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Pobreza relacional: a nova crise silenciosa que adoece profissionais e derruba produtividade nas empresas

Especialistas apontam que a falta de vínculos genuínos, reconhecimento e pertencimento se tornou um dos principais riscos para a saúde mental e para os resultados das organizações

  • Foto do(a) author(a) Carmen Vasconcelos
  • Carmen Vasconcelos

Publicado em 24 de novembro de 2025 às 06:30

A falta de conexões humanas genuínas como o maior risco à saúde mental e à produtividade nas corporações
A falta de conexões humanas genuínas como o maior risco à saúde mental e à produtividade nas corporações Crédito: Shutterstock

Um esgotamento que não nasce do excesso de tarefas — mas da solidão. Esse é o eixo da nova crise corporativa que a especialista em experiência humana Marcela Rodríguez, Chief People Experience Officer da Nearsure, chama de “pobreza relacional”.

O termo descreve a carência sistêmica de vínculos profundos, reconhecimento e pertencimento, um problema estrutural que transforma a rotina profissional em um teatro de harmonia aparente, mascarando um adoecimento crescente.

Segundo o Ministério da Previdência Social, o país registrou 470 mil afastamentos por transtornos mentais em 2024, o maior número desde 2014 — um salto de 68%.

Fenômenos como quiet quitting, burnout e quiet cracking, para Rodríguez, são apenas sintomas de um mal maior: a desconexão humana. “A solidão não é falta de gente por perto — é falta de conexões significativas. Você pode estar em várias reuniões e ainda sentir que ninguém vê você”, afirma.

A especialista em experiência humana Marcela Rodríguez ressalta os risco da desconexão humana nas organizações
A especialista em experiência humana Marcela Rodríguez ressalta os risco da desconexão humana nas organizações Crédito: Divulgação

Chefe ausente

Para a especialista, muitas empresas continuam apostando em “soluções rápidas”:Programas de bem-estar que oferecem ioga em culturas com jornadas extensas e metas irreais viram iniciativas inócuas.

Pesquisas reforçam essa percepção: problemas como comunicação ineficaz (32%),excesso de trabalho (30%)e cultura tóxica (29%)são os maiores catalisadores de mal-estar.

Mesmo com o modelo híbrido dominante e interações digitais em alta, o efeito tem sido paradoxal: mais mensagens, menos conexão. O “papo no corredor”, antes essencial para criar confiança, deu lugar a reuniões rápidas e protocolares.

A solução, para Rodríguez, passa por uma mudança profunda de liderança:“Quando um líder demonstra humanidade e estabelece limites, não se fragiliza — ele abre espaço para que outros façam o mesmo”. No futuro do trabalho,

afirma, a força das relações será o maior diferencial competitivo, superando até a tecnologia.

Solidão estrutural

Tatiana Pimenta — referência nacional em saúde mental corporativa — reforça que a pobreza relacional é um fenômeno que transcende a solidão individual: é estrutural.“Produtividade existe; conexão, não”.

Tatiana Pimenta é fundadora e CEO da Vittude, referência no desenvolvimento e gestão estratégica de programas de saúde mental para empresas
Tatiana Pimenta é fundadora e CEO da Vittude, referência no desenvolvimento e gestão estratégica de programas de saúde mental para empresas Crédito: NICOLAS SIEGMANN/Divulgação

Segundo ela, a pobreza relacional surge quando faltam vínculos fortes, reconhecimento e apoio mútuo. "Não é subjetiva: é o ambiente que produz a sensação de desconexão. Conversas estritamente funcionais, relações frágeis, ausência de interesse genuíno e falta de pertencimento criam um vazio silencioso que abala saúde mental e desempenho coletivo", esclarece.

Quiet quitting, burnout e quiet cracking são sintomas, não causas. Tatiana é enfática:“Esses fenômenos não surgem por fragilidade emocional. São respostas a ambientes mal organizados, onde o ‘nós’ desapareceu”, reforça. Para a especialista, quando as relações são frágeis e o reconhecimento é raro, a autopreservação assume o lugar da colaboração.

Pimenta destaca três elementos centrais: Modelos de trabalho mal desenhados, especialmente o remoto sem intencionalidade de vínculo; interações exclusivamente funcionais, sem espaço para escuta e profundidade; Lideranças que não cultivam vínculos, promovendo uma indiferença organizacional que machuca.

Para a CEO, o problema começou antes do trabalho:“Vivemos distraídos. Famílias inteiras juntas, mas cada uma olhando o celular. Se alguém já não se conecta com os seus, dificilmente conseguirá se conectar com a equipe. O modelo híbrido apenas revela uma desconexão que já estava instalada na sociedade", pontua.

Liderança humana

No cenário atual, gestores precisam desenvolver uma nova competência: recriar presença humana. Isso envolve escuta profunda, conversas sensíveis, rituais de proximidade e capacidade de lidar com equipes emocionalmente fragmentadas.

“Liderança não é só técnica, é também relacional”, completa.

Por que as ações de bem-estar falham? A CEO da Vittude responde sem rodeios:“Essas iniciativas atacam o cansaço, mas não a desconexão. Sem rever processos, cultura, liderança e carga de trabalho, qualquer ação vira paliativo”. Para ela, o cuidado precisa estar integrado ao desenho organizacional, não restrito a eventos pontuais.

Empresas maduras já medem:segurança psicológica,pertencimento,percepção de apoio da liderança,clareza de papéis e redes de confiança (sociometria organizacional).Essas métricas revelam riscos psicossociais e pontos invisíveis da cultura.

Para Tatiana, relações fortes só se sustentam quando viram processo: encontros obrigatórios, rituais de check-in emocional, feedback estruturado, reconhecimento contínuo e metas de liderança ligadas à qualidade das relações. “Quando o vínculo vira sistema, a cultura muda”, afirma.

Os sinais de pobreza relacional aparecem tanto nas pessoas — retraimento, irritabilidade, perda de pertencimento — quanto nas equipes — câmeras desligadas, silêncio, falta de celebração, fofocas e colaboração mínima. A especialista é enfática em garantir que o maior risco é normalizar esses comportamentos.

No avanço da automação, Tatiana reforça que conexão humana será o grande diferencial competitivo: "criatividade, pertencimento e confiança não são automatizáveis. Por isso, pobreza relacional não é detalhe — é risco estratégico", finaliza.

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Empregos Saúde no Trabalho