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Carmen Vasconcelos
Publicado em 17 de dezembro de 2025 às 17:53
À medida que o ano chega ao fim, muitos profissionais aguardam ansiosamente por uma pausa merecida após meses de demandas ininterruptas, prioridades em constante mudança e pressão contínua por resultados. Ainda assim, para um número significativo de pessoas, desconectar durante as festas de fim de ano se mostra surpreendentemente difícil. E-mails continuam sendo checados, listas de tarefas seguem rodando em segundo plano e a culpa frequentemente substitui o descanso. Para alguns, o período de férias se torna a única janela para avançar em projetos importantes ou objetivos pessoais que exigem foco sem interrupções. >
Esse comportamento não está relacionado apenas ao workaholism. Em muitos casos, reflete uma sobrecarga real. Profissionais em cargos de alta responsabilidade ou que lidam com prioridades complexas ao longo do ano frequentemente usam o tempo off para concluir tarefas que não cabem em momentos fragmentados. Empreendedores, profissionais de alta performance e pessoas cujas funções exigem disponibilidade constante costumam enxergar as festas como uma rara oportunidade de retomar o controle da própria carga de trabalho.>
De acordo com a Hogan Assessments, líder global em ciência da personalidade com mais de 11 milhões de avaliações realizadas em todo o mundo, a dificuldade de “desligar” está fortemente ligada a características individuais de personalidade que moldam a forma como as pessoas se relacionam com responsabilidade, realização, controle e incerteza. Pesquisas de longa data da Hogan mostram que o desafio de desconectar não é distribuído de maneira uniforme — alguns profissionais sofrem muito mais com isso do que outros.>
1. Você se sente responsável por tudo — mesmo quando deveria estar off>
Pessoas com padrões extremamente elevados frequentemente se sentem pessoalmente responsáveis por resultados e detalhes. Para elas, se afastar do trabalho pode rapidamente gerar ansiedade sobre erros, atrasos ou coisas que podem não estar sendo conduzidas corretamente em sua ausência. Mesmo durante as férias, podem se sentir compelidas a monitorar situações ou “colocar tudo em dia” em silêncio, movidas por um profundo senso de responsabilidade em relação ao cargo, à equipe ou à organização.>
2. Você não “desliga” emocionalmente dos problemas das outras pessoas>
Profissionais que atuam em áreas de cuidado ou orientadas a impacto — como saúde, educação ou setor social — muitas vezes carregam uma responsabilidade emocional que vai além das atribuições formais. Embora consigam se afastar fisicamente, desconectar mentalmente pode ser muito mais difícil. A preocupação com pacientes, alunos, equipes ou comunidades costuma acompanhá-los durante o período de descanso, tornando o relaxamento genuíno um desafio. >
“Depois de um ano inteiro de pressão e demandas constantes, desconectar deveria ser algo natural — mas, para muitas pessoas, isso acaba gerando ansiedade”, explica Ryne Sherman, Chief Science Officer da Hogan Assessments. “Quando realização, controle ou responsabilidade estão fortemente ligados à identidade, as férias podem parecer a perda de uma parte de quem você é.”>
3. Diminuir o ritmo parece arriscado — como se você pudesse perder o embalo>
Empreendedores e profissionais de alta performance costumam ser movidos por ambição, competitividade e um forte desejo de avançar. Durante as festas, podem temer perder ritmo ou deixar oportunidades passarem, o que os leva a permanecer parcialmente conectados ao trabalho. Para esses profissionais, descansar pode parecer improdutivo — mesmo quando o cansaço sinaliza claramente que a pausa é necessária.>
4. Descansar causa desconforto porque estar ocupado parece sinônimo de valor>
Muitos profissionais que têm dificuldade em desconectar também encontram desafios em delegar ou abrir mão do controle. Confiar que outras pessoas cuidarão das tarefas durante sua ausência pode ser desconfortável, levando a checagens frequentes “só por garantia”. Para outros, o desafio é mais interno: o senso de valor pessoal está profundamente ligado à produtividade. Quando estar ocupado equivale a ser valioso, o descanso pode parecer imerecido, gerando culpa em vez de alívio.>
A Hogan também destaca que esses padrões costumam ser intensificados pelo burnout e pela sobrecarga mental. Quando as festas chegam, meses de demandas sucessivas deixam os profissionais mentalmente exaustos, dificultando o relaxamento. Nesse contexto, as férias passam a ser menos sobre recuperação e mais sobre sobrevivência — uma chance de finalmente focar sem interrupções.>
O que realmente ajuda>
A Hogan enfatiza que a capacidade de desconectar não depende de força de vontade. Trata-se de uma habilidade comportamental moldada pela personalidade. Planejar a carga de trabalho com antecedência pode reduzir a ansiedade de quem se preocupa excessivamente com detalhes. Estruturas claras de delegação ajudam profissionais que têm dificuldade em abrir mão do controle. Estabelecer limites explícitos com a tecnologia apoia pessoas altamente motivadas que permanecem conectadas por hábito. E ressignificar o descanso como uma necessidade — e não uma recompensa — ajuda quem associa produtividade a valor pessoal.>
“Descansar não é um luxo; é essencial para a eficácia sustentável”, acrescenta Ryne Sherman, Chief Science Officer da Hogan Assessments. “Entender as próprias características permite desconectar sem culpa e retornar com mais clareza, energia e foco.”>
A Hogan reforça que aprender a separar identidade de produtividade constante é fundamental para construir hábitos mais saudáveis em relação ao trabalho e ao descanso. Ao reconhecer esses padrões, profissionais podem encarar o período de festas com mais consciência — e criar espaço para uma recuperação que realmente perdure.>
Com assessoria>