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Vitor Villar
Publicado em 8 de junho de 2020 às 05:39
- Atualizado há 2 anos
Três meses depois do primeiro caso registrado na Bahia, apenas 78 dos 417 municípios do estado seguem sem residentes infectados pela covid-19, segundo a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab).>
As cidades resistentes estão espalhadas por 22 das 28 divisões regionais de saúde. Isso significa que seis regiões já foram tomadas pelo novo coronavírus. São elas: Salvador, Camaçari, Cruz das Almas, Valença, Juazeiro e Ilhéus.>
O posto de cidade mais populosa da Bahia sem casos de covid-19 foi alvo de controvérsia no final de semana. O último boletim divulgado pela Sesab, na sexta-feira (5), colocou o município de Paratinga, a 729 km de Salvador, com dois casos confirmados. “Os pacientes não moram mais em Paratinga. O problema é que o cartão do SUS deles foi feito aqui”, explica a secretária de saúde Carmella Zanin.>
O boletim do dia seguinte, sábado, confirmou que a cidade não tem notificação da doença - ambos os registros são de pessoas que moravam em Salvador e São Paulo. Paratinga, no Oeste do estado, à beira do Rio São Francisco, tem 32 mil habitantes, sendo apenas a 89ª no ranking de maiores municípios baianos segundo o IBGE.“Quando a cidade apareceu no boletim da Sesab, foi um grande problema pra gente. A população fica nervosa, começam a dizer que estamos escondendo casos. Mas Deus tem sido maravilhoso mantendo a doença longe da cidade”, diz a secretária municipal.O segundo posto pertencia até sábado (6) à cidade de Carinhanha, a 787 km de Salvador. A cidade ficou livre do covid por quase três meses, até ter o primeiro caso registrado no último boletim da Sesab. Carinhanha possui 29 mil habitantes, sendo a 99ª maior cidade baiana segundo o IBGE. O município fica na região de Guanambi.>
Sem Carinhanha e sem Quijingue, que também registrou o primeiro caso no último final de semana, o posto de segunda maior cidade sem covid-19 ficou para Santana, na Região de Santa Maria da Vitória, Oeste do estado. O município de 26,6 mil habitantes é apenas o 118º no ranking do IBGE e fica a 839 km de Salvador.>
Confira a lista completa das cidades baianas sem covid-19 ao final da matéria.>
Cercadas de perigo As cidades citadas anteriormente guardam algo em comum: estão distantes de Salvador, Ilhéus, Itabuna e outros locais que concentram a maioria dos casos da Bahia. Encravadas em epicentros do novos coronavírus, cidades como Itaju do Colônia, Jucuruçu e Itagimirim chamam atenção: nenhuma das três registrou casos de contaminação.>
Itaju do Colônia tem 6,6 mil habitantes, a 392ª maior cidade da Bahia. Está na região Sul, que concentra quase 10% dos casos de covid-19 no estado, localizada a 100 km de Itabuna, que tem 1.101 casos; 130 km de Ilhéus, que tem 722; e a 70 km de Camacan, que tem 113. Itaju da Colônia, encravada na região Sul do estado, não teve casos (Foto: Reprodução/Embasa) Junte a isso o fato da cidadezinha ser dependente das três que a cercam. Muitos moradores de Itaju têm parentes que trabalham nelas ou precisam sair e retornar no mesmo dia para resolver questões bancárias ou ir a uma consulta médica, por exemplo.“Por isso temos quatro barreiras sanitárias, uma em cada saída da cidade, para monitorar quem entra e sai. Estamos tentando conscientizar nossa população, para que evite visitar as cidades vizinhas. Se a doença chegar aqui, vai ser muito difícil tratar, vai pegar todo mundo”, desabafa o prefeito Djalma Orrico.Historicamente, um dos maiores empecilhos para o desenvolvimento econômico de Itaju tem sido o acesso ruim. São duas estradas de ligação. Uma, de terra. A outra, que era de asfalto, encontra-se em péssimas condições. O que era prejuízo, tornou-se uma vantagem. E pode ser um dos motivos para a preservação da cidade:>
