Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Carmen Vasconcelos
Publicado em 24 de novembro de 2025 às 06:00
A Bahia, que consolidou seu nome no mapa nacional da energia limpa, avança em uma nova e promissora frente: o aproveitamento de resíduos agrícolas e florestais, como bagaço de cana e lixívia (licor residual da celulose), para gerar energia térmica para as fábricas. >
Longe de ser apenas um modismo do Environmental, Social and Governance (Ambiental, Social e Governança), o ESG, a biomassa térmica está no radar das grandes indústrias como uma rota viável para a descarbonização. Mais importante, para a redução expressiva de custos, conforme aponta Gustavo Marchezin, diretor comercial da ComBio, empresa que atua no setor. >
"A energia térmica a biomassa, com toda certeza, traz redução expressiva de custos para o cliente que opta por deslocar a fonte fóssil. No balanço geral, a biomassa tende a ser a opção mais competitiva, especialmente na Bahia", afirma Marchezin. >
A estratégia é simples: transformar o que antes era lixo ou subproduto em vapor e calor, essenciais para setores como Papel e Celulose (onde já é realidade), Biocombustíveis e Química. >
Setores na Mira >
Álex Alisson Bandeira, professor Titular em Energia e Engenharia Térmica, destaca que a viabilidade da biomassa é regional, ligada à logística. "Não é viável transportar biomassa por longas distâncias, em função da baixa densidade energética. O potencial está ligado às grandes cadeias produtivas," explica. >
O Governo do Estado, através da Secretária de Infraestrutura, por sua vez, mapeou as regiões mais promissoras, que coincidem com os grandes polos de resíduos: >
Sul e Extremo Sul: Cana-de-açúcar e indústrias de papel e celulose. >
Oeste Baiano: Resíduos do agronegócio (milho e soja). >
Semiárido: Resíduos de dejetos de bovinos, que podem gerar biogás. >
Atualmente, a Bahia já conta com sete usinas termelétricas movidas a biomassa, somando 507,8 MW. Mais três usinas estão em fase de construção ou implantação, adicionando outros 124,8 MW à matriz energética do estado. Além da economia, o uso da biomassa atende diretamente aos rígidos critérios ESG (Ambiental, Social e Governança), tornando as indústrias baianas mais atrativas para o mercado global. >
Com a adoção de caldeiras a biomassa, é possível reduzir em cerca de 95% as emissões de Escopo 1 (emissões diretas) associadas às caldeiras existentes. >
"Com os desdobramentos da COP-30, imagem e certificações ESG virão como um ganho em especial. Descarbonizar passou a ser também um diferencial competitivo," afirma o professor Álex Bandeira. >
Postos de trabalho>
A cadeia de suprimento de biomassa também se revela um celeiro de novos postos de trabalho. Uma planta de médio porte pode gerar entre 400 e 500 empregos durante as obras e empregar cerca de 35 pessoas na operação, contra menos de quatro em uma unidade fóssil. >
A demanda é por um perfil técnico especializado: engenheiros e técnicos com foco na operação de centrais termoelétricas, caldeiras e processos de fermentação, além de pesquisadores em biogás e biocombustíveis. A FIEB já atua na formação desses profissionais com especializações em Descarbonização e pesquisa acadêmica. >
Para as indústrias, o caminho mais seguro para essa transição é o modelo de "vapor como serviço", onde empresas especializadas, como a ComBio, assumem toda a operação. >
"Nosso modelo permite que o cliente não precise realizar investimentos próprios nem se envolver na operação. Nós entregamos uma energia térmica competitiva, com pegada de carbono significativamente reduzida, sem que ele precise investir em um ativo que não é o foco de seu negócio", explica Gustavo Marchezin. >
Setores como Química e Petroquímica, Mineração, Pneus, Bebidas e Cervejarias são os que mais se encaixam nesse modelo. Com o apoio de programas estaduais, como o Desenvolve e o recém-lançado PROTENER, a Bahia reforça sua aposta em um futuro movido a fontes limpas, onde o resíduo tem valor estratégico.>