Ana Dumas apresenta exposição virtual sobre colonização no Brasil

Mostra Colôniavírus estreia nesta terça (31), meslacndo tecnologia, história e pandemia; live no Instagram marca vernissage online

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  • Da Redação

Publicado em 31 de agosto de 2021 às 13:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: reprodução

Foi no rio Caí, localizado no município baiano de Prado, que a frota de Pedro Álvares Cabral desembarcou em 23 de abril de 1500, iniciando o processo de colonização no Brasil. Foi também em Prado, que a filósofa e artista multimídia Ana Dumas se isolou durante boa parte da pandemia, se distanciando da Capital, mas se aproximando do mundo através da internet e das plataformas digitais. O encontro entre tecnologia, história e pandemia, foi o que despertou em Dumas a ideia para a construção da exposição virtual Colôniavirus, que, a partir de 25 obras, pensa a colonização do Brasil como um vírus que, assim como o corona, espalhou-se, deixando sequelas irreparáveis na sociedade.

A exposição, de acesso gratuito, ficará hospedada no site coloniavirus.art.br e será lançada nesta terça (31), às 19h, através de uma live no instagram (@colonia_virus), com participação da filósofa e dos artistas Ramon Gonçalves e Laís Machado, que também fazem parte do processo.

“Nesse momento de imersão tecnológica comecei a pensar sobre esse vírus da informática, que invade, corrompe, destrói e como isso tinha a ver com o lugar em que eu estava, que também foi invadido e corrompido pela colonização. Comecei também a prestar atenção em como eu reproduzo muitas ideias coloniais, como cada um de nós somos replicantes desse vírus. E a partir daí muitas questões foram surgindo: Por que os portugueses foram embora, mas a mentalidade colonial continua? Quem alimenta isso? Como a gente pode agir para que isso seja interrompido?", reflete Ana Dumas. Frame da obra Não Me Apague, de Ana Dumas (reprodução) A relação com o virtual é incorporada também nos formatos das 25 obras, que abarcam 15 conceitos propostos por Dumas e mesclam o analógico com o digital. Na exposição é possível ver impressões em lambes, pinturas, formatos artesanais com interferências digitais, além  de peças sonoras sob o formato de cards, gifs, fotografias, fragmentos de vídeos e colagens digitais.

Dumas cita a hierarquia de classes, o capitalismo, o racismo, o machismo, e sobretudo, o patriarcado, como algumas das ideias oriundas do colonialismo, o que reitera a necessidade de combater esse vírus e repensar as estruturas sociais tomando como base formas de viver ancestrais que foram dizimadas pela chegada dos povos europeus.

“Aqui no Prado eu vivo no que chamo de quilombolha. E é aqui que eu tento me reencontrar comigo mesma, com a minha cultura cabocla, totalmente oral, com a minha relação com a natureza, com as plantas e com o cultivo. Cresci numa família liderada e sustentada por mulheres, totalmente matriarcal, e retomar isso para minha vida e para a forma como eu enxergo o mundo, significa combater o patriarcado, ser um antivírus da colonização”, afirma Dumas.

“Assim como o coronavírus, a colonização não foi um problema de um ou outro país, foi um problema para a humanidade, que exigiu diversas formas de reinvenção. Nessa exposição eu proponho isso, formas de nos reinventarmos, não necessariamente criando coisas novas, mas retomando formas viver que foram apagadas pela colonização”, finaliza a filósofa.