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Carmen Vasconcelos
Publicado em 8 de setembro de 2025 às 06:00
Segundo o IBGE, até 2040, um em cada três brasileiros terá mais de 60 anos. Ao mesmo tempo, a maturidade tem se revelado um período de alta produtividade e inovação que se mantém ao longo da vida: mais de 25% dos negócios no país são liderados por pessoas com mais de 50 anos, de acordo com o Sebrae. >
Em um cenário de crescimento da atuação dos profissionais 50+ no mercado de trabalho, o preconceito etário ainda persiste no universo corporativo. >
“O etarismo é estrutural e se manifesta no mundo corporativo, assim como em outros locais da sociedade. A linguagem é uma das formas mais evidentes de preconceito disfarçado, e precisamos eliminá-la se quisermos um ambiente verdadeiramente inclusivo”, analisa Mórris Litvak, fundador e CEO da Maturi, principal empresa nacional especializada em empregabilidade, desenvolvimento e capacitação de profissionais com mais de 50 anos. >
Para Litvak, incentivar a permanência dos 50+ no mercado não é apenas uma questão social, é uma necessidade econômica e de inovação. “O Brasil está envelhecendo rapidamente e se as empresas não se adaptarem, vão perder talentos valiosos. Para os profissionais, continuar ativos garante não só renda, mas propósito e qualidade de vida. Para as empresas, integrar diferentes gerações aumenta a criatividade, a produtividade e a capacidade de responder a um mercado consumidor também cada vez mais maduro”, reforça. >
Combate>
A fundadora do grupo Healthy, a empresária Victoria Cintra acredita que o etarismo precisa ser tratado com a mesma seriedade que questões de gênero, raça ou inclusão social. “É um preconceito muitas vezes invisível, mas que afasta talentos experientes do mercado. O combate começa pela conscientização de líderes, e principalmente pelos processos de recrutamento”, pontua. >
A empresária acredita que, para as empresas, manter profissionais maiores de 50 anos nos quadros de funcionários significa retenção de conhecimento estratégico, diversidade de pensamento e mais credibilidade diante de um consumidor que também está envelhecendo. “Empresas que reconhecem esse valor saem na frente. Os clientes também reconhecem!”, diz >
Para Mórris Litvak o primeiro passo para combater o preconceito é reconhecer que o etarismo existe e que a idade também é um marcador de diversidade. Muitas vezes as empresas avançam em questões de gênero e raça, mas deixam de lado a questão geracional. >
“Combater o etarismo passa por conscientização, treinamentos e políticas claras de inclusão, mas também por revisar práticas de recrutamento, desenvolvimento e retenção. É preciso quebrar estereótipos e valorizar a experiência como um ativo estratégico, não como uma limitação”, defende >
A frente do Healthy Salad Bar e o Healthy by Victoria Cintra, a empresária diz que a quebra de preconceitos começa no recrutamento, incluindo candidatos 50+ em processos seletivos e criando programas de trainees seniores. “Depois, na cultura organizacional, estimulando a troca entre gerações por meio de mentorias reversas, nas quais jovens ensinam tecnologia e os mais velhos compartilham visão estratégica”, sugere. >
ESG>
Victoria enfatiza que combater o etarismo com práticas ESG não é apenas responsabilidade social: é também uma estratégia de reputação e competitividade. “Mas também reforça o compromisso das empresas com a inclusão e a diversidade etária”, complementa. >
Para Mórris Litvak, para sair do discurso e passar para a prática, é fundamental começar com dados: mapeando o perfil etário da organização e entender onde estão as barreiras. Depois, criar metas claras de diversidade etária, rever descrições de vagas, programas de desenvolvimento e sucessão que incluam profissionais maduros.>
“Nos cargos de liderança, ter exemplos de gestores 50+ é crucial para mudar a cultura. O ESG é uma lente cada vez mais usada para avaliar empresas, e a diversidade etária faz parte da agenda social. Incluir essa pauta mostra compromisso com inclusão e sustentabilidade, já que não há como falar de futuro sem considerar a longevidade da população. Além disso, investidores e consumidores estão atentos: empresas que excluem os 50+ perdem credibilidade e competitividade”, conclui. >
Expressões para retirar da ‘firma’ >
1 - “Você não tem mais idade para isso” >
Comum em contextos de aprendizado, tecnologia ou reinvenção, essa frase pressupõe que a capacidade de inovar ou se adaptar termina em determinada fase da vida, o que é falso. Pessoas maduras continuam aprendendo, se reinventando e acompanhando tendências. >
2 - “Tá esquecido por causa da idade” >
O esquecimento é parte natural da vida – e não exclusivo da maturidade. A mesma falta de memória em um jovem raramente é atribuída à idade. Essa generalização reforça um estereótipo equivocado e reducionista sobre as capacidades cognitivas dos mais velhos. >
3 - “Você não aparenta ter essa idade” >
Embora pareça elogio, o comentário reforça a ideia de que envelhecer é algo indesejável. Por trás da frase, está a noção de que a aparência jovem é superior e que o envelhecimento deve ser disfarçado. >
4 - “Depois de uma certa idade…” >
Essa expressão genérica cria divisões artificiais baseadas na idade, como se houvesse um ponto de corte em que o valor de uma pessoa mudasse. >