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Fazer leituras críticas de conteúdos pode evitar cair em desinformação
Publicado em 27 de julho de 2024 às 05:00
“A alfabetização midiática é tão importante agora, porque vamos acompanhar as primeiras eleições onde a deepfake pode ser realidade. Está todo mundo muito atento a tudo isso. Então é cada vez mais importante que seja realidade a alfabetização midiática junto com a educação de tempos, de futuros”. A fala é de Ligia Zotini, pesquisadora de futuros e fundadora do Voicers - instituição fomentadora da educação de futuros. O alerta sobre este assunto é tão importante e oportuno que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovou, entre 12 propostas de resoluções para as eleições municipais de 2024, regras para uso de inteligência artificial (IA) e já proibiu o uso de deepfake nas campanhas.
Você pode estar se perguntando: o que é, afinal, a deepfake? Trata-se de uma técnica que utiliza imagens, fotos e falas de pessoas, muitas vezes disponíveis na internet, para criar alterações com muito apelo realista. Com a ajuda de recursos de inteligências artificiais - oferecidos até mesmo por alguns aplicativos de forma gratuita - é possível manipular essas imagens e mostrar falas que aquela pessoa nunca falou. Consegue imaginar agora a dimensão da gravidade deste cenário, principalmente em tempos eleitorais?
Interpretação crítica
De acordo com Ligia Zotini, não existe conteúdo neutro, por isso é cada dia mais importante desenvolver o senso crítico, a habilidade de identificar o que é verídico e o que é produzido pela máquina, e, principalmente, qual a motivação por trás dos conteúdos veiculados. Este é o papel hoje da educação midiática junto com a educação de futuros, como defende a pesquisadora. Essas ferramentas podem ajudar na identificação de conteúdos formatados e baseados em tecnologia de distribuição de massa com o objetivo de que as meias-verdades possam ser absorvidas o mais rápido possível, como ocorre com as fake news.
Aqui vale entender que as notícias recheadas de mentiras não são propagadas de maneira escancarada, mas com “algum viés de verdade ou pequenos ajustes de quantidade de inverdades”, como destaca Zotini, para confundir o entendimento das pessoas. A educação midiática vem para possibilitar que essas pessoas se tornem protagonistas na jornada digital, nos meios imersivos e de tecnologia, e não alguém que sofra manipulação em massa. “Quanto maior a quantidade de pessoas entendendo tanto como o jogo de mídia funciona quanto como o jogo de tecnologia funciona, elas se tornam seres protagonistas e autônomos para tomar suas decisões”, frisa.
Pesquisadora de futuros, Ligia Zotini defende a união da educação midiática com a educação de futuros para ampliar senso crítico.
#FakeToFora
Com o intuito de promover a educação para a democracia nas escolas, o instituto Palavra Aberta criou, desde 2022, o projeto #FakeToFora, disponibilizando recursos pedagógicos, direcionados principalmente aos jovens que participam pela primeira vez das eleições.
A iniciativa oferece conteúdos compostos por nove temas - alinhados à proposta de itinerários formativos do Novo Ensino Médio - que podem ser usados de maneira separada ou na ordem. A metodologia também possibilita que os estudantes criem um coletivo ou clube de checagem para praticarem a leitura reflexiva das informações. Todo este material é gratuito e pode ser acessado no site https://faketofora.org.br/ .
Cinco passos para não cair em fake news
A educadora Daniela Machado, coordenadora do EducaMídia - programa de educação midiática do Instituto Palavra Aberta - escreveu recentemente o artigo “Quem zela pela integridade da informação?”, no qual explica como lidar com a superabundância de conteúdos, avaliar criteriosamente tantas informações e estabelecer filtros de confiabilidade. Veja a seguir algumas de suas dicas práticas para consumir conteúdos com maior senso crítico, e isso vale muito em tempos eleitorais!
Questione sempre a origem (ou fonte) da informação e qual o propósito da mensagem;
Avaliar quem se beneficia e quem é prejudicado pelo conteúdo também é um bom caminho para contextualizar as mensagens;
Observe se a informação gera alguma reação exagerada, como por exemplo raiva ou euforia. Se sim, pense bem antes de continuar consumindo ou repassar o conteúdo. Ativar as emoções das pessoas é estratégia da desinformação;
Atenção: o fato de um amigo ou familiar próximo repassar algum conteúdo não é garantia de veracidade;
Verifique se a informação recebida tem evidências: ela tem dados suficientes para mostrar que é factível ou dá elementos para você ir atrás de outros detalhes?