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Da Redação
Publicado em 23 de outubro de 2012 às 07:53
- Atualizado há 3 anos
Priscila Chammas e Rafael Rodriguesmais@correio24horas.com.br>
É tudo ou nada e qualquer passo em falso pode colocar a eleição a perder. Demonstrar confiança e força é a ordem número um. Os candidatos a prefeito de Salvador ACM Neto (DEM) e Nelson Pelegrino (PT) estão despejando os últimos recursos nos cinco dias finais de campanha. >
Nos comitês eleitorais, a distribuição de materiais como bandeiras, adesivos e panfletos é intensa. Nas ruas, militantes e funcionários das campanhas criam clima de vitória, adesivando carros e agitando bandeiras. Nos becos dos bairros populares, vereadores, candidatos derrotados e lideranças políticas batem na porta de casas, vão a bares e ao comércio, repetindo os argumentos que saem da boca dos candidatos nas propagandas. >
E não são só os candidatos que andam se estranhando nos debates e horário eleitoral. Em toda a cidade, o clima é de rivalidade digno de um Ba-Vi. “Seu Pina, acharam uma caixa com material de campanha da gente jogada no chão e com os papéis todos espalhados. O que a gente faz?”, queixa-se um funcionário ao chefe de almoxarifado do comitê de ACM Neto.>
No quartel adversário, foi a vez de um militante reclamar. “Por favor, onde é o setor jurídico? Tenho uma denúncia a fazer”, pergunta, antes de acusar a militância adversária de cortar as placas colocadas por ele em seu bairro, no dia anterior. >
Ontem, no Subúrbio Ferroviário, foram encontradas várias placas rasgadas, de ambos os candidatos. Nos postes de diversas vias de Salvador, adesivos com os números 13 e 25 eram colados um por cima do outro, a depender do último militante que esteve no local.>
Em Periperi, o rosto do ex-presidente Lula, no cartaz de Pelegrino, ganhou um enorme adesivo com o número 25 (de Neto). Já em Paripe, foi a vez dos petistas colarem estrelinhas com o número 13 na placa de Neto.>
“A gente cola as estrelinhas nos postes, vem o pessoal de Neto e cola o 25 por cima. A gente se sente mal, mas às vezes é obrigado a fazer isso também”, diz a líder comunitária Ione Santana, que faz campanha para Pelegrino no bairro do Beiru. “O pessoal de Pelegrino está tocando fogo em nossas placas, amassando. Na Paralela, a gente coloca a placa 6h e, às 8h, já estão todas rasgadas”, afirma o coordenador de fiscalização da campanha de Neto, Bruno Andrade. >
Estratégias Para conseguir atingir a maior quantidade de eleitores na reta final, estrategistas das campanhas esquadrinham o mapa da cidade e dividem a coordenação da ações na rua para deputados e vereadores que têm representação em cada área.>
A vereadora reeleita Aladilce Souza (PCdoB), por exemplo, ficou com a incumbência de tentar reverter o jogo na 12ª Zona Eleitoral, que compreende bairros como Pituba e Itaigara, nos quais Pelegrino saiu perdendo no primeiro turno. “É importante que as lideranças dos bairros estejam fazendo contato direto com o eleitor, para reforçar os argumentos que usamos em toda a campanha. Então vamos buscando os eleitores de casa em casa, no comércio, onde houver gente”, detalha.>
Segundo ela, a distribuição do material de campanha, a realização de caminhadas, mesmo sem a presença do candidato, e a organização dos carros de som também estão entre suas atribuições.>
O próprio comitê de Aladilce, no Rio Vermelho, continuou em atividade, mas agora serve exclusivamente à campanha de Pelegrino. Assim como a estrutura utilizada pela vereadora eleita Fabíola Mansur (PSB), na Barra, outro bairro em que Pelegrino não foi bem no primeiro turno.>
Do lado de ACM Neto, o deputado estadual Bruno Reis (PRP) está à frente do comitê eleitoral que foi instalado em Paripe, no Subúrbio Ferroviário, região onde o democrata ficou em desvantagem no primeiro turno – outro comitê foi montado em Cajazeiras. “Tem dias que eu durmo aqui”, ressalta Reis. O parlamentar argumenta que o desempenho de Neto na região se deveu à pouca efetividade da campanha democrata no primeiro turno: “A campanha aqui praticamente não existiu”.>
Para a reta final, Reis escalou cerca de 500 lideranças de bairro do Subúrbio para agir em 14 áreas. “Em cada uma dessas, a campanha corre independente da presença do candidato, com carro de som independente, com reuniões diárias, com presença de deputados e vereadores”, diz. >
