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Carmen Vasconcelos
Publicado em 25 de agosto de 2025 às 06:30
Há cerca de dois anos, o escritório onde Lucimária Carvalho, 38, trabalhava perdeu, de forma repentina, um dos sócios. A situação gerou um conflito entre os herdeiros e os sócios, que deixou os funcionários em uma situação delicada, com o receio de encerramento das atividades e, consequentemente, a perda dos postos de trabalho. “Foi um período bem difícil porque ninguém queria sair, mas o estresse era muito grande”, relembra a funcionária. >
Nessa época, o grupo de colegas passou a se reunir sempre às sextas-feiras para um happy hour no final do expediente, na tentativa de relaxar das tensões. O que começou informalmente, aos poucos, se transformou num compromisso aguardado e foi o que sustentou o grupo coeso até a resolução do imbróglio. “Posso assegurar que, se não fosse a rede de apoio que se formou, muitos de nós teria adoecido ou pedido para sair”, conta. >
Um levantamento do site Época Negócios mostrou que quem tem amizades próximas no trabalho é 43% mais comprometido e 27% mais satisfeito, além de se beneficiar de um sistema de apoio que melhora a saúde mental, a colaboração e a inovação. >
De acordo com a coordenadora do curso de Psicologia da Unijorge Kátia Jane , as amizades e vínculos saudáveis dentro das empresas têm impacto direto na produtividade e no engajamento dos colaboradores. “As amizades desenvolvidas nos ambientes de trabalho funcionam como um sistema de apoio natural, e favorecem o sentimento de conexão de pertencimento gerando motivação intrínseca”, ressalta. >
Inovação e resultados >
A psicóloga vai além e afirma que as relações de amizade no trabalho reduzem o estresse, favorecem a colaboração e ampliam a criatividade. “Equipes que confiam umas nas outras tendem a assumir riscos de forma mais saudável, o que gera inovação e impacto direto nos resultados da organização", complementa. >
Um estudo da Harvard Business Review indica que colaboradores que trabalham em ambientes emocionalmente positivos são até 31% mais produtivos, têm 37% mais vendas e são três vezes mais criativos. Para Izabela Holanda, diretora da IH Consultoria e Desenvolvimento Humano, esse é um sinal claro de que investir em um clima emocional saudável é uma das estratégias mais eficazes para melhorar o desempenho organizacional, especialmente em cenários de alta pressão e competitividade.>
Um estudo de 2020 da Deloitte indicou que o senso de pertencimento é um dos maiores impulsionadores do bem-estar no trabalho. >
“Ter amigos no ambiente de trabalho ajudam a reduzir o sentimento de isolamento aumentando o bem-estar e contribuem para a saúde mental. Para muitos profissionais, a qualidade das relações no trabalho é tão importante quanto o salário ou os benefícios na definição da satisfação geral com a carreira. Trabalhar em um ambiente socialmente acolhedor fortalece a energia psíquica do indivíduo”, explica a professora. Kátia reforça que o senso de pertencimento é, justamente, o que mais se fragiliza quando os vínculos presenciais diminuem. >
“Pertencimento nasce quando o indivíduo sente que sua singularidade é reconhecida e valorizada”. Na opinião da psicóloga, as organizações podem se beneficiar muito desses laços e,para tanto, podem fortalecer as amizades investindo em culturas inclusivas, definindo valores e propósito organizacional de forma que cada colaborador se sinta parte de algo maior. >
“Investindo em lideranças capacitadas para reconhecer pessoas, que sejam mediadores do laço social na medida em que sejam capazes de praticar escuta, proximidade e cuidado. É preciso investir, manter a transparência, participação em decisões e reconhecimento coletivo”, defende a professora. Para ela, a oferta do reconhecimento contínuo, celebrando as conquistas coletivas e individuais, além dos pequenos gestos de valorização fazem muita diferença no trabalho remoto, por exemplo. >
Pós-pandemia >
Kátia Jane diz que os espaços laborais no pós-pandemia trouxeram um desafio para as organizações, que precisaram pensar para além da lógica puramente operacional. “À medida que o distanciamento físico reduziu a intensidade dos laços cotidianos, a exemplo do momento do cafezinho, conversas nos corredores, almoço com colegas, e gerou um certo empobrecimento dos vínculos espontâneos, passou a ser necessário reconstruir o sentimento de pertencimento e cooperação”, afirma. >
Kátia Jane defende que a criação de espaços de convivência, projetos interdisciplinares e programas que valorizem a escuta e o encontro humano são ferramentas importantes nesses novos momentos. “É importante pensar em momentos de integração — formais e informais — que possam favorecer a criação e o fortalecimento de laços de confiança que vão além das atividades técnico-administrativas e do cumprimento de tarefas”, diz. >
“O cuidado com as pessoas precisa ser parte da cultura. Empresas emocionalmente inteligentes são aquelas que entendem que resultados sustentáveis nascem de relações saudáveis, e de ambientes que respeitam o foco e o bem-estar dos seus times”, finaliza Izabela Holanda.>