Victor Uchôa: mentalidade caduca

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  • Da Redação

Publicado em 17 de outubro de 2015 às 02:37

- Atualizado há um ano

Cara de pau, sabemos, é pré-requisito para viver como político. Apego ao poder, também sabemos, é doença que afeta todo político quando chega lá, seja qual for o cargo. Não por acaso, cara de pau e apego ao poder são traços que vemos comumente nos cartolas do futebol brasileiro. Agora imagine o que acontece quando um político é também cartola. Aliás, nem precisa imaginar.

Basta olhar para o posto de presidente do Conselho Deliberativo do Vitória, ocupado pelo deputado federal José Rocha, membro cativo da chamada Bancada da Bola no Congresso Nacional. Viu a última dele? Não? Então repare.  

No final de setembro, a Comissão de Reforma do Estatuto do Vitória apresentou, com três meses de atraso, a proposta com mudanças das normas que regem o clube. A minuta de 48 páginas trata desde pontos básicos, como o formato do escudo rubro-negro, até a principal questão da reforma: democracia na Toca do Leão.

De antemão, vale reconhecer que as principais reivindicações da torcida estão contempladas no documento. De acordo com a minuta, os rubro-negros associados há pelo menos um ano no momento da eleição passariam a ter direito de eleger, diretamente, os membros da diretoria do Vitória, sendo que qualquer sócio com mais de três anos poderia se candidatar à presidência. Além disso, o Conselho Deliberativo teria composição proporcional, levando em conta os votos recebidos pelas chapas envolvidas na disputa.

No entanto, a minuta do novo estatuto ainda está cheia de tópicos imprecisos. Não fica claro, por exemplo, o que distingue um sócio patrimonial de um sócio contribuinte. Também é estranha a indicação de que o Conselho Diretor do clube tenha, além do presidente e do vice (remunerados), mais cinco membros sem remuneração. O que fariam eles? Seria essa a institucionalização dos aspones? A saber.

Fato é que, ajeitando aqui e ali, quase tudo ia bem. Isso até o senhor José Rocha botar pra fora sua síndrome de político-cartola. Como neste momento a Comissão de Reforma do Estatuto está aberta a sugestões dos conselheiros para eventuais ajustes na minuta, o deputado já deixou claro seu objetivo: manter o Vitória acorrentado ao mesmo grupo de sempre, refém de uma mentalidade caduca que apequena o clube ano após ano.

Numa entrevista ao site Bahia Notícias, o cartola-deputado afirmou que defenderá internamente que só poderá ser candidato a presidente quem já tenha sido conselheiro do Vitória por um ou dois mandatos. Falando o português claro: na visão de José Rocha, só tem direito de presidir o clube os membros da eterna panelinha de um Conselho Deliberativo historicamente omisso, acostumado a dizer amém ao mandatário da vez.

Em seus discursos, José Rocha se diz a favor da democratização do Vitória e da profissionalização dos clubes brasileiros, mas suas ações demonstram exatamente o contrário. O filtro proposto pelo deputado é uma piada de mau gosto frente à torcida rubro-negra, que espera, além de ter voz, ver o clube abastecido de ideias renovadas, ideias que jamais foram oferecidas pelo Conselho Deliberativo capitaneado pelo parlamentar.

Aliás, vale lembrar que a reforma estatutária só andou de verdade após a Justiça determinar que a Assembleia Geral de Sócios dê o veredito sobre as mudanças. Do contrário, seria difícil ver alguma evolução na reforma, sensação corroborada pelas afirmações feitas agora por José Rocha.

Cara de pau e apego ao poder, sabemos, fazem parte do perfil de todo político e de todo cartola brasileiro. Por isso mesmo, não surpreende em nada os atos daqueles que exercem dupla função.