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Seis em cada dez mães acaba atendendo desejos dos filhos e compram presente além da conta
Priscila Natividade
Publicado em 8 de outubro de 2015 às 06:28
- Atualizado há um ano
Quando entrou ontem em uma loja de brinquedos, a pequena Ana Luiza, 8 anos, foi em busca de uma máquina de fazer sorvete, por R$ 149. Até chegar à prateleira, já estava agarrada ao diário da Barbie, R$ 10 mais caro que a sorveteria e de olho em outro brinquedo. “Ai meu Deus, eu escolho o quê? Quero os três, mãe”, decretou.
Apelos como o de Luiza são responsáveis por 64,4% dos gastos além da conta das mães, conforme aponta o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). Além disso, 46% não impõem regras para presenteá-los, o que para a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, irá dificultar um ajuste financeiro nas contas em tempos de crise.
“É a falsa sensação de que você está compensando alguma coisa. Fica muito difícil convencê-la de que é preciso ajustar o padrão de vida agora e que nesse momento todo mundo vai precisar fazer uma concessão”, explica.Mãe de Ana Luiza, a instrumentadora cirúrgica Ramona Souza assume que tem dificuldades de impor limites. “É terrível. Eu não ia nem entrar na loja, mas quando vi, ela já estava aqui dentro”, conta ela, que diz evitar sair com a filha. “Já cheguei a me endividar por causa disso. No aniversário, ela pediu uma moto elétrica que custou mais de R$ 800 e se ela brincou duas vezes, foi muito”, acrescenta ela.Para a economista-chefe do SPC Brasil, além do exemplo, o que vale nesta hora é impor o limite. “A última palavra não pode ser da criança. A gente sabe que os pais têm uma boa intenção de agradar, mas se você for dar tudo que o filho quiser, ele não vai dar valor a nada, já que sempre teve tudo muito fácil”, avisa.
LimitesCom a proximidade do Dia das Crianças, a bancária Vênus Leite tirou o dia para pesquisar o preço do presente que pensa em comprar para a filha, Lana, 5 anos. A lembrança não vai passar de R$ 170. “Eu não pergunto muito o que ela quer, mas compro algo dentro do gosto dela e das minhas possibilidades”, conta. Entre as opções está uma boneca ou um patins. “Mostro a ela todos os dias que não dá para ter tudo, até porque não tem condições. Pode até haver uma birra no início, mas ela sempre entende”, afirma. Marcela Kawauti reforça ainda que os pais precisam iniciar desde cedo a educação financeira dos seus filhos e buscar outras soluções. “É importante oferecer só aquele brinquedo que cabe no orçamento. Outra sugestão é propor trocas inteligentes. Tenta trocar este brinquedo por uma experiência que a criança vai gostar de viver junto com seus pais”, recomenda Marcela. MercadoPreocupado com as vendas para o Dia das Crianças, as lojas de brinquedos contam com o apelo dos pequenos para esquentar as vendas. Na loja Humpt Dumpt, no Shopping Barra, a movimentação caiu 12%, quando comparada ao qque se verificou no mesmo período do ano passado. O tíquete médio, segundo a gerente comercial da loja, Soani Rios, não deve passar de R$ 70, metade do valor que foi pago em 2014. “Esse ano não é o ano das crianças, mas sim o ano dos pais. Eles é quem estão fazendo a escolha do presente por conta da crise e da diminuição do poder de compra. Eles não têm levado mais a boneca mais cara da Frozen, mas buscado pelo menos, algum outro item mais barato com aquele mesmo personagem, por exemplo”, explica. Ainda assim, as cerca de 200 unidades das novas bonecas da série Descendentes da Disney, que tem causado frisson entre as meninas, que custavam R$ 199, esgotaram-se em menos de 15 dias. “A gente tem apostado muito em descontos, facilidade de pagamento e oferta de brindes para atrair o consumidor e vencer essa cautela em gastar”, ressalta.
41,2% dos pais devem gastar menos com presentesPor conta do endividamento dos pais, a expectativa é que 41,2% dos consumidores gastem menos com presentes no Dia das Crianças deste ano, na comparação com a mesma data do ano passado. Segundo dados do SPC Brasil, a média de gastos é de R$ 160, 43% a menos que em 2014. Entre aquilo que cabe no bolso dos pais e a lista de desejos dos filhos, no Dia das Crianças, o educador financeiro Angelo Guerreiro recomenda muita conversa e um bom acordo. “É um exercício familiar que deve começar com o exemplo dos pais de desenvolver o conceito de utilidade em vez de futilidade. Mostre o limite de até onde dá para comprar e negocia”, diz. Levar a criança para pesquisar preços é uma alternativa. “É preciso despertar nela a noção de que é necessário planejar, que há um esforço para conseguir comprar aquilo e que cartão não é varinha mágica”, ensina.