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Victor Lahiri
Publicado em 31 de julho de 2019 às 06:00
- Atualizado há 2 anos
A virada do mercado imobiliário baiano chegou. No primeiro semestre de 2019, a venda de imóveis no estado superou a marca alcançada no mesmo período do ano passado. Com os novos preço praticados pelo setor, o faturamento quase dobrou o saldo de 2018, e depois de um início de ano tímido em lançamentos, o segmento se prepara para disponibilizar até 11 empreendimentos nos próximos seis meses, criando cerca de 1,6 mil empregos diretos. >
Para o segundo semestre, a perspectiva de uma nova linha de crédito a ser anunciada pela Caixa e as promessas de desburocratização e incentivos do poder público estão levando construtoras e incorporadoras a acreditarem que a "boa terra" está mais pronta do que nunca para um novo boom da construção.>
Para entender o momento atual é importante lembrar que 2018 fechou com um balanço com indicativos positivos para o setor, entre eles a definição de um novo cenário político, a redução do estoque de unidades imobiliárias e a rápida absorção de novos lançamentos pelo mercado consumidor. Após a virada do ano, porém, o que se viu foi um cenário de cautela.>
Segundo o presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário da Bahia (Ademi-Ba), Cláudio Cunha, apenas três novos empreendimentos foram lançados em Salvador entre janeiro e junho deste ano, uma soma tímida se comparada às expectativas.>
"A cautela é natural frente ao início de um novo governo. Com o avanço da reforma da previdência o otimismo se fortaleceu e já temos 11 produtos encaminhados. Só em Salvador. Acredito que ao menos oito empreendimentos serão lançados até dezembro", afirma o dirigente. >
Se o cenário de lançamentos ficou abaixo do aguardado, os negócios, contudo, responderam de forma positiva. Dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) apontam que entre janeiro e junho deste ano, 3.922 unidades imobiliárias foram comercializadas em toda a Bahia, totalizando um valor de R$ 981.954.087 em financiamentos. A parcial superou o balanço do primeiro semestre de 2018, quando a entidade contabilizou 2.294 unidades vendidas, para um montante de R$ 522.570.963 em crédito concedido. >
Outra informação dada pela Ademi-BA é importante para configurar o cenário de otimismo é a redução do estoque (unidade prontas e não vendidas); 7 mil no no final de junho a menor marca da série iniciada em 1991.>
O sócio da DEC Engenharia, Eugênio Mendes, que comercializa o Paradise Residence, no Jardim Armação, faz parte do grupo de empresários que vê o momento com bons olhos e acredita que o mercado imobiliário vai aquecer ainda mais até o final do ano.>
"Viemos de um momento no qual comercializar ficou difícil. Agora vemos o mercado voltar a crescer e as pessoas de volta à mesa de negociação”, observa. “A procura aumentou, e confio que não só os negócios continuarão em uma crescente, como os empreendedores vão voltar a investir, até pela baixa no estoque", completa.>
Novo licenciamento>
Para garantir que o otimismo se concretize em investimentos e empregos, a Prefeitura de Salvador vai anunciar um novo sistema de licenciamento. "Até o fim do ano lançaremos o Sistema Integrado de Licenciamento, que vai parametrizar digitalmente 300 requisitos de análise que hoje são feitos manualmente. Isso vai acelerar a liberação de alvarás.", explica o secretário municipal de Desenvolvimento Urbano, Sérgio Guanabara.>
O novo sistema se une a uma série de ações da gestão municipal voltadas para a construção civil, um dos setores mais importantes da economia local. Frutos do diálogo com entidades do segmento, a prefeitura atualizou o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU), a Lei de Ordenamento do Uso e Ocupação do Solo (Louos) e o Código de Obras; lançou o Salvador 360, o Revitaliza o Simplifica, reduziu a Outorga Onerosa e o ISS; e criou o IPTU Verde e o IPTU Amarelo. >
Para Guanabara, "este empenho parte do entendimento de que a construção civil é um setor 'que bate na veia'. Quando o segmento está aquecido, a economia responde positivamente de forma imediata".>
De acordo com o último levantamento realizado pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), o setor de serviços corresponde a 85% do PIB soteropolitano, sendo a construção civil uma grande fatia desse número.>
Reflexo>
Se o crescimento do setor da construção civil é um trunfo no desenvolvimento econômico de Salvador, o próximo passo é incentivar as facilidades para quem quer comprar um imóvel. No diálogo com os bancos, o mercado imobiliário aponta que quem está saindo na frente é a Caixa Econômica Federal, ao dar sinais da criação de uma nova linha de crédito imobiliário para incentivar um reaquecimento dos negócios.>
De acordo com presidente do Sindicato da Indústria da Construção do Estado da Bahia (Sinduscon), Carlos Henrique Passos, a nova linha vai trazer taxas menores e fazer o consumidor se sentir mais seguro para fechar um empréstimo de longo prazo, como são os feitos para comprar imóvel.>
"A Caixa sinalizou o lançamento de uma linha que vai calcular os juros sobre o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), temos uma grande expectativa que este novo produto torne o financiamento mais atrativo para o consumidor e alavanque as vendas", afirmou.>
Além da expectativa de novidades por parte das instituições tradicionais na concessão de crédito imobiliário, o setor espera que novos "players" entrem no mercado, como é o caso do Banco Inter, que participou da última reunião entre representantes do trade imobiliário e bancos, podendo trazer novas vantagens para o consumidor.>
Cristiana Mathias, diretora comercial da MRM, incorporadora responsável pela Mansão Wildberger (residencial) e o Vasco da Gama Plaza (comercial), acredita que neste momento de retomada, as instituições financeiras e o setor imobiliário devem estreitar relações para otimizar os resultados.>
"É necessário haver mais transparência e parceria entre incorporador e instituição financeira para alavancar os projetos em estudo, principalmente em se tratando de agentes públicos", diz. "A burocracia para contratação de financiamentos ainda é um grande entrave para o avanço do mercado imobiliário", completa.>
Perfil>
Ao final de 2018, o segmento popular liderou mais uma vez o volume de vendas, sendo responsável por 83% dos negócios, segundo a Ademi. Porém, o médio padrão surpreendeu no período, com lançamentos rapidamente comercializados e a tendência, segundo Cláudio Cunha, é que a aposta no segmento multiplique as novidades para os próximos meses.>
"Os empreendimentos populares seguem com vida própria, como foi mesmo durante a crise. Porém, tivemos casos no médio e alto padrão que foram absorvidos mesmo sem uso de publicidade", comenta Cunha. "Isso mostra que a demanda existe e estamos animados para fechar mais um ano positivo", completa.>