“Realmente, fica muito fora da rota. E estamos vendo a população ficando mais em Itaju. E quem entra é acompanhado pela nossa vigilância e orientado a ficar de quarentena”, comenta o prefeito.>
Apesar da boa marca até aqui, a cidade sabe que a covid-19 deve visitá-la. “A gente explica para a comunidade que eventualmente vai aparecer. Não dá para dizer que Itaju não vai ter caso. Mas que precisamos aproveitar enquanto estamos zerados para nos preparar”, diz o prefeito.>
O Caso Jucuruçu>
Outro caso curioso é o de Jucuruçu, no Extremo-Sul. O município de 9,1 mil habitantes é vizinho de Itamaraju, onde já foram detectados 190 casos, com duas mortes. A relação com a cidade vizinha é diária. “É a nossa referência para tudo. Serviço bancário, INSS, fórum, policiais que fazem segurança aqui são enviados de lá. Então tem um fluxo muito grande de pessoas”, conta o secretário de saúde de Jucuruçu, Roni Patrick.>
Assim que começaram os casos nos municípios vizinhos, a prefeitura teve que agir: “Nós dispensamos os serviços de profissionais de saúde que moram em Itamaraju e vêm para cá atender. Além disso, a nossa assessoria jurídica, que é de Itamaraju, está trabalhando de maneira remota”, explica o secretário.>
Além da relação com Itamaraju, Jucuruçu tem outra dificuldade: trata-se de um município extenso, com uma sede pequena e 70% da sua população dispersa na zona rural ou em distritos urbanos distantes. Assim, a fiscalização é dificultada.>
Nesse caso, o que é problema também pode ajudar. A distância oficial entre Jucuruçu e Itamaraju é de 101 km. Por conta das péssimas condições da estrada, no entanto, a viagem pode demorar mais de duas horas. Para Teixeira de Freitas, é um passeio de pelo menos três horas.>
Por conta disso e pelo medo do vizinho, a prefeitura entende que o fluxo diário habitual entre Jucuruçu e Itamaraju muito. Porém, sabe que, ainda assim, o primeiro caso vai acontecer um dia. “Pode aparecer a qualquer momento. Eu já falei para a equipe que não podemos ficar presos ao boletim epidemiológico, do nada pode aparecer três ou quatro com sintomas. Então o que a gente precisa é preparar os profissionais e conscientizar a população”, diz o secretário Roni Patrick. Infraestrutura é aliada para conter casos, defende o epidemiologista Fernando Carvalho (Foto: Divulgação) "Não tenha dúvida que vai contaminar mais cedo, ou mais tarde, o que se faz é retardar o pico. Pode não ser possível fechar a cidade, mas o que se poderia tentar fazer é frear. Infelizmente, nem todos têm essa infraestrutura, mas é o que poderia ser feito, além dos testes em massa", comentou.>
Questão de Tempo>
A preocupação dos gestores municipais com o natural avanço da covid-19 é compartilhada por especialistas, que endossam a certeza de que o vírus segue sua curva ascendente. >
O epidemiologista Fernando Carvalho, da Universidade Federal da Bahia (Ufba), explica que a confirmação de casos de coronavírus nessas 79 cidades é uma questão de tempo - até porque, já podem até existir pacientes com a doença, mas assintomáticos.>
A principal ação que esses municípios poderiam tomar, para amenizar os impactos, seria já preparar uma estrutura e pensar formas de isolar os pacientes. Blindar, mesmo, só seria possível se fosse instituído um lock- down (confinamento) total dos moradores, sem saída, nem entrada de pessoas, como explicou o professor.>
“Não tenha dúvida que vai contaminar mais cedo, ou mais tarde, o que se faz é retardar o pico. Pode não ser possível fechar a cidade, mas o que se poderia tentar fazer é frear. Infelizmente, nem todos têm essa infraestrutura, mas é o que poderia ser feito, além dos testes em massa”, comentou.>
Confira a lista de cidades sem covid-19 na Bahia:>