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Giuliana Mancini
Publicado em 18 de maio de 2020 às 18:26
- Atualizado há 2 anos
A cidade de Irecê, no centro-norte baiano, foi um dos lugares escolhidos para receber o projeto Evolução da Prevalência de Infecção por Covid-19 (EPICOVID19-BR), que promete ser a maior pesquisa populacional sobre o novo coronavírus no Brasil. Só que a pesquisa foi interrompida no município após uma série de confusões, incluindo passagem na delegacia e três entrevistadores testando positivo para o vírus.>
De acordo com o Ministério da Saúde, que apoia e financia o estudo, o plano é realizar, em 99.750 pessoas de 133 cidades ao redor do país, um teste rápido (sorologia), que detecta se aquele individuo já teve a covid-19. O projeto é coordenado pelo Centro de Pesquisas Epidemiológicas da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), do Rio Grande do Sul, e realizado pelo Ibope Inteligência.>
Porém, em nota, a prefeitura de Irecê afirmou que não foi informada previamente sobre a realização do estudo na cidade. Após averiguação, constataram que a pesquisa tem o apoio do Ministério. Mas, ainda assim, fizeram algumas exigências, como testagem para a covid-19 dos próprios entrevistadores. E descobriram que três estavam infectados. O material utilizado pelos pesquisadores foi apreendido e só devolvido posteriormente.>
Tudo começou na madrugada da última quinta-feira (14), quando os entrevistadores chegaram a Irecê e começaram a realizar os testes na população no mesmo dia. Contudo, a Secretaria de Saúde municipal só recebeu uma comunicação sobre o início da pesquisa três dias depois, no domingo (17).>
"O Governo do Estado foi imediatamente acionado por meio da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVs) e do Núcleo Regional de Saúde (Dires), para averiguação e tomada de conhecimento da situação, considerando que a supervisora da pesquisa sinalizou que as autoridades foram comunicadas. Porém, todas as respostas obtidas sinalizaram que estes órgãos não tinham conhecimento sobre o estudo, não emitindo assim autorização prévia aos municípios. A Secretaria de Saúde de Irecê só recebeu uma comunicação sobre o início da pesquisa no domingo, dia 17/05", afirmou a Prefeitura de Irecê.>
A equipe da pesquisa foi então levada para a delegacia, onde todo o material foi apreendido pela Vigilância Sanitária. Após ser constatada a ausência da comunicação oficial prévia, foi decidida a interrupção da pesquisa.>
A prefeitura também reclamou que os entrevistadores não cumpriram quarentena exigida de 14 dias. "Em decorrência do deslocamento rodoviário de toda a equipe desde a cidade de São Paulo até a cidade de Irecê, ficou estabelecido o critério de testagem em todos os membros da equipe".>
Os exames foram feitos na sexta-feira (15) e três pesquisadores, segundo a prefeitura, tiveram resultado positivo. Com a identificação dos entrevistadores contaminados, foi exigida a relação das pessoas que participaram da EPICOVID19-BR em Irecê, com nome e endereço, para monitoramento. A equipe, porém, disse que não tinha autorização para isso, já que os dados eram digitados em sistema e cumpriam critérios de sigilo. >
"Seria uma falha grave, identificar uma positividade para a covid-19 e a Vigilância em Saúde não proceder com o fluxo de controle", afirmou a prefeitura. Desta forma, os kits e insumos para testagem, que haviam sido apreendidos preventivamente, só seriam devolvidos após o envio da relação de pessoas testadas na cidade. Isso aconteceu no sábado (16) e o material foi reentregue aos pesquisadores. No mesmo dia, o grupo retornou para São Paulo.>
"Imediatamente após o recebimento da relação de pessoas testadas, a Vigilância Epidemiológica do município iniciou o trabalho para investigação das que tiveram contato com os entrevistadores que tiveram positividade para a covid-19. Foi confirmado que os entrevistadores usaram devidamente os equipamentos de proteção individual, o que se apresenta uma barreira para transmissão do vírus. No entanto, como medida cautelar, todas essas pessoas que participaram da pesquisa estão sendo monitoradas e serão testadas novamente para a covid-19 após passados 10 dias do contato com os entrevistadores", finaliza o texto da prefeitura.>
A cidade de Irecê não foi a única na Bahia a criar obstáculos para a EPICOVID19-BR - as prefeituras de Guanambi, Juazeiro, Santo Antônio de Jesus, Vitória da Conquista e Paulo Afonso também impuseram resistências. Pelo Brasil, foram 75 municípios que impediram a pesquisa. >
Em nota, a UFPel criticou essas ações. De acordo com a universidade, o Ministério da Saúde enviou um ofício, semana passada, comunicando as 133 cidades participantes do estudo. A instituição ainda apontou que o estudo foi divulgado pelo governo em seu site.>
"Nas situações mais graves, os entrevistadores do IBOPE foram detidos, com uso de força policial, tendo sido tratados como criminosos. (...) Por mais que a comunicação formal do Ministério da Saúde aos municípios possa ter chegado muito perto do início da coleta de dados, nada justifica o comportamento de “xerifes” assumido por alguns gestores municipais, que impedem ou atrapalham a realização de uma pesquisa que, com o perdão da repetição, pode ajudar a salvar a vida de milhares de brasileiros", pontuou a UFPel.>
O Ibope Inteligência divulgou a mesma nota da universidade. Em um outro comunicado, a empresa garantia que todos os profissionais convocados para trabalhar nesta pesquisa foram treinados para aplicar os testes.>
"Tivemos o cuidado de selecionar apenas pessoas que não fazem parte dos grupos de risco e todas assinaram um termo declarado de não pertencimento ao grupo de risco. A equipe fez o teste rápido de covid-19, garantindo que todos que estão indo a campo não estão infectados".>