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Nilson Marinho
Publicado em 5 de maio de 2025 às 05:00
Com o crescimento de 20% no número de profissionais nos últimos dois anos e 480 guias oficialmente em atividade em Salvador, a profissão de guia de turismo torna-se fundamental em uma cidade que, todos anos, recebe cerca de 3 milhões de visitantes nacionais e internacionais, segundo cálculo da Secretaria de Cultura e Turismo de Salvador (Secult). >
A ampliação da malha aérea internacional, o crescimento da visitação à cidade e a valorização de roteiros culturais e de experiência têm impulsionado tanto a procura por serviços personalizados quanto o interesse em se capacitar para atuar no setor.>
Para Andrea Bonfim, gerente de educação do Senac, investir na formação de guias significa estruturar o turismo como vetor de desenvolvimento. Ela cita que a formação técnica eleva a qualidade dos serviços, movimenta a economia e ajuda Salvador a se posicionar melhor no cenário nacional e Internacional.>
“Salvador tem uma identidade cultural única, reconhecida internacionalmente. Para transformar esse potencial em resultados, é essencial investir em qualificação profissional. A formação técnica profissional eleva o nível da qualidade dos serviços turísticos. Um guia de turismo qualificado ajuda a movimentar a economia local em todas as áreas, e consequentemente a excelência no atendimento turístico”, comenta.>
Na capital baiana, o Senac oferece formação gratuita através do Programa Senac de Gratuidade (PSG), com duas turmas em andamento na unidade do Senac Aquidabã. Os alunos, segundo ela, aprendem ética, comunicação, línguas estrangeiras, diversidade cultural e afroturismo, além de participarem de visitas técnicas a locais históricos e religiosos.>
“Durante a formação do curso Técnico em Guia de Turismo, nossos alunos desenvolvem competências para atuar com ética, domínio técnico, comunicação eficiente e valorização das diversidades culturais, preparando os profissionais guias para atuar na promoção da educação patrimonial e respeito a diversidade e a cultura local, reforçando a imagem de Salvador como um destino preparado, acolhedor e diferenciado no cenário nacional e internacional”, diz Andrea.>
Com duração média de dois anos, o curso técnico do Senac oferece uma formação ampla, com foco em turismo cultural, afroturismo, idiomas e visitas técnicas. Os alunos conhecem de perto espaços como igrejas, terreiros e museus, como diz Albérico Teixeira, instrutor do curso Técnico em Guia de Turismo>
“O mercado, atividade turística é extremamente heterogênea, portanto, necessita múltiplos conteúdos e variadas práticas. Assim sendo, o curso oferece uma diversificada gama de conteúdo, preparando-os razoavelmente bem para o exercício da atividade, todavia, só a prática diária e outros aprendizados complementares preencherão eventuais lacunas”, pontua.>
Segundo ele, a maioria dos alunos que procura o curso Técnico em Guia de Turismo já tem alguma experiência no setor, mas ainda atua na informalidade. A formação técnica, além de ser exigida por lei para o exercício da profissão, também oferece segurança jurídica e abre portas para novos mercados, como o turismo receptivo e os roteiros personalizados.>
Para Rivanete Rodrigues, presidente do Sindicato dos Guias de Turismo do Estado da Bahia, o papel do guia vai muito além de acompanhar visitantes. Mesmo com o crescimento de 20% no número de guias na capital baiana nos dois anos últimos anos, ela diz que a categoria ainda enfrenta desafios. Segurança pública, estacionamento para veículos de turismo e o exercício ilegal da profissão são uns deles.>
“Temos atuado junto a órgãos como Cadastur, Deltur, 18º Batalhão e Procon para coibir irregularidades. Estamos também desenvolvendo projetos de capacitação em línguas e afroturismo, tanto para iniciantes quanto para quem já está no mercado”, diz.>
Com quase duas décadas de experiência, Adelmo da Conceição Santos hoje trabalha de forma independente, promovendo roteiros personalizados com foco na cultura popular. 90% dos seus serviços são culturais.>
“Eu iniciei minha profissão junto a uma empresa de receptivo. Foram 12 anos atuando como CLT. Eu fazia muito roteiro de sol e mar, excursão de praias, mesclando com roteiros de cultura, roteiro patrimonial, roteiro popular. Minha prioridade agora é mostrar a cultura do povo, a ancestralidade. Ainda atendo empresas, quando sou chamado, mas o foco é outro.”>
Com credencial de guia técnico expedida pelo Senac Bahia e registro no Ministério do Turismo, Adelmo decidiu trilhar o próprio caminho. Criou seu portfólio, apostou em parcerias e, principalmente, passou a investir na personalização dos passeios. Desde que decidiu se tornar autônomo, o guia também enfrentou desafios. Entre eles, a informalidade de colegas não credenciados e a desconfiança de quem não conhece a função do guia profissional.>
“Essa formação técnica me fez ser o que eu sou hoje. Um pai de família, um provedor, uma pessoa independente. Durante o curso, eu me esforcei muito, participei de seminários, fiz leituras, fui atrás. E isso me deu uma base para tudo. Hoje eu atuo com segurança, com ética. E mostro para o turista que vale a pena contratar um profissional preparado. É outra experiência.”>
O controle financeiro é parte essencial da autonomia conquistada após deixar a rotina das agências de receptivo e passar a captar seus próprios clientes. Adelmo diz que tem meses que suas remunerações oscilam, mas que, durante o verão, seus ganhos mensais costumam variar entre R$ 5 mil e R$ 7 mil, considerando tudo que envolve a atividade: “Isso inclui as diárias que recebo, as comissões que ganho em lojas, as gorjetas que alguns passageiros deixam, e também os opcionais que ofereço, como sessões de fotos e roteiros extras”, explica.>