Olodum lança campanha rumo aos 40 anos

Para marcar as comemorações dos 39 anos e marcar os festejos seguintes, o bloco afro realiza show nesse domingo, no Pelourinho

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  • Carmen Vasconcelos

Publicado em 28 de abril de 2018 às 09:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Evandro Veiga

No próximo ano, o afro do Pelô, o Olodum, festejará quatro décadas de existência. Enquanto a data não chega, o Grupo Cultural Olodum realiza uma série de ações para marcar a efeméride. A primeira será realizada, domingo, com o Tributo Ranavalona III, que consiste num grande show, às 14h, na Praça Pedro Archanjo, Pelourinho.

De acordo com o vice-presidente Marcelo Gentil, o show encerra os festejos dos 39 anos e dá a partida para a campanha dos 40 anos. “Começaremos com as turnês pelo Brasil e viagens internacionais, a retomada de grandes seminários, além do Festival de Música e Artes do Olodum, o Femadum, que este ano ganhará uma semana para sua realização, reunindo feira de africanidades e workshops”, explica Gentil.

Mas não é só. As comemorações contemplam ainda a exposição Alma da Bahia, da fotógrafa e antropóloga italiana Patrizia Riancotti, com textos de Jorge Amado, a gravação de singles nas plataformas digitais, especialmente a música Sereia, de Alisson Lima, que foi apresentada nos desfiles do bloco no Carnaval 2018.

O show de amanhã fará uma viagem no repertório da banda, com clássicos  como Faraó, Avisa Lá, Rosa, Alegria Geral, Vem Meu Amor, Berimbau, Madagascar Olodum, Ladeira do Pelô, Protesto Olodum, Canto ao Pescador, Deusa do Amor e Jeito Faceiro. A apresentação terá mistura de músicas com conteúdos que levam à reflexão sobre a importância de uma cultura de paz, a exemplo de Mel Mulher, Manifesto Pela Paz, Mãe Mulher Maria Olodum, Eu Digo Jah e tantos outros hits. “O nome Tributo a Ranavalona III foi uma homenagem a uma soberana de Madagascar que se insurgiu contra o domínio francês e se transformou num grande símbolo da resistência negra. O nome dessa soberana aparece no primeiro álbum e achamos por bem recordar dela”, esclarece o representante do afro.

Gênese  O Olodum nasceu em 25 de abril de 1979. Naquela época, havia uma comunidade que morava no antigo Maciel, Centro Histórico de Salvador, que se via impossibilitada de brincar nos grandes blocos da capital baiana, pois as agremiações exigiam comprovante de residência e a localidade era extremamente marginalizada, vista como local de banditismo, fato que vetava a participação desse público,  composto de servidores públicos, funcionários do Polo Petroquímico e outros tantos que tinham condição financeira, mas não gozavam de prestígio social. 

“No início, o bloco não tinha outro objetivo, além de possibilitar que os moradores pudessem brincar”, diz Gentil, ressaltando que a criação de um bloco afro era mais barato, pois não exigia a contratação de um grande trio nem grande estrutura para organizar o desfile. “Além disso, o Ilê Aiyê, que havia sido criado quatro anos antes, fazia sucesso e nos deixamos empolgar por aquela proposta”, completa Marcelo. O vice- presidente ressalta que os desfiles se mantiveram até 1983, quando o bloco não saiu por falta de recursos. “As dificuldades não são uma realidade nova para os blocos afros”, completa, ressaltando que o revés terminou desestimulando a diretoria à frente do Olodum na época. O astro pop Michael Jackson foi uma das muitas celebridades que se encantaram com o sambareggae do bloco afro e eternizaram o Pelourinho para o mundo (Foto: Edson Ruiz/Arquivo Correio) Recomeços   “Quando, no ano seguinte, o bloco retomou suas atividades, já havia uma participação muito expressiva de integrantes que militavam nos movimentos estudantil, sindical e negro e o bloco ressurgiu com uma proposta de luta pelo social e contra o racismo”, conta.

O bloco, então, ressurge como Grupo Cultural Olodum e implementa o Projeto Rufar dos Tambores, que mais tarde se tornaria a Escola do Olodum. “Além da própria comunidade do Centro Histórico, muitos dos nossos músicos foram formados dentro da proposta que tem a cultura como arma de enfrentamento e desenvolvimento”, completa Gentil.

Na perspectiva de estimular a cultura e o orgulho da identidade negra, o Olodum traz para a pauta de discussões o movimento histórico da Revolta dos Búzios (também conhecida como Conjuração Baiana, denominada de Revolta dos Alfaiates), realizada no final do século XVIII (1798-1799).  “Trouxemos os nomes de João de Deus, Lucas Dantas, Manuel Faustino, Luiz Gonzaga, da Revolta dos Búzios para o panteão dos heróis nacionais”, completa, ressaltando que o Olodum passou a semear a ideia de que é possível realizar, fazer cultura, arte, educação e transformar um bairro inteiro, dando visibilidade a essa área da cidade.

“Essas iniciativas passaram a inspirar outras ações como o AfroReggae (RJ). Na verdade, deixamos sementes plantadas por todo o mundo e discutimos temas como campanhas contra as formas de violência e pela paz, bem como a luta internacional contra o apartheid na África do Sul”, finaliza Gentil.