Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Filme que foi exibido nos cinemas era uma versão enxuta da série com Andréa Beltrão, que estreia na Globo
Roberto Midlej
Publicado em 29 de julho de 2020 às 06:00
- Atualizado há um ano
A Globo não andava muito entusiasmada em exibir a série Hebe, já que nem o filme, lançado há quase um ano, nem a própria série - que está no catálogo da Globoplay desde janeiro - tiveram grande repercussão. Mas, em razão da pandemia de covid, foram suspensas as gravações de diversas produções e a emissora resolveu exibir reprises ou produtos já finalizados e inéditos.
Diante disso, finalmente chega à Globo, na noite de quinta-feira (30), a série de ficção baseada na vida de uma das apresentadoras mais populares da história da TV brasileira, interpretada por Andréa Beltrão numa fase e por Valentina Herzage no período mais jovem da protagonista.
Ao contrário do longa, que se concentra na fase da carreira de Hebe Camargo (1929-2012) dos anos 1980, a produção que chega à TV aberta retrata, em dez episódios, diversos momentos da Loiruda. Os episódios serão exibidos às quintas-feiras, após Fina Estampa. Valentina Herzage interpreta Hebe de 1943 a 1954 E não se pode dizer que é uma produção chapa branca, afinal estão registradas todas as contradições da personalidade de Hebe, que, se numa noite declarava apoio ao direitista Paulo Maluf, no programa seguinte bradava contra a absurda desigualdade de renda vigente no Brasil nos anos 80 - e que não é lá muito diferente nos dias de hoje.
Lélio Um dos pontos que mais surpreende é a forma como o casamento apresentadora com Lélio Ravagnani é retratado. Se na TV Hebe fazia juras de amor ao marido, o filme mostra que a convivência do casal estava longe de ser um conto de fadas. Lélio - interpretado por Marco Ricca, novamente muito preciso em sua atuação - era possessivo e revelava um ciúme doentio pela esposa.
A roteirista Carolina Kotscho diz que também ficou surpresa com a realidade do casamento: “Durante muito tempo, eu, como todos os brasileiros, ouvia falar da Hebe e do Lélio. Pareciam ter o casamento mais perfeito do mundo. Foi um choque descobrir que o relacionamento era abusivo, que ele era violento. O Brasil é campeão de feminicídio. Isso, a censura e a liberdade de expressão... É um filme muito atual”, disse Carolina Kotscho na época do lançamento do filme ao jornal O Estado de S. Paulo.
A autora diz que tudo o que está no filme é real, embora tenha recorrido a algumas licenças para dar mais dramaticidade à história.“Não inventei nada. Tudo o que a Hebe faz e diz no filme é documentado. Tomei liberdades na estruturação dramática, mas quem vê as entrevistas da Hebe no Roda Viva vai identificar a nossa personagem. A entrevista está na íntegra no YouTube. Hebe entrou intimidada, dizendo que todos aqueles entrevistadores iam trucidá-la, e terminou aplaudida de pé”.O roteiro revela também uma Hebe bem geniosa, firme na luta pela liberdade de expressão, quando o Brasil engatinhava na redemocratização após a ditadura militar. Por causa dessa firmeza, teve uma discussão séria com Walter Clark, diretor da Band na época, emissora onde a apresentadora estava. Clark, por pressão do governo, comunicou a Hebe que ela deveria gravar seus programas, em vez de apresentá-lo ao vivo. Dessa forma, poderiam controlar o conteúdo. Mas a Loira não arredou o pé e insistiu em gravar ao vivo, mantendo seus firmes discursos.
Vale ressaltar também a atuação de Andréa Beltrão, que evita fazer uma caricatura de Hebe, o que seria uma grande tentação, já que a apresentadora era bem “imitável”.
A atriz, que é dirigida pelo marido Maurício Farias, conta como se preparou para o papel:“Vi milhares de horas de vídeos, quilômetros de fotos, ouvi centenas de vezes as mesmas músicas. Fiz muita aula de prosódia com Íris Gomes da Costa, muita aula de canto com a cantora e arranjadora Cris Delanno, e muita aula preparação corporal com a bailarina e coreógrafa Marina Salomon. Estudei sem parar”.