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Quanto custam e como são feitos: o mercado dos jingles a duas semanas do início da campanha

Produtores musicais têm apostado na divulgação nas redes sociais para conquistar os candidatos

  • Foto do(a) author(a) Carolina Cerqueira
  • Carolina Cerqueira

Publicado em 4 de agosto de 2024 às 05:00

Empresário Daniel Borges faz cerca de 30 jingles por dia e quer chegar a mil até o fim das eleições deste ano
Empresário Daniel Borges faz cerca de 30 jingles por dia e quer chegar a mil até o fim das eleições deste ano Crédito: Divulgação/Lobo Hits

É aceitável não lembrar de nenhuma fórmula matemática, mas, certamente, um jingle estará sempre na ponta da língua. Velhos guerreiros da propaganda, foram incorporados pelo universo político e aquecem o mercado musical em anos eleitorais, podendo custar R$30 mil. A menos de duas semanas do início das campanhas, os produtores se viram como podem para atender o maior número possível de candidatos.

O empresário José Patrício Neto, de 45 anos, coordena a banda paraibana Vilões do Forró e o cantor Vaqueiro Karkará, que faz carreira solo. Os dois núcleos estão focados nos jingles em 2024, mas não deixaram de cumprir as agendas regulares. “A gente montou um estúdio dentro do ônibus para poder trabalhar nos jingles sem deixar de fazer os shows na estrada”, conta.

José Patrício dá as ideias, os músicos compõem, gravam e fazem a mixagem e masterização, completando a linha de produção. Ao todo, são 26 pessoas na equipe e são cobrados, por jingle, valores entre R$2 mil e R$10 mil. Este ano, eles já fizeram 50 jingles e a meta é chegar a, no mínimo, 200.

Nas últimas eleições municipais, em 2020, a banda Vilões do Forró, junto com o Vaqueiro Karkará e ainda o compositor César Araújo, foram responsáveis pelo sucesso “O Homem Disparou”, um jingle em ritmo de pisadinha que ganhou o Brasil, sendo usado por candidatos de diversos partidos e até para propaganda do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na candidatura à reeleição em 2022. Para este ano, eles querem emplacar novamente.

A meta do dono da produtora baiana Hills Produções, Daniel Borges, de 33 anos, também é alta. O objetivo para 2024 é alcançar a marca de mil jingles vendidos. Para isso, está fazendo entre 20 e 30 por dia e conta com uma equipe de 25 pessoas e um estúdio próprio.

Daniel conta que começou a operação para as eleições desde janeiro de 2024, com foco nas pré-campanhas, que não têm datas estipuladas por lei. Com o início das convenções no dia 20 de julho, para anúncio dos candidatos, o trabalho foi intensificado e, segundo ele, deve chegar ao ápice nas próximas semanas.

O início da propaganda eleitoral será no dia 16 de agosto, então Daniel corre contra o tempo, trabalhando da hora que acorda até quando vai dormir por saber do potencial financeiro das eleições. São os jingles dele que são vendidos a partir de R$1 mil e podem chegar a R$30 mil.

“Eu trabalhava na indústria e, quando fui demitido, em 2012, um candidato a vereador me perguntou se eu sabia fazer jingle. Eu não sabia, mas respondi que sim. Fui lá, fiz e ele ganhou. Assim fui chegando ao mercado e, no ano que abri a produtora, em 2016, fiz 80 jingles”, lembra.

Hoje, Daniel vende as músicas curtas que grudam na cabeça não só na Bahia, mas para candidatos de todos os estados do país. A conquista que ele comemora este ano foi ter chegado à cidade de São Paulo, vendendo um jingle para a equipe do candidato à prefeito Guilherme Boulos (PSOL). “O pessoal dele nos achou no TikTok. Viram um vídeo com um jingle que fizemos, gostaram e pediram a adaptação para o nome dele”, compartilha.

