Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Carmen Vasconcelos
Publicado em 29 de dezembro de 2025 às 06:30
A ocupação sob demanda, conhecida como gig economy, ganha contornos cada vez mais profissionais no Brasil e deixa de ser apenas sinônimo de “bico”. >
Um dos exemplos é o trabalho de cliente oculto, atividade que transforma experiências cotidianas — como ir a um restaurante, fazer compras ou utilizar um serviço — em renda extra estruturada, com metodologia, treinamento e critérios claros de avaliação. >
Esse modelo tem crescido impulsionado pela busca por flexibilidade, autonomia e complementariedade de renda, especialmente entre profissionais que não querem ou não podem se prender a jornadas fixas. Empresas como a BARE International, presente em mais de 165 países, conectam consumidores comuns a projetos de avaliação de atendimento e experiência do cliente para grandes marcas, no Brasil e no exterior, inserindo esses trabalhadores em uma rede global organizada. >
Na prática, o cliente oculto atua como qualquer consumidor, sem revelar sua identidade, e depois registra a experiência em relatórios detalhados. “O cliente oculto profissional é definido pelo comportamento frente aos projetos e por um olhar treinado, inclusive para avaliações mais complexas”, explica Kamilla Melo, gerente de Operações da BARE Brasil.>
Segundo ela, não há um perfil único para ingressar na atividade. “Ser uma pessoa atenta, curiosa e comprometida com os treinamentos já é um bom ponto de partida.” >
Renda complementar >
Do ponto de vista financeiro, a atividade se posiciona como renda complementar, mas pode ganhar maior previsibilidade em grandes centros urbanos, onde a oferta de projetos é mais frequente. >
A remuneração varia conforme o tipo e a complexidade da avaliação, podendo ir de R$ 20 a R$ 400 por projeto, além de reembolso de despesas quando há exigência de consumo. “Caso seja necessária alguma compra, o valor é reembolsado, o que torna a atividade mais atrativa”, afirma Kamilla. >
Outro diferencial está na capacitação. Antes de cada avaliação, os participantes recebem orientações específicas, com simulações e materiais que ajudam a manter a naturalidade do comportamento. “O treinamento é preparado com base nas perguntas do projeto e no comportamento esperado de um cliente real daquela marca”, explica a executiva. O anonimato absoluto é uma das premissas do trabalho e garante a imparcialidade dos resultados. >
Para as empresas contratantes, o retorno vai além do cumprimento de protocolos. “O relatório de cliente oculto traz algo que outras pesquisas não captam: o sentimento de quem viveu a experiência real com a marca”, diz Kamilla.>
Insights >
Esses dados têm sido usados para ajustes em processos de treinamento, atendimento e relacionamento com o consumidor. >
O mercado de cliente oculto acompanha a expansão global da gig economy e tende a crescer ainda mais nos próximos anos. Segundo estimativas da Fortune Business Insights, o setor deve movimentar US$ 3,2 milhões até 2032, com apoio crescente de tecnologias e inteligência artificial, usada principalmente para análise de grandes volumes de dados e geração de insights estratégicos. >
Para quem busca novas formas de inserção no mercado de trabalho, com flexibilidade e aprendizado contínuo, o modelo se consolida como alternativa viável. >
“Do outro lado, os clientes ocultos conseguem renda extra, ajudam a melhorar o atendimento local e conhecem novas marcas e produtos”, resume Kamilla Melo.>
Em um cenário de mudanças nas relações de trabalho, a ocupação sob demanda deixa de ser improviso e passa a ocupar espaço cada vez mais estruturado no mundo do emprego. >
Além da BARE International, muitas empresas e apps permitem que pessoas atuem na gig economy, seja como entregadores e motoristas sob demanda (como Uber, iFood, Rappi), seja como freelancers em serviços especializados (Upwork, Fiverr, Workana) ou em plataformas que ligam tarefas específicas a prestadores autônomos. >
Estima-se que mais de 1,4 milhão de trabalhadores no país atuem em entregas e transportes por meio de plataformas digitais, parte importante da gig economy brasileira.Embora tenha ganhado força nos últimos anos, a chamada gig economy — ou economia sob demanda — não é um fenômeno totalmente novo. O termo vem da palavra inglesa gig, usada há décadas para definir trabalhos pontuais, especialmente apresentações musicais. Com o tempo, a expressão passou a designar atividades realizadas por tarefa, projeto ou demanda, sem vínculo empregatício tradicional.>
Para começar na gig economy>
Perfil e documentos prontos Tenha documentos básicos atualizados (CPF, RG, CNH quando necessário) e, se for atuar como entregador ou motorista, condições legais do veículo.>
Celular com dados e câmera A maioria das plataformas exige aplicativo no smartphone e envio de fotos/documentos.>
Entender o modelo de remuneração Plataformas pagam por tarefa ou projeto, não por mês trabalhado; taxas e repasses variam conforme modalidade e localização.>
Avalie custos e despesas Contabilize gastos com combustível, manutenção, alimentação e horas trabalhadas para entender sua margem líquida>
Muita flexibilidade, mas poucos direitos trabalhistas Trabalhadores de gig economy são autônomos; não há salário fixo nem benefícios garantidos, o que exige planejamento financeiro próprio>