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Da Redação
Publicado em 30 de março de 2013 às 06:26
- Atualizado há um ano
Estamos no meio do feriadão, dias de pernas pro ar. Então, pra quem quiser, deixo uma sugestão de programa caseiro. Vá ao Google e escreva “Feras da Engenharia - Engenhão”. Assim, você poderá ver um programa do canal Discovery sobre a instalação da cobertura do Estádio Olímpico João Havelange, inaugurado há apenas seis anos para os Jogos Pan-Americanos e agora interditado por tempo indeterminado, devido ao risco de “ruína” da cobertura.O filme da Discovery é bastante esclarecedor sobre os motivos que deixam neste momento o Rio de Janeiro, a cidade olímpica, sem nenhum estádio de bom nível em condições de funcionamento: pressa, jeitinho, armengue - três palavras bastante conhecidas nesta parte do mundo que nos cabe.Atenção para a fala do presidente da Empresa Municipal de Urbanização do Rio, Armando Queiroga: “Recebemos um relatório indicando um problema sério, sem soluções. Em 30 dias, queremos ter uma solução”. Pior do que isso, só a suspeita já levantada de que este fechamento foi “forçado” para levar os grandes clubes de volta ao Maracanã.Pode parecer que o assunto diz respeito somente ao Rio de Janeiro, seus times e seus torcedores. Não é assim. O caso é um bom recorte de como os bens e os recursos públicos são tratados em todo o Brasil, incluindo aí a Bahia.Só pra lembrar: orçado em R$ 60 milhões, o Engenhão foi erguido com R$ 380 milhões. Não é um aditivo qualquer. São seis vezes mais. A Delta, empreiteira que iniciou a construção do estádio e largou no meio - admitindo incompetência para instalar a cobertura -, depois entrou no consórcio que realiza a reforma do Maracanã, mas também deixou a obra no meio do caminho. E só pra lembrar: a Delta é a mesma empresa que em 2012 foi proibida de realizar obras públicas devido a seu envolvimento com o bicheiro Carlinhos Cachoeira.Mais um lembrete, caso alguém tenha esquecido: o Maracanã é aquele estádio que deve receber a final da Copa do Mundo de 2014 e que já teve sua data de reinauguração alterada umas 37 vezes. Ah, o Maracanã também é aquele estádio que outro dia foi visto submerso na TV, com operários tirando a água do teto na base do baldinho, sem qualquer equipamento de segurança.Só pra lembrar: depois que a Delta abandonou a obra do Engenhão, o serviço foi assumido por OAS e Odebrecht, as mesmas que agora nos entregam a Arena Fonte Nova, que, torcemos todos, ficará protegida durante muitos anos pelos orixás do Dique do Tororó. Já a velha Fonte Nova, nunca é demais lembrar, teve que ser posta abaixo porque o descaso do poder público foi mais forte que a fé nas forças ocultas da natureza.É bom recordar que foi o descaso do poder público que matou sete pessoas e deixou outras tantas com cicatrizes no corpo ou na alma - ou em ambos. Só pra lembrar: as mortes foram em 2007, o processo criminal se encerrou sem que ninguém fosse punido e o processo administrativo caminha naquele ritmo já conhecido nesta parte do mundo que nos cabe.Desde que nascemos, vamos sendo abastecidos de informações essenciais sobre nosso espaço no mundo, nossa história e nossas perspectivas de futuro. Há quem defenda, com alguma dose de fatalismo, que o seu lugar é o seu destino. No Brasil, há algo que todos nós aprendemos logo cedo, mas de vez em quando um fato impactante surge apenas para reavivar a memória. O fechamento do Engenhão é um destes fatos. Serve pra lembrar que nós não vivemos num país sério.