Em novo álbum, Céu mostra potencial como intérprete

Ela canta de da ultraromântica Feelings ao pagode Deixa Acontecer, do Revelação

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  • Roberto Midlej

Publicado em 24 de novembro de 2021 às 15:49

- Atualizado há um ano

. Crédito: Cássia Tabatini/divulgação

O que fazem músicas de Rita Lee, Antonio Carlos & Jocafi e um samba do grupo de Revelação num mesmo álbum? E que o você diria se também estivessem ali canções internacionais, como a melosa e romântica Feelings, além de I Don't Know, do Beastie Boys, banda nova-iorquina associada ao hip hop? "É apenas mais uma salada musical de um artista sem identidade", você deve estar pensando.

Mas, definitivamente, está bem longe de ser isso: na voz da paulista Céu e sob a produção de Pupillo - que é também marido da cantora -, o álbum Um Gosto de Sol, já disponível nas plataformas de música, consegue atingir uma impressionante coesão, mesmo com um repertório tão diversificado. 

Céu, que tem uma consistente carreira como compositora, já tendo gravado outros cinco álbuns apenas com suas criações, finalmente está lançando um disco apenas como intérprete, o que era um antigo desejo da artista, que gravou seu primeiro trabalho em 2005. "Essa intérprete convive comigo desde sempre, afinal entrei na música como intérprete, mas acabei me descobrindo como compositora. Mas quase todos discos meus tem alguma versão como intérprete", revela a cantora. 

Para escolher o repertório, Céu teve o auxílio de Pupillo, do jornalista e produtor Marcus Preto e do pai, Edgard Poças, grande conhecedor da música brasileira e veterano compositor que já foi gravado por artistas dos mais diversos gêneros, passando por Tim Maia, Mônica Salmaso e Balão Mágico. 

O resultado é a já mencionada diversidade do repertório com canções de dos mais distintos gêneros e épocas. A mais antiga é o samba Ao Romper da Aurora, gravada por Ismael Silva em 1957. A mais recente é o pagode Deixa Acontecer, gravada pelo Revelação - grupo que revelou Xande de Pilares - em 2001.

Marcus Preto, conhecido por seu trabalho como produtor e diretor artístico de Gal Costa e Tom  Zé, assume que, inicialmente, ele e Pupillo resistiram muito à ideia de Céu de gravar um pagode. Mas a insistência da cantora foi tanta que eles acabaram cedendo. "Eu e Pupillo fingíamos que não era com a gente. Nada contra [pagode], mas a gente achava que não ia dar certo. Mas ela insistia e a gente desconversava. Uma hora, 'foi'. E ficou bom, deu certo. Ou seja, ela estava certa o tempo todo", diz Marcus.

Talvez a intenção de Céu, na escolha das canções, nem tenha sido supreender. Mas o fato é que ela conseguiu. "Todo mundo sabe que gosto de Rita [Lee], que sou filha do Tropicalismo, que gosto de samba... Mas sei que ninguém sabia que eu gostava de Fiona Apple ou que gostava de pagode. Queria me aproximar ainda mais de quem me acompanha e de quem tá chegando agora", revela a cantora.

A banda de Um Gosto de Sol é formada basicamente por Pupillo (bateria, percussão e produção do álbum), Andreas Kisser (violão de sete cordas) e Lucas Martins (baixo). Mas tem também participações adicionais de Hervé Salters e Rodrigo Tavares (teclados), do veterano maestro Jota Moraes (vibrafones) e do DJ Nyack (beats e programações).

Andreas Kisser, guitarrista do Sepultura, está em todas as canções do álbum de Céu, tocando violão sete cordas. Andreas havia publicado no Instagram um vídeo em que aparecia tocando chorinho num violão de náilon ao lado do filho. Foi daí que surgiu a ideia do convite. 

"Por que raios Andreas Kisser toparia entrar em uma empreitada dessas?", pergunta Marcus Preto em material distribuído à imprensa. "Por que pararia seu dia para se dedicar a fazer os violões para um álbum de intérprete? Pupillo rebateu, prático: “Porque ele deve estar em casa, trancado e entediado feito a gente”. Vale lembrar que a gravação aconteceu durante a pandemia. Assim que recebeu o telefonema, Kisser topou. "Mais do que isso, aprendeu a tocar violão de sete cordas especialmente para a feitura deste álbum", comemora Marcus.

Céu destaca a participação de Andreas, especialmente na canção que dá nome ao álbum, composição de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, gravada originalmente no clássico Clube da Esquina, de 1972. "É uma das faixas mais emocionantes, pela grandiosidade da canção, pelo enrosco que foi pro Andreas, que acaba sendo um dos protagonistas desta canção, onde tá tudo ali entregue no violão. Eu acho que o Pupillo também trouxe referências do Naná Vasconcellos, o grande Naná Vasconcellos; percussionista, parceiro do Milton", diz a cantora.