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Carmen Vasconcelos
Publicado em 25 de agosto de 2025 às 06:00
Com orçamentos mais enxutos, alta rotatividade e um mercado de trabalho em constante transformação, as empresas nacionais estão recorrendo ao quiet hiring, uma estratégia que prioriza a realocação interna de talentos ao invés da abertura de novos processos seletivos externos. >
Segundo o porta-voz do software de RH Pandapé Thomas Costa, o Quiet hiring não é só uma tendência, é uma necessidade. “Diante dos desafios econômicos, da instabilidade e da escassez de mão de obra qualificada, olhar para dentro da empresa tornou-se uma das soluções mais inteligentes e sustentáveis", afirma Costa. >
Segundo ele, essa estratégia consiste em suprir lacunas de habilidades, funções críticas ou demandas de novos projetos por meio da mobilidade interna — seja por promoções, movimentações laterais ou designações temporárias. "Diferente dos processos tradicionais, o quiet hiring não envolve abrir vagas no mercado. O foco está em redistribuir, desenvolver e capacitar quem já faz parte do time", explica Costa. >
Diretor Regional LHH Nordeste Marcelo Botelho pondera que a estratégia de Quiet Hiring não é uma grande inovação no mercado, muitas empresas já adotavam essa estratégia, através de programas internos de avaliação de performance e por atividades constantes de calibração. “As organizações identificam talentos mais propensos a assumir novos papéis e utilizam isso como ferramenta de retenção e aceleração de carreira”, reflete. >
Avanço>
“O conceito ganhou força porque equilibra dois desafios críticos: pressão por eficiência de custos e necessidade de manter a produtividade em um ambiente de negócios volátil que tem sofrido com tantos impactos macroeconômicos e políticos”, completa Botelho. >
O avanço do quiet hiring está diretamente relacionado às recentes mudanças recentes no comportamento do mercado de trabalho. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostram que, só em janeiro de 2025, 37,9% dos desligamentos no país foram por pedido voluntário, o maior índice para o mês desde o início da série histórica. >
"Os profissionais estão cada vez mais exigentes em relação ao desenvolvimento de carreira. O quiet hiring surge como um ponto de equilíbrio: oferece crescimento interno sem a necessidade de novas contratações", observa Costa. Além das promoções, a prática pode incluir mudanças temporárias de função para cobrir férias, licenças ou liderar projetos específicos; movimentações laterais focadas no desenvolvimento e ampliação de repertório; participação em equipes ou comitês interdisciplinares, onde colaboradores atuam além de suas funções habituais; promoções definitivas, quando há alinhamento de perfil e necessidade.>
Cuidados>
Apesar dos benefícios, Thomas Costa alerta que, se mal conduzido, o quiet hiring pode gerar efeitos colaterais como sobrecarga, desmotivação e até riscos trabalhistas. >
"É fundamental que o RH e os gestores conduzam esse processo com clareza, alinhando expectativas, oferecendo suporte e garantindo que não haja acúmulo de funções sem a devida compensação, seja financeira, em benefícios ou em desenvolvimento", explica. >
Também é essencial respeitar a legislação trabalhista. Mudanças permanentes no escopo, carga horária ou nível de responsabilidade devem ser formalizadas para evitar riscos jurídicos. >
"O quiet hiring não pode ser visto como uma forma de economizar às custas do bem-estar dos colaboradores. Ele só funciona quando faz parte de uma estratégia estruturada de gestão de pessoas", afirma. >
Botelho defende que é de extrema importância ter clareza sobre expectativas e tentar atrelar esse projeto por um período determinado ou negociar contrapartidas. "Deve-se ser sempre maleável e entender a aplicabilidade (ou não) da estratégia do quiet hiring diante de vários contextos”, finaliza.>
Como implementar de forma segura? >
Thomas destaca passos essenciais para que o quiet hiring aconteça de forma responsável e eficiente: >
1.Seja transparente de verdade: explique o motivo da movimentação e os benefícios esperados — para o negócio e para o colaborador; >
2.Mapeie talentos com dados: use avaliações de desempenho, feedbacks e perfis comportamentais para identificar quem pode assumir novas funções;>
3.Defina critérios claros e comunicáveis: evite decisões subjetivas; >
4.Tenha regras simples para movimentações e compartilhe com o time; >
5.Cuidado com a sobrecarga: antes de mover alguém, avalie sua rotina atual; >
6.Delegue tarefas antigas ou reorganize prioridades;>
7.Formalize mudanças quando necessário: mudanças permanentes ou com impacto salarial devem ser oficializadas no contrato; >
8.Ofereça suporte real: prepare a pessoa para o novo desafio com treinamento, mentorias e metas claras de evolução; >
9.Faça check-ins constantes: acompanhe de perto a adaptação; >
10.Ouça feedbacks e ajuste o plano, se necessário.>