Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
No domingo, Bolsonaro tinha participado de um ato em que manifestantes pediram intervenção militar
Da Redação
Publicado em 21 de abril de 2020 às 05:15
- Atualizado há um ano
O presidente Jair Bolsonaro reforçou ontem o compromisso com a Constituição e o respeito à Democracia. Após discursar em um ato em que participantes pediam uma intervenção militar, no último domingo, o presidente foi alvo de manifestações contrárias de líderes do Legislativo, 20 governadores e do presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli.
Além disso, o procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu autorização para investigar o ato organizado em frente ao Quartel General do Exército. Ele não mencionou diretamente Bolsonaro. Até mesmo militares da ativa e da reserva fizeram chegar ao presidente a informação de que não gostaram do que se passou.
“Eu sou a Constituição”, afirmou o presidente ao deixar o Palácio da Alvorada, ontem pela manhã. Ele se dirigiu aos jornalistas e avisou que não responderia nenhuma pergunta. Queria fazer uma declaração. “No que depender do presidente Jair Bolsonaro, democracia e liberdade acima de tudo”, afirmou ao deixar o Palácio da Alvorada pela manhã. No domingo, em cima da caçamba de uma caminhonete, Bolsonaro afirmou que “acabou a época da patifaria” e gritou palavras de ordem como.
“Nós não queremos negociar nada. Nós queremos ação pelo Brasil”, declarou o presidente no domingo. “Chega da velha política. Agora é Brasil acima de tudo e Deus acima de todos”, declarou.
Já ontem, o presidente procurou mudar o tom. “Peguem o meu discurso. Não falei nada contra qualquer outro Poder. Muito pelo contrário. Queremos voltar ao trabalho, o povo quer isso. Estavam lá saudando o Exército brasileiro. É isso, mais nada. Fora isso é invencionice, tentativa de incendiar a nação que ainda está dentro da normalidade”, disse em “live” transmitida por suas redes sociais.
Além de defender o governo e clamar por intervenção militar e um novo AI-5 - o mais radical ato institucional da ditadura militar (1964-1985), que abriu caminho para o recrudescimento da repressão – os manifestantes aglomerados em frente ao quartel-general do Exército neste domingo defenderam o fechamento do STF e do Congresso Nacional.
Segundo o presidente, a pauta do ato que teve sua participação era apenas “povo na rua, dia do Exército e volta ao trabalho”. Confrontado com o fato de que os manifestantes também pediam a volta do AI-5, afirmou que “pedem desde 1968” e disse que “todo e qualquer movimento tem infiltrados”.
Aras pede investigação sobre atos pró-ditadura
O procurador-geral da República, Augusto Aras, solicitou ontem ao Supremo Tribunal Federal (STF) a abertura de um inquérito para investigar “fatos em tese delituosos” envolvendo a organização de protestos antidemocráticos realizados no domingo. O pedido não mira o presidente Jair Bolsonaro, que participou e discursou.
Internamente, a postura de Aras, no entanto, gerou críticas de integrantes do Ministério Público Federal (MPF), que avaliam que o procurador ficou “em cima do muro” ao deixar de lado a participação de Bolsonaro.
Aras alegou que o Estado brasileiro só admite a “democracia participativa”.
O procurador pretende apurar se houve nos protestos violação à Lei de Segurança Nacional, que estabelece pena de até 15 anos para quem “tentar mudar, com emprego de violência ou grave ameaça, a ordem, o regime vigente ou o Estado de Direito”. A legislação também prevê 4 anos de reclusão para quem caluniar ou difamar o presidente da República, do Senado Federal, da Câmara dos Deputados ou o do STF. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), foi um dos principais alvos do protesto.
Toffoli diz que não há solução sem democracia
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, disse ontem que o autoritarismo e os fundamentalismo são “nefastos”. Ao participar de uma videoconferência com representantes de seis entidades, Toffoli afirmou que não há qualquer solução para o País que não seja dentro da democracia.
Em sua fala, Toffoli frisou “quão nefasto é o autoritarismo, o quão nefasto são os fundamentalismos, o quão nefasto é o ataque às instituições e à democracia”.
“Não é possível admitir qualquer outra solução que não seja dentro da institucionalidade, do Estado democrático de Direito, da democracia”, afirmou. No domingo, outros ministros do Supremo repudiaram o ato. O ministro Marco Aurélio Mello chamou os manifestantes de “saudosistas inoportunos”. Luís Roberto Barroso Gilmar Mendes também fizeram críticas.
Ministro da Defesa diz que Forças garantem estabilidade
O ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, afirmou que as Forças Armadas trabalham para “manter a paz e a estabilidade do País, sempre obedientes à Constituição Federal”.Em nota enviada à imprensa, Fernando Azevedo e Silva diz que o momento exige “entendimento e esforço de todos os brasileiros” e ressalta que nenhum país está preparado para uma pandemia. Reservadamente, membros das forças armadas criticaram o ato em frente ao QG do Exército. O ministro da Defesa diz ainda que “essa realidade requer adaptação das capacidades das Forças Armadas para combater um inimigo comum a todos: o coronavírus e suas consequências sociais. É isso o que estamos fazendo”, finaliza.