O ritmo da música é o lambadão, uma lambada acelerada, com inspiração no axé. “É um grande sucesso atual no Brasil todo. O lambadão e o pagode vendem muito”, afirma. A voz escolhida pela equipe de Boulos foi a do cantor Lambaloca, um dos parceiros da produtora disponíveis no “cardápio” de opções. Também há nomes como Oh Polêmico, A Dama, O Kannalha, La Fúria, Robyssão, A Chapa e Zé Paredão.

O que tem um bom jingle?

O ritmo certo é um dos pré-requisitos que um bom jingle precisa cumprir, como analisa o cantor, compositor e produtor musical da Banda Maderada, Juliano Maderada, de 50 anos. Ele, que mora em Iguaí, no sudoeste baiano, é o responsável por boa parte dos jingles de sucesso do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

“O pagode agrada muito, mas também faço com piseiro, brega funk, forró. O ritmo é importante, mas tem que casar com a letra boa. Tem que ter uma mensagem curta e objetiva, não tem tempo para contar a história do candidato”, afirma.

“Nem sempre uma boa música é um bom jingle. Às vezes, é bonito e legal, mas a pessoa não lembra depois do nome e número do candidato. De outras vezes, a música é enjoada, mas a pessoa não consegue esquecer. Aí a missão foi cumprida. Se o jingle conseguir unir as duas coisas, perfeito”, acrescenta Juliano.

Jingle nas redes sociais

Os conhecimentos do produtor musical o fizeram construir um nome no mercado e ter candidatos que o procuram por isso, mas ele tem investido nas redes sociais para conquistar ainda mais clientes. “Eu e uma outra pessoa que me ajuda fazemos os vídeos e soltamos no TikTok, Instagram e YouTube”, diz.

Estes vídeos funcionam como demonstrativos dos jingles genéricos publicados para chegar até os candidatos e fazê-los entrar em contato para comprar a adaptação. Esse é o modelo mais barato, mas também há a possibilidade da compra de um jingle exclusivo, feito do zero e sob medida.

Trabalhando das 7h às 22h, Juliano diz que vai manter a divulgação nas redes até outubro. “Tem candidato procurando até no final porque pode acontecer uma reviravolta, ele pode querer explorar um fato novo ou se defender de uma acusação. Se o cliente pede, a gente faz. Se ele quer um jingle para amanhã, a gente se vira nos 30 e entrega”, compartilha.

O empresário José Patrício Neto acrescenta que, além da confecção do jingle e da divulgação com vídeos nas redes, há também a etapa de disponibilização nas plataformas de áudio, como Spotify, e na playlist do Instagram e TikTok para que os eleitores possam, eles mesmos, utilizar a música para gravar os próprios vídeos e fazer uma propaganda orgânica do jingle.

Já o empresário Daniel Borges compartilha que buscou capacitação na área de marketing digital e passou a investir em tráfego pago (anúncios nas redes sociais). “A gente vem fazendo um trabalho muito forte no TikTok, chegando a vídeos com mais de um milhão de visualizações. Eu vinha tentando administrar tudo, mas, para este ano, contratei um social media para o time para melhorar ainda mais nossa atuação nas redes”, finaliza.

Regras para os jingles

Por: Matheus Maciel, advogado especialista em Direito Eleitoral, membro da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep)

*Eles podem ser tocados ainda no período de pré-campanha, contanto que não tenham pedido explícito de voto do candidato. Passível de multa

*Não podem ser tocados em trios elétricos em locomoção (apenas se estiverem parados) e em carros de som em circulação isolada nas ruas (apenas se estiverem sendo usados em atos políticos). Passível de multa

*Quando usados nas redes sociais, são sujeitos às regras de campanha do meio, ao qual a Justiça Eleitoral está cada vez mais atenta

*Podem conter crítica política, mas não atingir a honra do candidato. Injúria, calúnia e difamação são crimes e podem ser denunciados pelos ofendidos ou pelo Ministério Público. Além da proibição da veiculação e retirada do ar, o candidato poderá ser punido com multa e prisão

*Uma resolução do TSE de 2024 coloca obstáculos no uso de paródias musicais, possibilitando aos autores que pleiteiem na Justiça para que a composição não seja parodiada sem autorização

*O eleitor que identificar irregularidades pode reportar ao TSE através do aplicativo Pardal