Segundo Reis, os militantes foram orientados para, segundo ele, “desmascarar as seis mentiras do PT”, diz, ao citar polêmicas da campanha, como a posição do candidato com relação às cotas nas universidades, o Bolsa Família, o Minha Casa, Minha Vida, e a tática de alinhamento usada pelo adversário, baseada no apoio dos governos federal e estadual.>
Agenda apertada Enquanto a campanha nas ruas pega fogo, ACM Neto e Nelson Pelegrino dividem suas atenções entre aparições públicas em comícios, carreatas e caminhadas, e a preparação para os últimos confrontos em debates na TV. Segundo o marqueteiro da campanha democrata, Pascoal Gomes, esses cinco dias finais serão dominados por mais caminhadas – foram 29 somente no segundo turno. >
A opção pelo corpo a corpo, ressalta Gomes, se deve à possibilidade da conversa “olho no olho” com o eleitor. “Na reta final de campanha, todas as ações são intensificadas. As ações de ruas continuam com caminhadas e carreatas, porque a candidatura de Neto nasceu das ruas”, destaca. >
Já o marqueteiro Sidônio Palmeira, que coordena a campanha de Pelegrino, pontua que a principal estratégia da campanha é criar volume nas ruas. Por isso, têm sido feitas quatro caminhadas por dia, onde Pelegrino e Olívia Santana (PCdoB), sua vice, se dividem. “O principal é mostrar que Nelson é o melhor para resolver os problemas de Salvador”, afirma.Programas de TV miram votos indecisos e eleitores do rivalNa reta final, os argumentos utilizados na propaganda eleitoral gratuita e nos debates tentam conquistar os eleitores que estão indecisos, ou dispostos a mudar seus votos. Para tocar esse público, os marqueteiros lançam mão de táticas para passar a imagem final de que seu candidato é quem reúne condições de administrar Salvador. Além, é claro, de tentar mostrar que o adversário não tem essas qualidades. >
Do lado petista, a estratégia é fincada na exibição do apoio da presidente Dilma Rousseff, do ex-presidente Lula e do governador Jaques Wagner, todos petistas, além de três candidatos a prefeito derrotados no primeiro turno.Como o objetivo é conquistar eleitores que não votaram em Pelegrino no primeiro turno, os comícios com a presença de Dilma Rousseff (na noite da sexta-feira passada) e Lula (amanhã) foram marcados para bairros populares – Cajazeiras X e Paripe, respectivamente. >
“O comício na Castro Alves, como fizemos no primeiro turno, só vai quem é militante, que já decidiu votar em Nelson”, ressalta um dos coordenadores da campanha petista. Como contraponto, a propaganda do PT busca mostrar ACM Neto como alguém que “não faz nada sozinho”. >
Já a campanha do democrata elegeu como estratégia principal demonstrar que a força do candidato está em sua competência e na sua disposição para se aproximar dos problemas da cidade. Na TV, imagens das dezenas de caminhadas realizadas no segundo turno, mostrando ACM Neto se comprometendo com a ampliação do Bolsa Família, creches e projetos para feirantes e ambulantes. “A campanha nos ensina também. Na campanha como está sendo feita, evidente que ele sairá conhecendo muito mais a cidade, seus problemas e tendo capacidade para resolvê-los”, destaca o presidente estadual do DEM, José Carlos Aleluia, um dos coordenadores da campanha do democrata. >
Para contrapor o argumento de que ACM Neto teria dificuldade de garantir recursos federais e estaduais, a estratégia é a de mostrar que há exemplos no país de políticos de oposição que não foram perseguidos e são bem avaliados, como Beto Richa (PSDB), governador do Paraná. Para minimizar os apoios recebidos pelo adversário, nada de ataques a Dilma e Lula, que são bem avaliados pela população. >
“Não é o PT, queremos mostrar que Jaques Wagner é que implantou na Bahia uma forma fracassada de governar. Ele fracassou e Pelegrino pretende transformar a prefeitura numa secretaria do governo, quer ser a continuação do fracasso. Se o modelo gerencial da Bahia tivesse dado certo, eles teriam ganhado no primeiro turno”, pontuou Aleluia. >
Já Sidônio Palmeira, marqueteiro da campanha de Pelegrino, prepara para o horário eleitoral ações que reforcem a parceria de Pelegrino com os governos estadual e federal.Colaborou Jorge Gauthier>