Emprego em alto mar: veja como trabalhar em cruzeiros

Cruzeiros buscam por profissionais das mais diversas áreas de atuação para trabalhar por até um ano em alto mar

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  • Nilson Marinho

Publicado em 20 de novembro de 2023 às 05:00

Até maio do próximo ano, 130 cruzeiros marítimos são esperados na Bahia. As embarcações já chegam à costa do estado abarrotadas de turistas, mas também de tripulantes, profissionais que asseguram que a experiência dos clientes em alto mar seja a melhor possível. Esses trabalhadores atuam nas mais diversas áreas, seja entretenimento, vendas e saúde. Muitas pessoas buscam essas oportunidades de emprego de olho nos salários, frequentemente pagos em moedas estrangeiras, e na perspectiva de explorar novos destinos, mantendo contato constante com diferentes culturas.

Talvez a maior dúvida de quem pensa em trabalhar em um cruzeiro seja a de como participar de uma seleção para fazer parte da tripulação. Tomaz Feitosa, analista de Recursos Humanos com uma década de experiência em duas empresas de cruzeiros, aconselha que o ponto inicial seja explorar os sites das próprias companhias ou de agências especializadas em recrutamento para a indústria de cruzeiros.

“As páginas das companhias contam com uma aba com ‘vagas’ e as descrições dos cargos. Se você acredita que se encaixa com a descrição, deverá anexar o currículo e aguardar os próximos passos. Uma coisa deve ficar clara: o inglês é fundamental. Geralmente, são processos bastante competitivos para as mais variadas áreas”, explica Feitosa.

As entrevistas, em sua maioria, são feitas por telefone ou por videoconferência. Se aprovado, afirma o analista de RH, o profissional passará por treinamentos específicos para sua função a bordo, além de uma bateria de exames. O contrato de trabalho pode durar meses ou até um ano, dependendo da política de cada companhia. Os salários também podem variar e dependem da posição e experiência dos funcionários, mas uma coisa é certa: as despesas com hospedagem e alimentação são custeadas.

Feitosa faz uma consideração importante para aqueles que querem se juntar à tripulação de um cruzeiro. “O profissional precisa ter em mente que ele estará embarcando a trabalho e não de férias. Como qualquer trabalho, há jornadas que podem ser cansativas, mas depende das funções. Você pode, por exemplo, trabalhar durante 12 horas e não ter a chance de descer no próximo porto para conhecer a cidade. Acontece, mas não é a regra”, lembra.

Vagas

O baiano Júnior Stunna trabalha há cinco anos em cruzeiros marítimos e é um criador de conteúdo com 142 mil seguidores apenas no Instagram, onde compartilha sua rotina em alto mar. Atualmente, ele está a bordo cumprindo a função de vendedor. Fazer parte de uma tripulação, diz, não foi algo planejado, mas a vontade veio logo após a sua irmã desembarcar de um cruzeiro, onde estava como passageira.

O baiano Júnior Stunna trabalha há cinco anos em cruzeiros marítimos Crédito: Acervo pessoal

“Minha irmã fez um cruzeiro na costa brasileira, relatou como foi e no final perguntou por que eu não aplicava a uma vaga, já que sabia inglês e gostava de viajar. Não passou muito pela minha cabeça, mas, depois de alguns meses, eu estava no fim da faculdade de engenharia de produção e decidi tentar. Sai aplicando para vagas para várias agências e fiz entrevistas para algumas companhias como americanas e italianas”, conta.

Stunna acredita que o setor está a todo vapor e que a demanda por profissionais é alta. Ele afirma que a empresa onde ele presta serviços constrói, em média, um navio por ano. Na embarcação em que ele está neste momento há, por exemplo, 1,7 mil profissionais. “[…] E existem muitas vagas. Desde a limpeza do navio, ao restaurante, bar, enfim. Eu sempre falo que o navio de cruzeiros é uma cidade flutuante. Então, você encontra de tudo”, completa o baiano.

Experiência

Aline Pimentel, jornalista, atriz e bailarina, tem 39 anos e começou a trabalhar em cruzeiros com 21 quando foi convidada pelo seu professor de dança a fazer uma audição para trabalhar no setor de entretenimento de um cruzeiro. O último contrato com uma companhia foi em 2013, quando ela ficou embarcada durante 10 meses seguidos viajando pela região do Mediterrâneo.

Durante o tempo em que trabalhou em cruzeiros, Aline aprendeu novas línguas, fez amizades que não se desfizeram em terra firme, passou por perrengues, mas sobretudo acumulou experiências que jamais serão esquecidas. Ela já esteve, por exemplo, a bordo de um navio comandado por Francesco Schettino, ex-capitão do cruzeiro Costa Concordia que naufragou em 2012, na Itália, resultando em várias mortes. Ele foi condenado a 12 anos de prisão por abandonar a embarcação antes que todos os passageiros fossem salvos.

Aline Pimentel tem 39 anos e começou a trabalhar em cruzeiros com 21 Crédito: Acervo pessoal

“Trabalhar em navio foi a oportunidade que tive de conhecer outros países. Eu nunca tinha saído do Brasil. Comecei a viajar com 21 anos pela costa, então, para mim, foi um universo que se abriu. Aprendi a falar outras línguas e me viro muito bem pelo fato de ter esse contato com pessoas de outros países. Já conheci mais de 15, 20 países”, calcula a ex-tripulante que também faz uma ponderação.

“As pessoas têm um pouco do romantismo de que trabalhar no navio é ter a mesma sensação de um passageiro. E não, não é. Porque o passageiro vai ter todo o tempo livre para conhecer e tudo mais. Mas falando do ponto que trabalhei, na parte de entretenimento do navio, é uma das mais leves no sentido de horas de trabalho, porque os shows são mais pesados, no sentido de ter mais esforço físico, então não podemos trabalhar 12 horas, como outros departamentos”, completa.