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Investimento em inovação é desigual no Brasil

Pesquisa revela que há concentração e desproporção nas regiões

  • Foto do(a) author(a) Carmen Vasconcelos
  • Carmen Vasconcelos

Publicado em 1 de setembro de 2025 às 06:30

Os dados apontam uma retração da inovação no Norte e Nordeste: uma queda de 16% no Norte (R$ 1 bilhão) e de 14% no Nordeste (R$ 1,3 bilhão) nos aportes para Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação
Os dados apontam uma retração da inovação no Norte e Nordeste: uma queda de 16% no Norte (R$ 1 bilhão) e de 14% no Nordeste (R$ 1,3 bilhão) nos aportes para Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação Crédito: Shutterstock

O Brasil segue enfrentando um cenário de forte desigualdade regional em inovação. Isso foi o que mostrou a nova edição do Panorama da Inovação 2025, realizado pelo ecossistema global de inovação Gröwnt (antiga GT Group). O estudo pontuou que as regiões Sudeste e Sul responderam por 90% dos recursos incentivados pela Lei do Bem, sendo que apenas o Sudeste recebeu mais de R$ 30,6 bilhões e o Sul recebeu R$ 7 bilhões, reforçando que as regiões concentram os investimentos em inovação de forma desproporcional.

Enquanto isso, os dados apontam uma retração da inovação no Norte e Nordeste: uma queda de 16% no Norte (R$ 1 bilhão) e de 14% no Nordeste (R$ 1,3 bilhão) nos aportes para Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I), revertendo os avanços do ano anterior.

Essa realidade reflete uma desigualdade regional que se perpetua há anos e o cenário também se repete em programas de financiamento direto. No caso da Finep Apoio Direto, nenhum estado da região Norte contratou recursos em 2023, enquanto a concentração em São Paulo seguiu dominante. No BNDES Mais Inovação, o panorama também é desigual: a maioria das contratações são fortemente representadas por empresas do Sul e Sudeste, como São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Em 2024, o levantamento teve como foco orientar as organizações na melhor utilização dos incentivos fiscais oferecidos pela Lei do Bem. Já em 2025, o escopo da pesquisa foi ampliado para incluir também análises sobre mecanismos de crédito público voltados à inovação, como os operados pela Finep, BNDES e Inovacred.

Carências

Esse cenário de concentração também se manifesta nos principais polos industriais das regiões Norte e Nordeste, como Manaus (AM) e Camaçari (BA), que enfrentam dificuldades estruturais para captar e executar projetos inovadores.

“Mesmo com incentivos fiscais históricos, como a Zona Franca, Manaus não conseguiu diversificar sua base tecnológica, permanecendo limitada ao modelo industrial tradicional. Já Camaçari enfrenta gargalos estruturantes como infraestrutura deficiente e carência de mão de obra especializada, dificultando a atração de projetos de alta intensidade tecnológica”, afirma Fabrizio Gammino, Co-CEO da Gröwnt.

Fabrizio Gammino, Co-CEO da Gröwnt, diz que não basta ampliar linhas de crédito ou distribuir recursos, é necessário investir em estratégias de longo prazo
Fabrizio Gammino, Co-CEO da Gröwnt, diz que não basta ampliar linhas de crédito ou distribuir recursos, é necessário investir em estratégias de longo prazo Crédito: Divulgação

Com mais de 15 anos de carreira, o administrador de empresas e contador, Fabrizio afirma que, apesar disso, o cenário de Camaçari possui uma dinâmica de renovação e diversificação. “O polo industrial da região nasceu baseado no setor petroquímico e, hoje, é multiprodutivo, com destaque para a recente chegada da BYD. Além disso, a região tem trabalhado em iniciativas voltadas ao desenvolvimento sustentável e à inovação tecnológica”, analisa. Para ele, a melhora na infraestrutura ajuda a atrair novos negócios, a aproximação com universidades e instituições de pesquisa e o investimento na qualificação profissional são potenciais caminhos para fortalecer esse ecossistema de inovação.

Além da concentração geográfica, outro diagnóstico alarmante, de acordo com os dados mais recentes do MCTI, é a baixa qualificação dos profissionais envolvidos com PD&I . Segundo o estudo, menos de 3% dos pesquisadores listados nos projetos incentivados possuem mestrado ou doutorado. Esse gargalo limita a capacidade de desenvolvimento tecnológico de alto impacto e contribui para perpetuar a distância entre as regiões.

Além disso, mesmo quando há programas voltados a ampliar o acesso à inovação, como o Inovacred, os resultados revelam outro entrave: embora 57% dos contratos sejam com PMEs, os dados indicam forte centralização em estados do Sul e Sudeste, o que sugere baixa capilaridade nas demais regiões, incluindo Norte e Nordeste.

Outro ponto de alerta é a queda expressiva dos projetos classificados como pesquisa fundamental, aquela voltada à geração de conhecimento teórico, sem aplicação imediata, no Brasil, que passaram de 10% em 2021 para apenas 3% em 2023. Embora o estudo não traga o recorte regional, o dado indica a redução da produção científica de base em um momento em que a diversificação regional do conhecimento deveria ser ampliada.

“A ausência de um ecossistema robusto, com mão de obra qualificada, centros de pesquisa, infraestrutura logística e articulação institucional são fatores que impedem o avanço da inovação no Norte e no Nordeste. Definitivamente, o financiamento, de forma isolada, não é suficiente”, alerta Gammino.

Democratização

O executivo acrescenta que, para alterar esse cenário, não basta ampliar linhas de crédito ou distribuir recursos. “É necessário investir em estratégias de longo prazo que articulem universidades, empresas, agências de fomento e governos locais. Estados que conseguiram desenvolver políticas próprias de estímulo à inovação, como São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, colhem os frutos da sinergia entre programas estaduais e incentivos federais”, enfatiza.

O estudo conclui que o Brasil precisa encarar a inovação não apenas como um vetor de crescimento econômico, mas como um instrumento de coesão territorial e justiça social. Enquanto o Norte e o Nordeste permanecerem à margem da economia do conhecimento, o país seguirá desperdiçando talentos, potencial produtivo e oportunidades de desenvolvimento.

“Para democratizar a inovação na Bahia e no Nordeste, é preciso reduzir desigualdades regionais no acesso a incentivos, fortalecer a base produtiva local e integrar mais intensamente ciência, tecnologia e mercado. Um fator que pode acelerar esse processo é contar com parceiros estratégicos que dominem e acelerem esse processo junto aos órgãos de fomento e incentivo, como o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, a Finep, BNDES e demais agentes de inovação brasileiros”, conclui o representante da Gröwnt.