Trilhas: vence na vida quem diz sim?

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  • Aninha Franco

Publicado em 20 de fevereiro de 2016 às 07:43

- Atualizado há um ano

Tudo está podre no sistema imperial que conduz o Brasil a lugar nenhum. Uma liminar concedida por Valter Shuenquener de Araújo livrou Lula e esposa do depoimento sobre o patrimônio do casal. Na cola, Mirian Dutra deu uma entrevista sobre seu caso com FHC presidente, com possível agressão ao erário. Olhei os Diários da Presidência, Volume I, de FHC, publicado em 2015, e senti falta de Mirian, mesma falta que senti das explicações de Lula, na véspera. Comprou como o sítio de Atibaia? Por que permitiu que a Oi investisse um milhão de reais instalando uma antena numa região, em 2010, onde o povo não tinha acesso a nada? O caso de FHC está em 2016, quando a irmã de Mirian é funcionária do Senado batendo ponto duas vezes por dia, com salário considerável.

E, sem ingenuidade, Atibaia & Mirian Dutra não são práticas de ex-presidentes do Brasil. Está tudo assim. O país infectado de zika, chikungunya, e das outras 777 pragas de Brasília que descem sobre ele, levanta pra trabalhar e pagar impostos que sustentam milhares de casos como esses em todas as esferas. Honestidade no Brasil é comportamento tão flexível que, recentemente, quando virei as costas rejeitando o cumprimento de um corrupto condenado e solto, fui censurada por meu vizinho, que denuncia os corruptos na Web, e me perguntou, apiedado: Por que você fez isso com ele?

Acostumamos à ausência de saneamento básico, ao convívio com o lixo, à sobrevivência ao sistema de transporte que recebeu bilhões pra fazer um metrô que, 15 anos depois, tem menos de 15 quilômetros. Muitos sabem como o dinheiro do metrô foi desviado, mas os corruptos frequentam a sociedade com seus patrimônios crescidos durante as funções públicas sem preocupações.

Isso não vem de agora. Sérgio, pai de Chico Buarque, nos chamou de “cordiais”, e Chico popularizou essa cordialidade na composição Vence na Vida Quem Diz Sim, frase de Brecht: “Se te dói o corpo, Diz que sim, Torcem mais um pouco, Diz que sim, Se te dão um soco, Diz que sim, (…) Se te jogam lama, Diz que sim, Pra que tanto drama? Diz que sim”. O MDB, durante a ditadura, prometeu mudar isso. Está no poder desde que a ditadura acabou e não mudou. O PSDB saiu do MDB pra mudar isso, mas Mirian Dutra nos contou que ele mudou de ideia e explicou por que sua oposição é tão frágil. Do PT, que se arquitetou o exterminador dos corruptos, desnecessário falar.

Barbara Gancia escreveu na Folha, em 2008, que “para sermos um aluno com média acima de oito, precisamos continuar firmes no caminho trilhado por Itamar, que, na opinião (dela), deveria ser celebrado, desde já, como o melhor presidente tapuia pós-regime militar”.  Itamar Franco, tão honesto que, quando arranjou uma namorada, arrumou uma descalçolada, entregou a FHC, em 1995, um relatório detalhado sobre a corrupção no governo federal, resultado de 10 meses de trabalho da Comissão Especial de Investigação, a CEI, mostrando como a corrupção atua nos ministérios e empresas estatais, consumindo cerca de 40% de tudo que o Estado administra, numa sangria de trilhões de reais corroendo a democracia do país dentro dela. Nada foi feito. A sangria está explodindo em milhares de sins.