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Editorial
Publicado em 29 de julho de 2018 às 08:49
- Atualizado há 2 anos
Da janela de casa, no Corredor da Vitória, o fotógrafo Valter Pontes fazia imagens da Baía de Todos os Santos, essa semana, quando de repente avistou uma explosão nas águas calmas. Regulou a câmera e flagrou homens em um barco e peixes mortos boiando em torno deles. A cena, divulgada no CORREIO, se repetia diante se seus olhos, como em 2015, quando da mesma varanda ele presenciou o crime e o denunciou. A pesca com bomba na baía é, portanto, uma infração frequente e ocorre à luz do dia. >
Enquanto os criminosos agem tranquilamente, efeitos devastadores se espalham. Calcula-se que a explosão de um artefato desse tipo atinja a profundidade de 12 metros, muito além da superfície, e se propaga em ondas por 500 metros. >
Não morrem só os peixes. O impacto arrebenta tudo em volta. Fungos, corais se esfarelam no mar. Gera lixo, desequilibra o ecossistema. Os próprios pescadores podem se ferir; não raro, passam mal ou acabam mutilados, sem braço ou perna. >
A pesca predatória pode até matar a fome imediata, mas programa a escassez futura. Afinal, a natureza leva décadas para se recompor. Cada pessoa que pratica essa ilegalidade deve ter consciência de seu papel devastador e do mal que causa ao futuro do planeta e à sobrevivência dos pescadores responsáveis. Mas a consciência quanto a esses e outros erros, relacionados à falta de civilidade, só virá com um investimento verdadeiro em educação. Nesse caso, educação ambiental. Enquanto ela não vem, trabalha-se com a repressão, que deixa a desejar.>
Não tem adiantado apenas as rondas planejadas pela Companhia Independente de Polícia de Proteção Ambiental (Coppa), em conjunto com o Inema, órgão do governo estadual. É preciso mais. Surpreender os criminosos em ação. É necessário, aliás. A lei, pouco firme, só pune quem é pego com os explosivos e peixes mortos. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama) não fiscaliza a pesca com bomba. A Capitania dos Portos se concentra nas embarcações. E, assim, o crime ambiental vai se perpetuando em um dos cenários mais bonitos da Bahia, com ocorrências pelas ilhas de Maré, dos Frades e do Medo. >
E não é só beleza. Terceira maior do mundo, a Baía de Todos os Santos é canal de entrada e saída de mercadorias, o que movimenta o setor produtivo. Banha 18 municípios baianos, concentra 33% do PIB do estado e, por isso, tem também papel relevante no nosso desenvolvimento econômico. >
É imperioso cuidar desse patrimônio e de tantos outros abandonados à própria sorte, como a Lagoa do Abaeté, que amarga uma reforma infindável. Sede da Amazônia Azul, a Kirumirê - que quer dizer grande mar interior, em tupinambá - deve ser prioridade nas políticas públicas do estado. Sob o risco de perdermos seu valor histórico, social, cultural e ambiental. Sem falar das oportunidades econômicas que podem ser exploradas. É preciso o engajamento de todos na preservação desta dádiva dada aos baianos e à humanidade.>