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Carmen Vasconcelos
Publicado em 15 de dezembro de 2025 às 06:00
A antiga segurança de ter o emprego garantido numa empresa financeiramente saudável desapareceu. Uma nova e perturbadora realidade se instalou no mercado de trabalho, batizada por especialistas como a era dos "layoffs infinitos". >
Diferente das demissões em massa de tempos de crise, estes são cortes menores, contínuos e recorrentes, que ocorrem mesmo quando a companhia registra lucros bilionários. >
Segundo o advogado especialista em Direito do Trabalho Diogo Oliveira, a demissão não é mais uma reação a um problema, mas uma estratégia para "maximizar o lucro" e agradar investidores. "A antiga promessa foi quebrada. O lucro da companhia não é mais sinônimo de segurança", resume Oliveira.>
O impacto dessa imprevisibilidade na saúde do trabalhador é considerado devastador. Os profissionais vivem em um estado de alerta permanente, como define Andressa Bueno Serigato Meneghelli, mestre em Administração e pesquisadora da Uninter. "Quando convocados pelo gestor para uma simples reunião imediatamente já imaginam: será que vou ser demitido? O que gera um esgotamento emocional pela sensação de estar sempre à beira do próximo corte," explica Meneghelli.>
Alerta permanente >
Esse estresse crônico é um campo fértil para o adoecimento mental. A professora Ana Amélia de Sousa Magalhães, da Unijorge, aponta para o aumento dos registros de afastamento por estresse, depressão e Burnout. >
Fernanda Servienski, especialista em Gestão de RH, reforça que a falta de transparência sobre os critérios dos cortes aumenta a sensação de que "qualquer pessoa pode ser afetada a qualquer momento". O clima de incerteza leva a comportamentos como o presenteísmo (estar fisicamente no trabalho, mas improdutivo), em uma tentativa de dissimular a queda de desempenho que é, ironicamente, reflexo do próprio adoecimento.>
A Inteligência Artificial (IA) e a automação cumprem um papel duplo neste cenário. Por um lado, permitem que empresas operem com equipes menores, substituindo tarefas e otimizando processos. >
Por outro, segundo Diogo Oliveira, a IA se torna a "desculpa perfeita" para cortes. "É mais fácil para uma empresa dizer que está demitindo para se modernizar do que admitir que está apenas cortando pessoas para aumentar ainda mais sua margem de lucro", destaca o advogado. >
Descarte >
A lógica de descarte faz com que a confiança entre liderança e time vire pó. A demissão de um colega comprometido gera um sentimento de injustiça em quem permanece. "A mensagem que fica é: 'se até quem entrega resultados consistentes é demitido, eu também posso ser o próximo'," pontua Meneghelli.>
O resultado, segundo Ana Amélia Magalhães, é que os discursos de valorização soam vazios, a comunicação interna se fragiliza e os profissionais adotam posturas de autopreservação, silêncio e distanciamento.>
Nesse cenário, os especialistas são unânimes: a estabilidade do passado acabou. A segurança, agora, reside na empregabilidade e na capacidade de adaptação.>
Ana Amélia cita o poeta Belchior,: "Eu sei de tudo na ferida viva do meu coração [...] o novo sempre vem". O desafio para o profissional, agora, é abraçar essa certeza e construir uma carreira baseada em seu próprio valor, e não mais em promessa empresarial.>
Estratégias de Sobrevivência>
Aprendizagem Contínua (Lifelong Learning) - Investir em novas competências e focar em habilidades que as máquinas não substituem, como criatividade e pensamento crítico.>
Plano B e Networking - Ter uma segunda fonte de renda ou projetos como freelancer deixou de ser luxo. >
Manter o currículo atualizado e fortalecer a rede de contatos - É fundamental, pois muitas oportunidades surgem por meio de networking.>
Saúde Integral - O cuidado com a saúde física e mental (terapia, meditação, atividade física) garante o equilíbrio e a resiliência necessários para enfrentar o esgotamento emocional do ambiente incerto>