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Da Redação
Publicado em 5 de agosto de 2012 às 09:04
Renato [email protected]>
Umburanas, na microrregião de Senhor do Bonfim, uma das mais de 200 cidades baianas assoladas pela seca deste ano. Lá, 31% dos 17 mil moradores são analfabetos, de acordo com o IBGE. Nenhuma das nove unidades públicas de saúde locais tem equipamento de hemodiálise, serviço de emergência, internação ou UTI. >
E, mesmo no ranking dos 20 municípios do estado com os piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH), terá uma campanha a prefeito quase cinco vezes mais cara que a de Salvador, na proporção custo por habitante. >
Os dois únicos candidatos de Umburanas declararam à Justiça Eleitoral a intenção de gastar R$ 1,3 milhão na campanha. A previsão de Roberto Bruno (PRP) foi de R$ 1 milhão. A da adversária, Mirian da Silva (PDT), mais R$ 300 mil. O que resulta em um gasto médio de R$ 76,47 por habitante.>
Para efeito de comparação, em Salvador, a média declarada pelos seis prefeituráveis foi de R$ 15,80 por pessoa. Confrontado com os índices, Roberto Bruno contemporiza: “Foi um valor alto, que o representante da coligação daqui colocou. Devemos gastar 25% desse valor”.>
Briga de milhões Entre as 20 cidades que estão na rabeira do IDH baiano, Umburanas é a campeã no gasto de campanha. Mas não está sozinha. Juntos, os candidatos dos municípios menos desenvolvidos planejam gastar R$ 21,6 milhões nas eleições, média de R$ 45,74 por pessoa. Na maioria dos municípios da lista, apenas dois postulantes concorrem e, em 13 deles, a população não passa de 20 mil. >
É o caso de Santa Brígida, com 15 mil moradores. Os dois concorrentes da cidade, situada na divisa com Sergipe, planejam gastar R$ 49,80 por habitante. E, assim como em 18 outros municípios com baixo IDH, Santa Brígida integra o rol dos assolados pela seca, com 86,5% da população afetada, de acordo com a Defesa Civil do estado. >
Para chegar ao poder, sete candidatos das cidades menos desenvolvidas da Bahia estimaram gastos dignos de uma campanha nas maiores cidades baianas. Em Araci, no Nordeste baiano, a prefeita Maria Edneide Pinho (PSD) pretende gastar R$ 1,7 milhão na disputa pela reeleição no município de 51,2 mil habitantes. O valor é R$ 200 mil a mais do que foi previsto pelo seu único concorrente, o fisioterapeuta Antônio Carvalho Neto (PDT). >
Ambos planejaram desembolsar mais do que o prefeito de Feira de Santana, Tarcízio Pimenta (PDT), que previu gastos de R$ 1,2 milhão. Com a diferença de que a população de Feira é dez vezes maior que a de Araci. E, para completar, tem fatores que encarecem uma campanha, como os custos com a produção de propaganda na TV e no rádio. >
“Existem urgências aqui, com as quais esse dinheiro poderia ser gasto”, opina o vendedor Antonio Brito, morador de Araci há 36 anos. Para Brito, a educação é a maior necessidade do município, onde apenas três escolas públicas têm ensino médio e nenhuma delas é municipal. >
Coordenadora de uma escola particular de Araci, Manuela Teixeira acredita que a grana da campanha seria melhor investida se aplicada na formação dos professores municipais. “Se esse dinheiro fosse empregado na saúde ou na educação seria insignificante, mas para uma campanha é alto”, avalia. >
Tem razão: De acordo com o portal da prefeitura, de janeiro a junho de 2012, os gastos em saúde e educação somaram R$ 6,4 milhões e R$ 18,1 milhões, respectivamente. >
Previsões milionáriasEntre os prefeituráveis das 20 cidades baianas que figuram no pódio do baixo desenvolvimento humano, o recordista em previsão de gastos de campanha eleitoral é José Valdo Evangelista (PSC), que disputa a prefeitura de Monte Santo, no Nordeste baiano. Zé Valdo, como é conhecido, informou à Justiça Eleitoral que pretende gastar R$ 1,9 milhão na disputa. >
A previsão de investimento na campanha feita por seus três outros concorrentes foi mais modesta: R$ 750 mil. “Acho que eles vão gastar até mais do que o planejado”, opina o comerciante Dellano Santana, morador de Monte Santo, quinto pior IDH da Bahia. >
Para Santana, o dinheiro teria melhor destino: a melhoria do sistema educacional da cidade, cuja taxa de analfabetismo passa de 40%, e dos estabelecimentos de saúde públicos, já que apenas uma das 17 unidades possui leitos para internação. >
O administrador João Alfredo (PSB) também está na lista dos candidatos que pretendem gastar milhões na disputa. O prefeiturável de Itapicuru, município com o pior IDH do estado e com um dos 100 mais baixos do país, planeja gastar na eleição até R$ 1 milhão. >
A cidade, situada na divisa com Sergipe, tem apenas 8,6% dos domicílios com saneamento considerado “adequado” pelo IBGE. A professora Madalena Sergino, moradora de Itapicuru há 40 anos, reclama das deficiências na educação e na saúde. Madalena conta que sempre se desloca para Salvador quando precisa de atendimento médico específico. >
Com 32,2 mil habitantes, o município só possui oito estabelecimentos públicos de saúde, sendo que apenas um oferece atendimento de emergência e nenhum dispõe de aparelho de hemodiálise, mamógrafo ou ultrassom. Contactado, João Alfredo disse não ter nada a dizer sobre sua previsão de gasto de campanha. Em Jeremoabo, no Nordeste baiano, se os três candidatos juntassem o que pretendem gastar na campanha teriam R$ 2,4 milhões. >
Para a professora Maria Tereza Vasconcelos, coordenadora de reforço escolar do município, os educadores de Jeremoabo “se esforçam, mas têm dificuldades”. O maior problema para os estudantes, segundo ela, é o acesso às salas de aula, já que 54,5% dos endereços da cidade estão na zona rural.>
“Os alunos têm dificuldade de locomoção, principalmente na época de chuva”, conta. Com metade desse dinheiro daria para comprar dez unidades de ônibus escolar de ponta, como o Marcopolo Volare W8, com 24 lugares.>