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Carmen Vasconcelos
Publicado em 6 de outubro de 2025 às 06:00
O mundo do trabalho está mudando — e rápido. Com o envelhecimento populacional e a longevidade ativa, profissionais acima dos 50 anos deixaram de ser vistos como próximos da aposentadoria e passaram a ocupar papel central na estratégia das organizações. >
Experiência, inteligência emocional, visão sistêmica e resiliência tornaram-se soft skills de alto valor, capazes de transformar equipes e ampliar a competitividade das empresas. >
Empresas que já apostaram nesse caminho colhem resultados. O Assaí Atacadista, por exemplo, tem cerca de 8 mil colaboradores acima dos 50 anos — 10% do quadro total. Entre 2022 e 2024, houve crescimento de 168% nas promoções internas de profissionais maduros, sendo 22% para cargos de liderança. Além disso, eles permanecem em média 114% mais tempo que a geração Z e 26% mais que a geração Y, reduzindo o custo de rotatividade. Outro exemplo vem de uma empresa de tecnologia baiana. Jovens desenvolvedores enfrentavam dificuldades para concluir projetos complexos, desistindo no meio do caminho. A entrada de um profissional 50+ foi decisiva: com perguntas estratégicas e metodologias simples, ele ajudou a identificar gargalos e garantiu a continuidade dos projetos, reduzindo custos e aumentando a eficiência. >
Sobrevivência >
Para a professora e pesquisadora Carla Patrícia da Silva Souza, doutora em Administração e coordenadora de cursos na UNINTER, a valorização desses talentos não é apenas uma questão de inclusão, mas de sobrevivência empresarial. >
“A força de trabalho está envelhecendo. No Brasil, 15,6% da população tem mais de 60 anos e, em 2070, serão quase 40%. Ignorar essa realidade significa perder vantagem competitiva”, afirma. >
O preconceito etário, no entanto, ainda é um obstáculo. Entre os principais estereótipos, destacam-se a crença de que profissionais mais velhos são menos produtivos ou resistentes à tecnologia. >
“Não há comprovação científica de queda de desempenho com a idade. O que realmente faz diferença são fatores como ergonomia, contexto e oportunidades de aprendizagem”, explica Carla, citando dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). >
O professor Adriano Araújo, coordenador de RH da Unijorge e profissional 50+, reforça que o mito da dificuldade tecnológica é fruto de falta de acesso e treinamento. “Quando recebem capacitação adequada, os talentos maduros aprendem novas ferramentas com a mesma eficácia que os mais jovens”. >
Talentos maduros >
Ambos especialistas destacam que profissionais 50+ carregam competências que dificilmente são formadas em curto prazo, como inteligência emocional, resiliência, empatia, gestão de conflitos e tomada de decisão sob pressão. “Essas soft skills não só complementam as habilidades dos jovens, como criam equilíbrio nas equipes. Enquanto os mais novos trazem fluência digital e energia, os maduros oferecem visão estratégica e capacidade de análise crítica”, afirma Adriano. >
Carla reforça que a combinação de gerações é onde reside o ganho real: “A diversidade etária bem gerida amplia inovação, fortalece a cultura organizacional e reduz custos de rotatividade. É um jogo de soma positiva: todos ganham”.>
Para os próximos 10 anos, o cenário é claro: o papel desses talentos será mais decisivo. Segundo Adriano, empresas que não estruturarem programas específicos de valorização vão perder eficiência, conhecimento acumulado e competitividade. >
Carla resume em uma frase o que está em jogo: “Não se trata apenas de combater o etarismo, mas de entender que profissionais 50+ são fundamentais para a inovação equilibrada e para a sustentabilidade dos negócios no futuro”.>
Gestão inclusiva e integração geracional >