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Publicado em 1 de agosto de 2025 às 19:03
O uso de ferramentas de inteligência artificial vem se tornando parte da rotina de muitos profissionais. Mas essa integração levanta uma pergunta incômoda: será que usar IA nos deixará mais burros e mimados? >
A inquietação é legítima. Sempre que uma nova tecnologia emerge, surge também o receio de que ela atrofie nossas capacidades cognitivas. Sócrates já alertava contra a escrita, por temer que ela enfraquecesse a memória. Quando surgiram as calculadoras eletrônicas, também veio o receio de que as pessoas perdessem habilidades de cálculo. Hoje, é o ChatGPT e similares que estão no banco dos réus da cognição. >
Para ajudar a entender o seu efeito, dois estudos recentes ajudam a dimensionar o impacto da IA sobre o pensamento crítico e a saúde mental dos trabalhadores — e oferecem respostas mais nuançadas que o senso comum. >
O primeiro estudo, conduzido por pesquisadores da Carnegie Mellon e da Microsoft, ouviu 319 profissionais sobre como usam ferramentas generativas de IA e como percebem seu impacto no esforço cognitivo. O achado central foi: quanto maior a confiança do usuário na IA, menor sua propensão a exercer pensamento crítico sobre o conteúdo gerado. Por outro lado, quanto maior a autoconfiança, mais intensa a reflexão e a curadoria sobre as respostas da máquina. Ou seja, a IA não atrofia o pensamento por si só. É a postura de cada pessoa que tem a maior influência sobre os reflexos do uso da tecnologia. >
O segundo estudo, feito por pesquisadores alemães, analisou dados de duas décadas para investigar o efeito da exposição à IA sobre a saúde e o bem-estar dos trabalhadores. Ao contrário do receio comum, os dados não indicam piora da saúde mental — e sugerem, inclusive, melhora na percepção de bem-estar e redução da intensidade física do trabalho. Isso pode estar associado à substituição de tarefas repetitivas ou penosas por soluções baseadas em IA, criando ambientes mais saudáveis. >
Juntos, os estudos oferecem um panorama mais claro: usar IA não tem o efeito automático de reduzir nossa inteligência nem nos deixar emocionalmente frágeis. Por outro lado, seu uso sem autoconfiança e intencionalidade pode, sim, gerar esses efeitos. >
Lucas Reis é doutor em Comunicação, fundador da Trezion e da Zygon, e presidente da Associação Baiana do Mercado Publicitário (ABMP)>