do livro Strange Fruit e a biografia de uma canção, de David Margolick, Cosac Naif, 2012, é antológica. >
A maior parte de sua vida é, hoje, lendária e não poderia ser diferente. Ela recebeu muito pouco da Sociedade e devolveu obras-primas insuperáveis, um panorama que parece repetir-se com frequência na Arte. Seus cem anos de nascimento não dizem tudo que o mundo lhe reservará nos próximos séculos. Por isso, vamos celebrar estes cem anos da melhor maneira: ouvindo Miss Holiday. Se possível, num vinil de Holiday com Young, o Billie Holiday With Lester Young – Lady Day & Prez, de 1957. Se não for possível, há dezenas de CDs com antologias da diva. Mas, se o dinheiro estiver curto, pode-se fazer uma mídia com as imperdíveis Strange fruit, God bless the child, Solitude, My man, Night and day e quaisquer outras que ela gravou em seus quarenta e quatro anos de vida, com o nome “Centenário de Lady Day”. Será histórico. As ruasDomingo, as ruas nos esperam. Quem estiver em dúvida sobre a necessidade de resgatar o Brasil disso tudo que está aí protestando contra isso tudo que está aí, dê uma espiada no pedido da quebra de sigilo fiscal na empresa JD, de José Dirceu, em http://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/wp-content/uploads/sites/41/2015/04/28_OUT3-receita-analise-jd-valores-ao-longo-dos-anos1.pdf. A visão das consultorias de JD demole. >